Programa da Eletronuclear e Uerj garante bem-estar e sobrevivência dos animais
ANGRA DOS REIS/RJ - Emoção e alívio. Os sentimentos descrevem o momento em que duas tartarugas são devolvidas ao oceano pelo Programa Tartaruga Viva, na quinta-feira (22). Loirinha e Paçoca, como são conhecidas, foram resgatadas e reabilitadas pela iniciativa, promovida pela Eletronuclear e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) desde 2018. O evento reforça a importância da preservação das espécies e contribui para a manutenção do equilíbrio marinho.
A primeira a ser localizada foi Loirinha. A tartaruga, que passou cerca de três meses sob os cuidados de profissionais do projeto, foi resgatada boiando e não conseguia se alimentar sozinha, após grande ingestão de lixo. O material foi completamente eliminado, depois de longo tratamento, e agora ela está saudável. Paçoca também pôde voltar ao mar recuperada, permanecendo menos de um mês com a equipe para tratamento de uma infecção que provavelmente causou a baixa mobilidade.
Durante o processo de recuperação, as tartarugas receberam os cuidados para que pudessem retornar ao habitat natural. Medicações, vitaminas, alimentação adequada por sonda, por introdução direta e indireta, e uma série de exames foram necessários para identificar e tratar os problemas de saúde dos animais.
“De 2021 a 2030 existe uma agenda global em prol da conservação e o uso sustentável dos oceanos. O Tartaruga Viva é alinhado totalmente a esse objetivo. Para isso, contamos com o comprometimento da equipe e o apoio da Eletronuclear, que abraçou a causa e demonstra uma preocupação genuína com a biodiversidade local”, conta o coordenador do programa e diretor da faculdade de oceanografia da Uerj, Marcos Bastos.
Todo o tratamento foi realizado pela equipe de especialistas da Uerj, formada por veterinários, biólogos e técnicos em biologia, além de estagiários, que trabalharam para garantir o bem-estar e sobrevivência dos animais. Para finalizar a missão, entretanto, foi preciso aguardar as condições ideais do mar, além de outras precauções e protocolos de segurança para soltura das tartarugas.
“Para nós é uma felicidade enorme realizar essa soltura. Loirinha e Paçoca chegaram muito debilitadas. Graças a nossa equipe, que trabalhou incansavelmente, as tartarugas estão bem. Se pensarmos que a cada mil tartarugas, apenas uma chega a fase de reprodução para manter a espécie ocorrendo, entendemos a importância da recuperação das duas”, celebra a co-coordenadora do programa, Mônica Dias.
Loirinha e Paçoca foram encontradas na região da Piraquara de Fora, em Angra dos Reis, por colaboradores da Eletronuclear que acionaram o programa. Pertencentes à espécie Caretta caretta e com cerca de 15 a 20 anos de idade, as tartarugas, agora recuperadas, chamam atenção para a responsabilidade de todos em proteger e cuidar do meio ambiente.
“As tartarugas marinhas não sabem distinguir o lixo da comida, então se alimentam de tudo que estiver boiando. Infelizmente, nossos mares estão cheios de plásticos. Assim como a Loirinha, cerca de 80% das tartarugas chegam no programa mortas ou defecando lixo”, explica a bióloga do programa, Naiara Tessaro.
Além da poluição dos oceanos, a interação com resíduos de pesca e o atropelamento por embarcações também colocam em risco a proteção dos animais. Por isso, é possível encontrar tartarugas mortas ou vivas, boiando e encalhadas na praia. Nessas situações, é preciso acionar ajuda especializada, como o programa Tartaruga Viva, que conta com o apoio da população através do telefone 0800-204-4041.
O projeto realiza o monitoramento dessas populações marinhas na área de influência das usinas nucleares de Angra dos Reis, na Baía de Ilha Grande. Além do resgate e atendimento veterinário das tartarugas, as atividades da iniciativa também incluem educação ambiental na região, coleta de dados, monitoramento da saúde dos animais, registro da ocorrência de encalhes e determinação da causa da morte de algumas espécies.
“Esse programa é mais uma frente de trabalho da Eletronuclear para atender às necessidades socioambientais de Angra dos Reis e cidades vizinhas à Central Nuclear. Em parceria com a Uerj, temos a oportunidade de colaborar na preservação da vida marinha local e incentivar a educação ambiental na Costa Verde Fluminense, e quem sabe, em todo o Rio de Janeiro”, pontua Eduardo Grand Court, presidente da Eletronuclear.
Ao todo, entre 2018 e 2023, o projeto realizou a captura de 121 tartarugas marinhas para fazer a amostragem populacional e averiguar o estado de saúde dos animais. Além disso, foram recebidos 192 acionamentos para auxiliar animais encalhados. Destes, 160 já estavam mortos, com destaque para infecções ligadas a ingestão de lixo, afogamento, traumatismo causado por atropelamento e interação por pesca entre as principais causas. Com a soltura da Loirinha e da Paçoca, sobe para 13 o número de tartarugas reabilitadas e soltas pela iniciativa no período mencionado.
BROTAS/SP - A Secretaria de Meio Ambiente promove mais um evento "Meio Ambiente no Seu Bairro", com a participação dos condutores de rafting de Brotas. Jogos Ambientais, plantio de árvores são atrações.
Também haverá mutirão de castração de gatos, já cadastrados no banco de dados da Secretaria.
A ação acontece na Praça da Juventude, altos do Campos Prado, Jardim Santa Maria, dia 01/07, a partir das 9h.
ISLÂNDIA - O governo da Islândia suspendeu a caça às baleias, na terça-feira (20), até o final de agosto, em nome do bem-estar animal, abrindo o caminho para o fim dessa polêmica tradição agora praticada em apenas três países.
Além da Islândia, Noruega e Japão são os únicos que permitem a prática.
Os grupos de defesa dos animais e do meio ambiente aplaudiram a decisão. Para a Humane Society International, trata-se de "uma guinada na conservação compassiva das baleias".
"Tomei a decisão de suspender a caça às baleias" até 31 de agosto, disse a ministra da Alimentação, Svandis Svavarsdottir, depois do relatório de uma comissão governamental estabelecer que a caça de cetáceos não cumpre as leis de bem-estar animal da Islândia.
Esse relatório elaborado pelas autoridades veterinárias destaca que a matança dos cetáceos leva tempo demais. Nos últimos vídeos divulgados por essas autoridades, vê-se a espantosa agonia de cinco horas de uma baleia caçada no ano passado.
"Se o governo e aqueles que têm permissão (de caça) não podem garantir os requisitos de bem-estar, esta atividade não tem futuro", acrescentou a ministra, dando a entender que a prática está chegando a seu fim.
"Não há nenhuma maneira 'humana' de matar uma baleia no mar e, por isso, exigimos da ministra que a proíba permanentemente", declarou o diretor da Humane Society International, Ruud Tombrock, em um comunicado.
Para Robert Read, diretor da Sea Shepherd UK, a decisão também representa um "duro golpe" para os países que ainda defendem a prática.
"Se a caça de baleias não pode ser praticada 'humanamente' aqui [...], não pode ser praticada 'humanamente' em lugar algum", afirmou.
A licença de pesca da última empresa de caça de baleias no país, a Hvalur, expira em 2023. A companhia já havia anunciado que esta temporada seria a última, porque a atividade perdeu rentabilidade.
As cotas anuais permitem a caça de 209 baleias-comuns — o segundo maior mamífero marinho depois da baleia-azul — e 217 baleias-anãs. Nos últimos anos, porém, as capturas foram muito mais baixas, devido à diminuição na demanda de carne de baleia.
A temporada de caça às baleias na Islândia vai de meados de junho a meados de setembro, mas é pouco provável que seja retomada após 31 de agosto.
A oposição a essa prática é, agora, maioria entre a população islandesa. Do total de entrevistados, 51% se opõem, contra 42% há quatro anos, conforme pesquisa feita pelo Instituto Maskina. A sondagem foi divulgada no início de junho.
SALVADOR/BA - Comunidades da floresta, periferias rurais e regiões do interior do Brasil estão cada vez mais conectadas nas redes nacionais e internacionais do crime organizado. A ponto de não fazer mais sentido diferenciar violência urbana da rural.
A conclusão é do estudo “Além da floresta: crimes socioambientais nas periferias”, divulgado nesta segunda-feira (19) pela Rede de Observatórios da Segurança. O projeto reúne pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Nessa perspectiva, ganha destaque o processo de dominação de territórios no norte e nordeste por facções criminosas do sudeste. O que inclui tanto as áreas de fronteiras, quanto as cidades pequenas, os centros urbanos, os quilombos e as aldeias indígenas. Nos últimos anos, houve crescimento e diversificação de atividades ilegais. Além das microcriminalidades, como roubos de motos e celulares, há conflitos armados entre grupos rivais, tráfico de drogas e exploração ilegal de insumos florestais.
A pesquisa reúne dados obtidos via Lei de Acesso à Informação com as secretarias de segurança pública de sete estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Ela mapeia tanto os crimes cometidos contra populações tradicionais, como quilombolas e indígenas, quanto os crimes ambientais (grilagem de terras, exploração ilegal de madeira e garimpo em áreas não autorizadas).
Apesar da variedade e da complexidade desses problemas nos estados, os pesquisadores indicam que as autoridades insistem em um modo único de ação: o modelo de segurança pública baseado na guerra às drogas. O que acaba produzindo o mesmo cenário de racismo e encarceramento da juventude negra.
“É necessário fugir do modelo bélico do combate às drogas e às ilegalidades. E, principalmente, estabelecer contenções ao tipo de desenvolvimento que destrói a vida na floresta. Mostra-se importante fortalecer os órgãos de prevenção da destruição e incluir no centro do diálogo organizações indígenas, rurais e ribeirinhas, além dos movimentos de periferia urbanos que lutam por direitos sociais”, defende Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança.
A pesquisa aponta o Pará como uma região emblemática das novas configurações do crime no país. As redes do narcotráfico - lideradas por facções do Rio de Janeiro e São Paulo - chegaram em diferentes municípios do interior. Altamira, Marabá, Parauapebas, Jacareacanga, Floresta do Araguaia e Senador José Porfírio são exemplos citados como rotas importantes de drogas, mas também de exploração de madeira, contrabando de manganês e cassiterita, grilagem de terras e avanço do garimpo ilegal. As atividades estão intimamente conectadas por meio da ação dessas organizações criminosas e do uso dos mesmos portos e vias de escoamento.
No caminho, comunidades tradicionais do estado sofrem com a violência gerada por essas atividades ilegais. Os dados obtidos com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará mostram aumento a cada ano dos crimes contra povos indígenas e quilombolas entre 2017 e 2022. No total, foram 474 vítimas de crimes contra a vida, violações sexuais e patrimoniais.
No Ceará, pesquisadores criticam a forma como o governo estadual produz os dados. Só foram disponibilizadas informações genéricas sobre crimes ambientais, que totalizaram 6.995 ocorrências entre 2017 e 2022. Mas não foi possível analisar os tipos criminais, os grupos atingidos ou perfil das vítimas.
No Maranhão, os principais problemas verificados foram as violações aos biomas nativos da região e exploração dos territórios de comunidades tradicionais para fins lucrativos. Entre 2020 a 2022, o estado teve aumento de 28,93% nos registros de crimes ambientais, com 2.568 ocorrências. E os principais tipos são relacionados à exploração ilegal de madeira e à devastação de floresta nativa.
Em Pernambuco, crimes socioambientais cresceram nos últimos dois anos. Foram de 800 casos por ano para uma média de mais de mil. As principais ocorrências referem-se a incêndios florestais e maus tratos contra animais. Dados sobre quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais não foram enviados pela Secretaria de Defesa Social.
No Rio de Janeiro, há destaque para a exploração das milícias e redes do tráfico de animais silvestres. Dados do Instituto de Segurança Pública mostram 21.476 casos de crimes ambientais 2017 e 2022. A capital do estado do Rio teve o maior número de casos (4.783), com aumento de 52,23% entre 2017 e 2022. Os números são sete vezes maiores do que a segunda colocada, a cidade de Maricá, com 684 registros. O terceiro lugar ficou com Duque de Caxias (613 casos).
Em São Paulo, há destaque para a expansão da degradação de territórios verdes ligados ao tráfico de animais e construções imobiliárias, além do caso peculiar de guerra política contra as pichações como principais crimes socioambientais. Entre 2017 e 2022, foram 34.772 ocorrências. Os crimes cometidos especificamente contra animais, florestas e pichações concentraram mais da metade dos registros (56,70%).
Por Rafael de Carvalho Cardoso - Repórter da Agência Brasil
EUA - Meteorologistas preveem um El Niño forte este ano, o que, combinado com a aceleração do aquecimento global, deve levar a um recorde de temperaturas máximas já registradas no planeta Terra. O fenômeno, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, impacta o clima mundial, podendo causar furacões no Atlântico e ciclones no Pacífico. Ele teve início no último dia 8 e deve ir até agosto.
Um alerta da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), chama atenção para uma pesquisa publicada na revista Science que mostra danos econômicos de US$ 84 trilhões neste século, o equivalente a R$ 413 trilhões, mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas.
Esses prejuízos seriam oriundos da perda de safras motivada por secas extraordinárias e pela escalada de doenças tropicais, logo, a perspectiva ainda é pior pra países tropicais, como o Brasil.
Em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira, 12, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Cadu Yang comentou os impactos esperados para o El Niño de 2023. Confira:
Como você avalia o estudo publicado na Science sobre os impactos econômicos do El Niño? Eles podem chegar a essa proporção, de fato?
Infelizmente, nós já estamos prevendo situações extremas para os próximos anos, em função da perspectiva de que, depois de anos de La Niña, que no caso brasileiro representaram chuva em abundância, nós vamos viver o fenômeno do El Niño, que esse caracteriza por um aquecimento de águas extraordinário no Pacífico. Isso traz consequências sobre o clima em toda América do Sul – aliás, em todo o planeta -, o que significa, no nosso caso, uma probabilidade maior de eventos extremos de seca nas partes mais continentais.
Nós teremos um agravamento dos períodos de estiagem, mas também uma maior instabilidade, ou seja, uma maior possibilidade de eventos como inundações e alagamentos e, associado a isso, deslizamentos de terra, entre outros problemas dessa natureza. Além disso, teremos uma alteração na propagação de vetores de doenças tropicais, o que também está associado essa alteração no que podemos chamar de “normalidade climática”.
O que esse valor, de mais de R$ 400 trilhões, representa para um País ou continente?
Eu trabalho bastante produzindo estatísticas como essa e quando a gente fala em um número dessa magnitude, estamos falando de uma ordem de grandeza. A leitura que se deve fazer é: preparem-se para grandes desastres, grandes eventos extremos que terão grandes consequências econômicas.
Nós temos hoje uma ocupação agrícola, em grande parte do território nacional, que depende muito de um regime adequado de chuvas. Por isso, uma alteração desse regime de chuvas trará consequências sobre essa produção. Mas é claro que, quando o evento ocorrer, a capacidade de adaptação ao evento é diferenciada e por isso eu acho que, mais importante do que o tamanho dessa magnitude, é a distribuição desse efeito, que tende a ser bastante assimétrica e concentrada nos indivíduos de maior fragilidade social.
Nós fizemos, há um tempo atrás, um estudo sobre o semiárido do nordestino em que pegamos os grandes eventos de seca na região e verificamos qual foi o impacto disso na produção agrícola, medindo pela perda de área que foi plantada e não foi colhida. O que identificamos é que, além dessa perda ser grande nos anos de escassez hídrica, ela se concentrou muito em culturas como milho e feijão, que são típicas do agricultor familiar de subsistência, enquanto a produção comercial irrigada sofreu muito menos. Ou seja, além do problema do tamanho, que vai ser grande, temos o problema da distribuição desigual.
Olhando para outra área, como a área dos desastres, os nossos estudos – apenas com eventos de chuva, sem considerar seca – feitos há dez anos atrás estimavam que as perdas no Brasil já estavam chegando a 2% do PIB. Só que essas perdas estão muito mais concentradas em comunidades que moram próximas a rios ou em áreas de encosta, que sofrem o risco de deslizamento. São pessoas que sabem do risco, mas não têm capacidade financeira de se deslocar e isso vai criando um efeito “bola de neve”, trazendo consequências, por exemplo, para a prefeitura, já que ela vai ter que dar uma solução para esse desabrigado, vai ter que arcar com a reconstrução e com o próprio trabalho de resgate das vítimas.
Tudo isso tem um custo fiscal. Então, quando você imagina sistemicamente esses eventos extremos acontecendo com uma frequência maior e com mais intensidade, há impacto em diversas frentes. A princípio, o El Niño e as mudanças climáticas são tratados como elementos separados, mas um reforça o outro. Num contexto de aquecimento global, os efeitos de um El Niño serão amplificados e é por isso que a gente espera impactos sobre toda a sociedade brasileira.
Ainda que diretamente os afetados estejam numa determinada condição, a necessidade de lidar com o desastre vai trazer consequências, para a questão fiscal, para os preços – porque uma quebra de safra vai resultar na elevação do nível de preço – e por aí vai.
O que podemos fazer para nos prevenir, do ponto de vista econômico e social?
A gente precisa tratar com muito mais seriedade e urgência as questões ambientais e climáticas. A gente não pode se dar o luxo de o Congresso Nacional decretar que não existe mudança climática e que não existe é El Niño. As áreas protegidas, naturais, são áreas que garantem resiliência ao sistema. Se eu vou ter uma alteração no regime hídrico, eu preciso proteger a calha do rio. Como faço isso? Aumentando a área de floresta. Eu preciso proteger as encostas. Como? Aumentando a vegetação nativa e impedindo que as vegetações nativas existentes sejam removidas.
É preciso aumentar a nossa capacidade de lidar com eventos extremos por meio de soluções baseadas na natureza. É fundamental entender que a política ambiental é uma política de defesa para a nossa sociedade e para a nossa economia. E o que nós estamos vendo de ataque, de desmonte ambiental, que ocorreu com intensidade no governo anterior, mas que persiste em grupos hoje, em particular ligados ao Congresso Nacional, de pressionar ainda mais para remover essa proteção natural, é claramente uma política que vai trazer resultados ruins.
Por exemplo, a questão de água: como você impede novas grandes secas, lembrando, por exemplo, que São Paulo sofreu muito recentemente e teve que captar no volume morto? Você protege a água através do sistema de corpos hídricos que vão até o ponto de captação por meio da proteção da floresta. O imperador Dom Pedro II, por exemplo, sabia que no Rio de Janeiro – à época, capital – faltava água e o que ele fez? Ele mandou reflorestar a floresta da Tijuca para proteger o manancial que abastecia a cidade. Esse é um conhecimento antigo, não precisamos de grande ciência para saber que a proteção ambiental é a melhor maneira para prevenir desse tipo de desastre.
Acho que a principal mensagem é dar maior prioridade às questões ambientais, porque elas se referem essencialmente à defesa do ser humano, das nossas comunidades e das nossas atividades produtivas.
O que o governo tem feito de errado neste sentido?
Além do afrouxamento na Lei que trata do desmatamento da Mata Atlântica, que veio do Congresso e teve apenas um trecho vetado pelo presidente Lula, um outro mau exemplo de política que tá acontecendo é com relação às terras indígenas. As terras indígenas não pertencem aos indígenas, elas pertencem ao governo, são terras públicas, de todos nós e que têm uma característica muito importante: são terras com elevada taxa de conservação.
O porcentual de remanescente florestal em terras indígenas é mais alto até do que das unidades de conservação. Então, esse ataque que está sendo feito às terras indígenas é também um ataque aos serviços ecossistêmico que essas florestas estão protegendo. As populações indígenas, pela relação tradicional que têm com esses espaços, garantem essas áreas protegidas.
Se mantivermos essa visão de crescimento a qualquer custo, de que qualquer área que possamos transformar em pasto, transformar em área de cultivo, fazer uma hidrelétrica, será convertida, não sobrará resiliência para lidar com os eventos pelos quais a natureza já está cobrando a conta. E nós viveremos situações que cada vez mais dramáticas por causa das mudanças climáticas.
Uma elevação do nível da temperatura global acentua ainda mais os fenômenos de natureza cíclica, como El Niño e a La Niña, com consequências para as sociedades humanas que, como mostra o número, são de imensa magnitude. Isso vai afetar a todos nós e principalmente aqueles que são mais frágeis.
Você vê uma ação coordenada globalmente com possível protagonismo do Brasil?
Eu acho que, globalmente, nós temos sim que recuperar esse protagonismo. Teremos uma grande oportunidade com a COP, o principal evento do clima, que vai ocorrer em Belém do Pará. Isso vai trazer uma visibilidade importante, mas é importante lembrar que o nosso meio ambiente não é apenas na Amazônia. É importante a gente perceber que Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa, todos os biomas estão sofrendo. O Pantanal já teve uma redução de cerca de um terço na área alagada, ou seja, secou em um terço e a gente perdeu uma riqueza extraordinária com isso.
As ações precisam vir de todos, inclusive do setor privado. A gente tem uma série de possibilidades através do pagamento do serviço ambiental, com a possibilidade de criação de mercados regulados de crédito de carbono, que criam possibilidades de negócios a partir da conservação. Mas para isso é fundamental que a gente interrompa o ciclo da destruição e pare com essa ideia de que se tem petróleo, ele tem que ser extraído, não importa onde ele está, de que se tem um potencial hidrelétrico, tem que ser alterado a cara do rio, não importa o que eu vou fazer com essa energia. Essa visão de que não há uma finitude da nossa capacidade de ação tem trazido consequências muito ruins e a gente está percebendo isso já no dia a dia.
O estudo diz que o prejuízo calculado virá mesmo com o cumprimento das promessas de cortes de emissão de gases do efeito estufa. Isso significa que o problema pode ser ainda maior se elas não forem cumpridas?
Uma grande tragédia das questões climáticas é que o tempo em que o planeta responde é muito diferente do tempo das nossas ações. É mais ou menos como o processo de degelar uma geladeira: você abre a porta e ela não vai ter degelar imediatamente, ela vai perdendo temperatura aos poucos e isso vai ganhando um elemento gradativo.
Com o aumento da concentração de gás de efeito estufa que nós já colocamos na atmosfera, a temperatura vai aumentar de qualquer jeito. O que a gente está tentando fazer é reduzir o tamanho desse crescimento, que será percebido muito mais pela geração que ainda nem nasceu. A gente não está pensando aqui nem nos nossos filhos, mas sim nos netos que virão.
Tudo isso trará consequências para essas sociedades do futuro, em uma dimensão muito maior. Então, o que a gente tem que ter é o princípio da precaução. O problema é que a gente é muito focado no curto prazo e quando o efeito demora a ser percebido, nós o entendemos como inexistente e continuamos nesse frenesi de mudança climática.
No caso brasileiro, a principal fonte de mudança climática é o desmatamento, mas a segunda é a emissão de metano pela pecuária e a gente continua expandindo o setor como se isso não trouxesse consequências para o planeta. O mesmo vale para o consumo de combustível fóssil, em que a gente ainda acha que a exploração de petróleo vai ser a solução, mesmo na Amazônia.
A gente precisa deixar de ser contraditório e pensar no que será melhor no cenário de 50, 100, 150 anos. Nesse sentido, é fundamental que a gente tenha a participação de uma sociedade mais engajada, mais interessada e mais a par do que tá dizendo a ciência. A gente viveu um período no qual a ciência foi questionada, mas ela respondeu – se a gente não tivesse a ciência, a pandemia de covid-19 teria sido muito pior do que ela foi.
Estamos alertando que essas questões climáticas vão continuar no futuro se a gente não tomar uma presidência. E isso requer uma ação coordenada que envolve todos nós: os governos estaduais, federais, internacionais etc. As prefeituras, por exemplo, vão ser cada vez mais castigadas por esses fenômenos de natureza climática, porque o problema é essencialmente local, onde tem um deslizamento, uma inundação etc. Também como sociedade, tanto como sociedade civil, como sociedade empresarial, a gente tem que pensar que tipo de comprometimento a gente pode ter para que os problemas não sejam tão graves, pensando, principalmente, no futuro.
Voltando à questão das soluções baseadas na natureza, existem soluções que são simultaneamente de redução da concentração de gás de efeito estufa e de adaptação ao que a gente vai ver daqui para frente. A gente precisa introduzir essa palavra, adaptação, às mudanças climáticas. Como já está dito, a temperatura vai subir e os eventos climáticos acontecerão com mais frequência e o que a gente precisa fazer é se adaptar, se preparar para isso com um espaço adequado e soluções baseadas na natureza.
FRANÇA - Das selfies feitas perto da Torre Eiffel até as caminhadas em Montmartre, há muitas razões para Paris ser uma das cidades mais visitadas do mundo. Nunca é demais, para os turistas, visitar o Museu do Louvre, o Arco do Triunfo ou a Catedral de Notre-Dame.
Mas há um outro lado bem menos glamouroso da capital francesa que não pode ser ignorado: o trânsito caótico, o barulho e o lixo. Essas características desagradáveis são um empecilho para muitos parisienses.
Felizmente, um número cada vez maior de iniciativas sustentáveis busca combater isso: desde áreas industriais transformadas em parques até aplicativos que promovem caminhadas no lugar dos ônibus turísticos.
Estação vira fazenda urbana
Projetos de sustentabilidade em Paris se estendem também ao mundo da moda. Nas muitas lojas de roupas de segunda mão da cidade – muitas delas localizadas no bairro de Marais, no centro – as peças facilmente encontram novos proprietários.
Enquanto isso, no 18º distrito, ao norte, o projeto de ecocultura Recyclerie fica na antiga estação de trem de Ornano.
"O prédio era uma antiga estação do Petite Ceinture [Pequeno Cinturão], a [linha férrea] antecessora do metrô na cidade. A estação foi usada de diferentes maneiras ao longo dos anos, inclusive como sede de um banco. Queríamos manter o espaço e lembrar as pessoas do passado da estação", diz Marie-Eugenie Chanvillard, diretora da Recyclerie, que começou em 2014 com a missão de promover a ecorresponsabilidade e a justiça social.
O Petite Ceinture era uma linha ferroviária de 32 quilômetros que circundava Paris. Em 2007, uma primeira parte foi transformada em área para pedestres. Depois, o mesmo ocorreu em outras partes. Com o passar dos anos, a natureza começou a tomar conta e os trilhos se tornaram um grande espaço verde, recentemente desenvolvido para uso público.
Na França, as chamadas Recycleries referem-se a locais onde equipamentos não funcionais são consertados e revendidos – e, por isso, contam também com oficinas.
A temática da sustentabilidade é incrementada com uma cafeteria, jardins urbanos e até mesmo a venda de alimentos orgânicos e vinho natural. Os antigos trilhos são agora um aconchegante jardim coletivo onde, na fazenda urbana do espaço, há também uma horta e um galinheiro.
Trilhos se transformam em parque
A Recyclerie não é o único lugar em Paris onde um trilho de trem foi transformado em um espaço ao ar livre para as pessoas aproveitarem. O Coulée verte René-Dumont é um parque elevado de quatro quilômetros de extensão em uma linha ferroviária desativada que começa nas proximidades da Praça da Bastilha, no centro da cidade.
Não é surpresa que trilhos tenham novas utilidades. As linhas de trem têm lugar cativo na capital francesa, especialmente porque o principal meio de transporte da cidade é o metrô. Apesar do que o grande número de carros nas ruas possa sugerir, Paris tem uma extensa rede de transporte público que conecta os subúrbios e o centro – e é constantemente ampliada.
Mudanças antes das Olimpíadas
Nos últimos anos, alguns parisienses passaram a usar bicicletas em seus deslocamentos para o trabalho, aproveitando a rede de ciclovias que continua a ser ampliada. A Rue de Rivoli, entre o Museu do Louvre e a Praça da Bastilha, por exemplo, foi convertida em ciclovia há apenas três anos.
Em preparação para os Jogos Olímpicos de 2024, Paris também está planejando várias mudanças ambientalmente conscientes nas áreas mais movimentadas da cidade, incluindo a Place de la Nation. A administração municipal espera reduzir o tráfego nos pontos turísticos e oferecer mais espaço para os pedestres. A área ao redor da Torre Eiffel, por exemplo, será ampliada e terá jardins.
Pausa na selva urbana
No subúrbio de Pantin, no sudeste de Paris, o Cité Fertile é outra área onde o velho encontra o novo. A antiga estação de carga fica em um grande terreno que atualmente tem cervejaria, estufa, restaurante, salas de trabalho e cerca de 250 espécies de plantas.
Esse oásis urbano foi criado há quatro anos como parte do ecoquartier Pantin, um projeto focado em criar um bairro urbano ecológico e que também é popular entre os moradores locais.
"Aos domingos, muitas famílias vêm para a Cité Fertile. Fica bem ao lado, ao ar livre, e é um ótimo lugar para passar o tempo", diz Helene Flourac, responsável pelo desenvolvimento e pelas parcerias do projeto.
Tanto a Recyclerie quanto a Cité Fertile são considerados refúgios da agitada metrópole que é Paris, bem como lugares para se explorar a criação de perspectivas sustentáveis. Além de festivais no verão, o Cité Fertile organiza diversas sessões de esportes e é uma plataforma para tópicos político-ambientais.
O objetivo é reunir conceitos de diversas áreas sobre sustentabilidade: "Eventos ecologicamente projetados são uma questão real para a cidade do futuro", afirma Flourac.
Pela cidade com um app
Hoje em dia, não é mais necessário embarcar em um ônibus clássico de turismo para conhecer Paris. Uma opção mais sustentável para os turistas é um aplicativo chamado Balades Paris durable (Caminhadas na Paris Sustentável). Desenvolvido pela própria cidade, o app permite que as pessoas explorem as áreas verdes de Paris a pé, sem pressa, e inclui mais de duas dúzias de rotas que passam por quase todos os bairros parisienses.
Com extensão de dois a cinco quilômetros, cada caminhada tem diferentes pausas no mapa. O aplicativo exibe imagens e informações sobre os recursos sustentáveis encontrados pelo caminho: desde fontes de água potável até hortas comunitárias locais. As rotas levam, por exemplo, a bairros como o de Clichy, com seus edifícios projetados para economizar energia.
Em outros locais verdes, como o Parque Buttes Chaumont ou o famoso cemitério Père Lachaise, é possível usar o app para conhecer melhor as espécies de animais e plantas da cidade. Algumas pausas apontam para bairros conhecidos do centro histórico, mas para locais onde é menos provável que os turistas observem mais de perto. Assim, os usuários podem descobrir paraísos verdes escondidos nas margens do Sena que passam despercebidos em um passeio turístico convencional.
Paris é notável por seus lugares e inovações que mostram como a sustentabilidade pode ser explorada em uma metrópole de 2,1 milhões de pessoas. Se os turistas farão uso disso – ou se continuarão visitando apenas locais clássicos –, fica a critério deles.
Kim-Aileen Sterzel / DW.com
SÃO PAULO/SP - Os parques estaduais de São Paulo receberão investimentos de R$ 36,9 milhões para revitalização de cinco unidades de conservação, com potencial para o turismo ecológico. Entre eles, está o Parque Estadual Ilha Anchieta, que está aberto à visitação desde abril. O anúncio foi feito na segunda-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, pelo governo estadual durante a apresentação do novo Plano de Meio Ambiente. Ao todo, o plano prevê R$ 2,13 bilhões em recursos públicos e privados, e mais R$ 5,6 bilhões já previstos para o programa IntegraTietê até 2026.
O maior investimento será nas ações de biodiversidade, com R$ 1 bilhão. Pelas estimativas do governo estadual até 2026, 37,5 mil hectares de vegetação serão restaurados por meio de seis programas, como o Refloresta São Paulo e o Conexão Mata Atlântica.
“Outra ação prática é o ICMS Ecológico, projeto de lei em que a parcela da alíquota recebida por municípios que protegem áreas de mata ou que possuem mais de 30% do território coberto por vegetação nativa aumenta de 1% para 2%. Assim, o potencial de destinação às cidades que mais preservam a natureza é de R$ 732 milhões por ano”, diz o governo estadual.
No eixo de Resiliência e Adaptação Climática, serão destinados R$ 341 milhões para ações de impacto em segurança hídrica sob responsabilidade do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O plano também contempla ações voltadas para a educação e conscientização ambiental.
SÃO CARLOS/SP - Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, a Fundação Educacional de São Carlos (FESC), em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SMMADS), levou no último dia (26/5), 45 alunos do Programa Educacional da Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI) para visitar o sítio Agroecológico São João.
Localizado na Rodovia Domingos Innocentini, às margens do Ribeirão Feijão, manancial que fornece água para São Carlos, a propriedade rural familiar desenvolve no local o Projeto Escola da Floresta. O objetivo é promover a educação ambiental, atendendo durante a semana com atividades relacionadas a essa temática e de vivência rural sustentável, grupos de estudantes de escolas e universidades.
“O sítio agroecológico de propriedade do Flávio Marchesin se tornou referência na proteção e recuperação do meio ambiente na região, com diversos projetos educacionais desenvolvidos no local e agora oferecidos também aos idosos que frequentam a UATI/FESC”, disse o diretor presidente da FESC, Eduardo Cotrim.
O lugar foi reflorestado com árvores nativas e todo o sítio é pensado de forma sustentável. Participaram da visita junto com os alunos, além do diretor presidente da FESC, Eduardo Cotrim, o secretário Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Nino Mengatti.
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Organização das Nações Unidas, mais especificamente pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1974. Anualmente, o Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado em 5 de junho, marcado por uma Conferência das Nações Unidas sobre o tema.
FRANÇA - A França pretende plantar 1000 milhões de árvores adaptadas ao clima futuro até 2030, anunciou a primeira-ministra Élisabeth Borne.
A França está a tomar medidas ousadas para enfrentar os desafios climáticos iminentes, com a implementação de um ambicioso plano de plantio de árvores adaptadas ao clima do futuro.
Plantar 1.000 milhões de árvores.
Até 2030, o país pretende plantar um total de 1000 milhões de árvores, levando em consideração o aumento das temperaturas e as alterações nos regimes pluviométricos, que trazem consigo secas mais frequentes e um maior risco de eventos extremos.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, apresentou os principais objetivos da Estratégia Nacional de Biodiversidade, cujo propósito é tornar a conservação da natureza um “desafio coletivo”. Em comunicado divulgado pelo seu gabinete, Borne expressou a importância de envolver regiões, municípios, empresas e cidadãos na busca por soluções sustentáveis.
Renaturalização urbana e rotulagem ambiental
Um dos desafios enfrentados pelas autoridades locais é a “renaturalização” dos centros das cidades, com o intuito de reintegrar a natureza em ambientes urbanos. Essa abordagem visa restaurar os espaços urbanos, tornando-os mais propícios à biodiversidade e melhorando a qualidade de vida dos seus habitantes.
No que diz respeito às empresas, a França pretende implementar a rotulagem ambiental do vestuário e dos produtos alimentares a partir de 2024. Uma medida que tem como objetivo fornecer aos consumidores informações claras sobre o impacto ambiental desses produtos, incentivando escolhas mais conscientes e sustentáveis.
França quer reduzir pressão sobre a biodiversidade
Um dos eixos fundamentais da estratégia francesa é a redução da pressão sobre a biodiversidade. Para atingir esse objetivo, está a ser gizado um plano que será apresentado nas próximas semanas com o intuito de diminuir o uso de pesticidas. Além disso, a França está a implementar a chamada “artificialização líquida zero”, que consiste em reduzir a taxa de artificialização dos solos.
Através desta iniciativa, a França estabeleceu como primeira meta reduzir em 50% a artificialização dos solos até 2030, substituindo-os por espaços naturais, agrícolas e florestais. É neste conjunto que se integra o plantio de 1.000 milhões de árvores. O objetivo final é atingir uma taxa de artificialização zero até 2050. Isso significa que, até meados do século, qualquer infraestrutura construída em solo natural terá de ser compensada pela recuperação de uma área equivalente anteriormente artificial.
Atualmente, a França perde cerca de 20.000 hectares de solos naturais por ano, uma tendência que se pretende reverter com esta nova estratégia.
por Jorge Montez / TECHENET
RIO DE JANEIRO/RJ - A Mata Atlântica é o bioma brasileiro com maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no país. A constatação é da pesquisa Contas de Ecossistemas - Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil 2022, divulgada no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento tem como base as listas de fauna - elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) - e da flora, produzida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), ambas divulgadas no ano passado.
Segundo o estudo, as duas instituições avaliaram 21.456 espécies de animais e plantas em todos os biomas do país, ou seja, cerca de 12% de toda a biodiversidade brasileira. A partir daí, técnicos classificaram as espécies em situação de ameaça, que pode ser, em ordem crescente de preocupação: vulnerável (VU), em perigo (EM) e criticamente em perigo (CR).
As consideradas “com dados insuficientes (DD)”, “menos preocupante (LC)” e “quase ameaçada (NT)” não são ameaçadas. A categoria NT é o último passo antes de a espécie entrar na classificação VU: vulnerável.
A Mata Atlântica foi o bioma com maior número de espécies avaliadas: 11.811. E também é a área com maior total de espécies ameaçadas: 2.845, ou seja, quase um quarto (24,1%). Segundo o IBGE, 43% das espécies ameaçadas vivem na Mata Atlântica. É também o bioma com mais espécies declaradas extintas: oito, segundo o IBGE, sendo a mais recente a perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum).
Leonardo Bergamini, pesquisador do IBGE, explica que “isso está relacionado com características intrínsecas ao próprio bioma, com muitas espécies endêmicas, espécies com distribuição restrita, mas também existe um fator que é o histórico de ocupação da Mata Atlântica, o bioma com maior histórico de ocupação e maior perda de área nativa. E há um terceiro fator: a maioria das instituições e centros de pesquisa está localizada nesse bioma, então existe uma maior disponibilidade de informações sobre sua biodiversidade, o que permite avaliar melhor o risco de extinção das espécies”.
Em seguida, aparece o cerrado que, com 7.385 espécies avaliadas, teve 1.199 consideradas em risco (16,2% do total). Outros biomas com mais de 10% da vida selvagem ameaçada entre aquelas espécies avaliadas são a caatinga (3.220 ou 14,9%) e os pampas (229 ou 13,7%).
Os biomas com menor número de espécies ameaçadas entre as avaliadas são a Amazônia (503 ou 6%) e o Pantanal (1.825 ou 4,1%).
O IBGE também informou que o total de espécies avaliadas em 2022 aumentou em relação à lista elaborada em 2014. As plantas passaram de 9% do total (4.304) para 15% (7.517), enquanto os animais subiram de 10% (12.009) para 11% (13.939).
“Isso é um bom avanço no sentido de ter um quadro mais completo de como está a situação das espécies do Brasil e, consequentemente, como está a condição dos ecossistemas onde elas ocorrem”, disse Bergamini.
As espécies ameaçadas recuaram tanto na flora quanto na fauna. As espécies de planta com risco de extinção passaram de 47,4% em 2014 para 42,7% em 2022. Já os animais ameaçados caíram de 9,8% para 9% no período.
A queda, segundo o IBGE, pode ser explicada pelo aumento do número de espécies avaliadas.
Em relação aos ambientes, a maior parte das espécies analisadas tanto para fauna quanto para flora é de ambiente terrestre, indo de 65% em 2014 para 70% em 2022. As espécies de água doce passaram de 39% para 37% e as de ambiente marinho, de 16% para 15%.
Por Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil
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