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ÁFRICA - O paraíso às vezes se torna um pesadelo, ou uma bênção. Nós, viajantes não acostumados à dinâmica peculiar dos cruzeiros, fomos surpreendidos na chegada a Pointe aux Piments, um vilarejo de mar azul turquesa, montanhas verdejantes e sol escaldante, nas Ilhas Maurício, um pedregulho no meio do oceano Índico, na costa da África, com a notícia de que o navio que nos levaria adiante não podia atracar no porto.

Um surto de gastroenterite entre alguns passageiros, que a empresa de cruzeiros Norwegian Cruise Line chamou de pequeno grupo com leves sintomas, causou o sequestro do navio por dois dias à beira da ilha. Quem estava a bordo, segundo relatos à imprensa, entrou em pânico.

O principal motivo era não poder desembarcar apesar da praia paradisíaca a metros de distância e o maior motivo ainda a suspeita de cólera a bordo, logo desmentida por uma série de testes em todos os passageiros adoentados, de acordo com relatos da empresa responsável, em comunicado à imprensa.

Os que já estavam em terra firme aproveitaram o mar tranquilo lambendo a costa de conchas e corais, bem à vontade com o cardápio riquíssimo em frutos do mar, afinal, cá estamos numa ilha.

O Norwegian Dawn, navio construído na virada do milênio com 14 andares e capacidade para quase 2.500 passageiros servidos por mais de mil tripulantes, estava pronto para zarpar de Porto Luís na tarde desta terça-feira, com mudanças no itinerário -duas das paradas, em Madagascar, foram canceladas.

A empresa responsável pelo cruzeiro reservou 2.000 quartos de hotel nas Ilhas Maurício para acomodar os passageiros que precisaram desembarcar por causa da limpeza a bordo e os casos de gastroenterite.

Uma tripulante do navio, a ponto de partir de Porto Luís, resumiu o problema a europeus não acostumados ao que chamou de águas não civilizadas. Segundo ela, a África como um todo não é confiável em relação à disponibilidade de água potável, e os casos de contaminação aconteceram em terra, não a bordo, por passageiros que teriam consumido demais bebidas com gelo, comidas cruas e água suspeita no continente.

 

 

SILAS MARTÍ / (FOLHAPRESS)

ÁFRICA - Os casos de cólera estão a aumentar em todo o mundo, segundo a OMS. Sete países são particularmente afetados, muitos deles em África - apesar de, na realidade, ser fácil prevenir a doença, lembram especialistas.

O número de casos de cólera em 2022 duplicou em relação ao ano anterior, de acordo com um relatório recente divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2021, a organização registou cerca de 223.000 infeções de cólera em todo o mundo, de acordo com o relatório. No ano seguinte, registaram-se mais de 472.000 casos em 44 países diferentes.

De acordo com o relatório da OMS, aumentou também a dimensão dos surtos. Sete países registaram, cada, mais de 10.000 casos de cólera em 2022: Camarões, Malawi, Nigéria, Somália; República Democrática do Congo (RDC), Síria e Afeganistão.

Ainda assim, os números de 2022 ainda estão muito abaixo dos casos de cólera registados em 2017 ou 2019. No entanto, a tendência continua a ser de aumento este ano, conclui a OMS.

 

Bactéria contamina água

"Na verdade, a doença da cólera é muito controlável", diz Daniel Unterweger, microbiologista da Universidade de Kiel e do Instituto Max Planck de Biologia Evolutiva em Plön, na Alemanha.

A bactéria da cólera "Vibrio cholerae" não se propaga pelo ar nem infeta as pessoas através do trato respiratório, como acontece com vírus como a gripe ou SARS. A Vibrio cholerae é ingerida por via oral, ou seja, através da boca - o que acontece normalmente através da ingestão de água contaminada com a bactéria.

É assim que as bactérias entram no corpo humano, onde muitas vezes passam despercebidas e não causam quaisquer sintomas na pessoa infetada. No entanto, a pessoa infetada expele a bactéria e, desta forma, pode infetar outras pessoas.

A cólera também pode provocar diarreia grave e até a morte. Mas, em muitos casos, isso poderia ser evitado, porque a cólera pode ser facilmente tratada, diz Daniel Unterweger. Na maioria dos casos, as pessoas infetadas podem ser tratadas com sucesso com um soro contendo sais e açúcar, administrado por via intravenosa ou oral.

Existem também vacinas que podem ser administradas por via oral e que garantem uma boa proteção, pelo menos durante alguns anos. No entanto, de acordo com as estimativas da OMS, todos os anos morrem entre 21.000 e 143.000 pessoas devido a esta infeção bacteriana. A cólera pode ser fácil de prevenir e tratar, mas apenas quando as circunstâncias o permitem.

 

Guerras, catástrofes e fugas

"A cólera é contraída através da ingestão oral da bactéria da cólera. Isto significa que dois fatores têm de estar presentes: Primeiro, a bactéria deve estar presente no ambiente, por exemplo, num rio. E, em segundo lugar, a pessoa tem de entrar em contacto com o rio, por exemplo, bebendo água do rio", explica o microbiologista Unterweger.

A água potável é o pré-requisito mais importante para prevenir as doenças causadas pela cólera. No entanto, as catástrofes naturais, como as inundações na Líbia ou o terramoto em Marrocos, destroem as infraestruturas e aumentam o risco de os esgotos contaminados com fezes entrarem na água potável - e, consequentemente, também na bactéria da cólera.

As guerras podem ter um efeito destrutivo semelhante: não só é negado o acesso a água potável, como também impossibilitado o tratamento atempado da doença da cólera.

 

Efeitos da crise climática

A crise climática é um duplo fator de propagação da bactéria, explica o microbiologista Unterweger. "Quanto mais quentes as águas se tornam, mais as bactérias da cólera se multiplicam". Isto também aumenta o risco de infeção.

Além disso, o aquecimento do clima contribui para que cada vez mais pessoas abandonem os seus habitats, porque as secas ou outras condições meteorológicas extremas as obrigam a migrar. "Estas pessoas chegam facilmente a locais sem infraestruturas de higiene locais suficientes e acabam por ser infectadas", afirma Unterweger.

A OMS também refere no seu relatório que os campos de refugiados são particularmente vulneráveis a surtos de cólera.

As medidas para conter a pandemia do coronavírus também mantiveram os casos de cólera sob controlo nos últimos anos, diz o relatório da OMS sobre os números comparativamente baixos desde 2019.

A OMS gostaria de ter erradicado a infeção até 2030. No entanto, a crise climática e o consequente aumento de fenómenos meteorológicos extremos, que por sua vez destroem infraestruturas e obrigam as pessoas a fugir, levam Unterweger a suspeitar que não nos livraremos da cólera tão rapidamente.

 

 

Julia Vergin / DW BRASIL

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