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BRASÍLIA/DF - Após um ano e três meses em que fixou um poder poucas vezes visto na história da redemocratização, o Congresso Nacional registra sua melhor avaliação em quase 21 anos. Segundo o Datafolha, 22% aprovam o trabalho de deputados e senadores, ante 23% que desaprovam e 53% que o veem como regular.

Não são, claro, números vistosos de aprovação, mas são significativos ao se analisar a série histórica do instituto, que afere o trabalho de legislaturas desde 1993.

O nível combinado de aprovação e rejeição que as Casas comandadas pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o deputado Arthur Lira (PP-AL) é o mais favorável desde a pesquisa de dezembro de 2003, quando o ótimo/bom era de 24% e o ruim/péssimo, de 22%.

Houve dois outros momentos na série em que a aprovação estava nesta casa, 25% em novembro de 2010 e 22% em abril de 2019. Mas as rejeições eram maiores, 30% e 32%, respectivamente.

Aquele 2003 marcava o fim do primeiro ano do primeiro mandato de Lula (PT) na Presidência, e uma agenda legislativa robusta havia avançado, com uma das várias reformas da Previdência pelas quais o país passou.

Em comparação com a mesma etapa da legislatura anterior, em maio de 2020 a aprovação era semelhante, 18%, mas a reprovação chegava a 32%.

A pesquisa atual mostra uma diferença abrupta de percepção ante a imediatamente anterior, de dezembro de 2023. A avaliação negativa do trabalho congressual despenca de 35% para 23%, enquanto a positiva tem uma subida mais discreta, de 18% para 22%. O regular sobe também, dez pontos.

De lá para cá, houve embates entre Poderes. O Senado aprovou uma proposta para limitar o poder de ministros do Supremo de emitir decisões monocráticas e reabriu a discussão sobre a reeleição para cargos no Executivo, inclusive presidente. Há atritos com o governo também.

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Já a Câmara vive em estado de tensão permanente com o Planalto, com Lira descartando a articulação política de Lula como inócua. A manutenção de poder sobre a liberação de emendas, derrotas na agenda econômica do governo e a perda de controle do petista sobre comissões importantes da Casa sinalizam isso.

Além disso, o maior controle de Lira sobre as comissões da Casa, que viram bolsonaristas ocuparem cargos importantes, significa que a parceria condicional que o líder do centrão submete a Fernando Haddad (Fazenda) está cada dia mais forte.

Seja como for, em dezembro a reforma tributária estava promulgada, após 30 anos de debates.

Curiosamente, ou significativo sobre o alcance popular das intrigas de gabinete de Brasília, é entre quem aprova o governo Lula que há a melhor avaliação de deputados e senadores, 36%. Reprovações maiores ficam para os mais instruídos (31%) e a classe média à brasileira, que ganha de 5 a 10 mínimos (33%).

O Datafolha ouviu 2.002 pessoas em 147 cidades do Brasil nos dias 19 e 20 de março. A margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou menos.

 

 

POR FOLHAPRESS

BRASÍLIA/DF - A reprovação do trabalho STF (Supremo Tribunal Federal) caiu dez pontos de dezembro para cá, para 28%, o segundo menor nível desde que o Datafolha passou a aferir a avaliação dos 11 ministro da corte. Já a aprovação seguiu estável, de 27% para 29%.

Desde aquele último levantamento, no qual a reprovação havia atingido o maior índice da série histórica iniciada em dezembro de 2019, a corte protagoniza o capítulo mais agudo no seu embate institucional com o bolsonarismo: o desvelamento do novelo golpista tramado em torno de Jair Bolsonaro (PL) após sua derrota para Lula (PT) em 2022.

A partir de diligências da Polícia Federal autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, que centraliza sob si as decisões sobre as apurações, foi exposta uma trama que pretendia manter Bolsonaro no poder. Houve prisões, e ex-comandantes das três Forças, além de ex-ministros, prestaram depoimentos.

O caso, ainda em curso, é de longe o mais rumoroso e vistoso envolvendo a corte, que nas últimas duas décadas acostumou-se a estar no centro de decisões vitais para a política do país –do mensalão ao petrolão, da Lava Jato à sua desconstrução.

Críticos veem nisso ativismo; defensores, a ocupação necessária do vácuo deixado por outros Poderes.

Talvez sem surpresa, aqueles que se dizem simpatizantes do PT são ainda mais entusiasmados com o trabalho do Supremo: 49% o consideram ótimo e bom. Entre os que consideram o governo Lula ótimo ou bom, o índice chega a 55%.

O próprio Lula elegeu a corte como sua parceira preferencial, cioso do poder da caneta dos ministros, no balé com os outros Poderes –indicou integrantes novos para o tribunal e até o novo procurador-geral da República em sintonia com os nomes fortes do plenário supremo.

Na mão inversa, 65% dos apoiadores do PL de Bolsonaro reprovam as ações da corte, assim como 63% dos que veem Lula como ruim ou péssimo. Também reprovam mais os ministros aqueles que são mais instruídos, tendo completado curso superior (41%).

O fato de a polarização predominante no país ter permeado a percepção sobre a Justiça não é recente.

Nos anos em que estavam na berlinda integrantes de governos petistas e o próprio Lula, que passou 580 dias na cadeia após ter tido um habeas corpus rejeitado pela corte pressionada pelo então comandante do Exército, o tiroteio era contra o hoje admirado STF.

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O Datafolha passou a medir o termômetro quando ficou evidente que Bolsonaro, então presidente, promovia uma campanha de atrito institucional contra a corte.

Esse embate se deu com a abertura do inquérito que inicialmente visava apurar fake news e ataques contra os ministros da corte e que hoje expandiu-se para tudo o que for catalogável como golpista.

Mas não foi só. O Supremo deu razão a governadores durante a fase aguda da pandemia de Covid-19, chancelando por exemplo a autonomia deles para decidir políticas para restringir o movimento de pessoas –que eram combatidas por Bolsonaro e o negacionismo que preconizava.

Com efeito, um dos pontos altos de reprovação do Supremo no Datafolha ocorreu no meio da crise, em maio de 2020, quando o ruim/péssimo chegou a 35%.

O salto apurado em dezembro passado ocorreu após o conflito intenso de 2023, iniciado com os atos golpistas de 8 de janeiro e a dura reação da corte a eles, além de itens como o desgaste com ruralistas devido à derrubada do marco temporal para terras indígenas.

 

 

POR FOLHAPRESS

SÃO PAULO/SP - O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) leva 63% dos eleitores de São Paulo a não votar de jeito nenhum no candidato indicado por ele, enquanto a parcela que rejeita um nome apoiado pelo presidente Lula (PT) é de 42% na cidade.

É o que mostra a pesquisa Datafolha, que traz Guilherme Boulos (PSOL), cujo padrinho é Lula, e Ricardo Nunes (MDB), aliado de Bolsonaro, empatados e isolados na liderança pela Prefeitura de São Paulo, num pleito marcado pela polarização nacional.

Em contrapartida, o apoio de Bolsonaro levaria 17% dos entrevistados a votar com certeza em quem ele indicou, e 19% talvez votariam no candidato escolhido por ele.

Para Lula, os índices são de 24% que votariam com certeza no nome apontado pelo petista e 31% talvez, o que faz do atual presidente um cabo eleitoral mais eficiente do que Bolsonaro.

A pesquisa também levantou o potencial do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é um dos principais apoiadores de Nunes, e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que é o fiador de Tabata Amaral (PSB).

No caso de Tarcísio, seu apoio afasta 44% dos entrevistados, atrai com certeza 17% e faz outros 35% talvez votarem em seu candidato.

Já Alckmin, ao indicar seu apoio, faz com que 44% deixem de votar em quem ele apontou, 14% votem com certeza e 39% talvez.

O Datafolha ouviu 1.090 eleitores na capital paulista na quinta (7) e na sexta (8). A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo SP-08862/2024.

O panorama é similar ao da última pesquisa, em agosto de 2023, mas os dados atuais mostram aumento da rejeição a uma candidatura apoiada por Lula e, no sentido contrário, aumento da adesão a um candidato apoiado por Bolsonaro.

Na rodada anterior, 37% rejeitavam um nome apoiado por Lula, 37% poderiam votar em quem ele indicasse e 23% votariam com certeza. Para Bolsonaro, eram 68% os que não votariam no seu escolhido, 16% poderiam votar e 13% votariam com certeza.

Outra questão, no entanto, é se os eleitores sabem quem apoia quem -fator fundamental para que a transferência de votos funcione.

De acordo com o Datafolha, 54% respondem que Lula apoia Boulos, mas só 37% sabem que Bolsonaro fechou uma aliança com Nunes.

Uma parcela de 8% afirma que Bolsonaro apoiará Boulos, 5% dizem que o candidato bolsonarista é Kim Kataguiri (União Brasil) -33% não sabem quem o ex-presidente indica.

Os resultados mostram certa confusão a respeito dos padrinhos políticos.

Por exemplo, 32% afirmam que Alckmin, que é vice de Lula, vai apoiar Boulos -11% respondem corretamente que sua pré-candidata é Tabata, enquanto 11% declaram que ele vai apoiar Nunes. Outros 32% não sabem quem o ex-governador apoia.

Em relação a Lula, embora a maioria o ligue a Boulos, 20% não sabem quem é seu candidato. Há 11% que acham que ele apoia Nunes, e 9% que acreditam que ele apoia Marina Helena (Novo). Outros 2% o associam a Tabata e 2% a Altino (PSTU).

Enquanto 44% afirmam que Tarcísio vai apoiar Nunes, há 9% que veem Boulos como seu apoiado, 5% acham que é Marina Helena, 4%, Tabata e 4%, Kim.

A pesquisa Datafolha mostra ainda que a parcela que votaria com certeza no candidato de Lula, que é de 24% na média, vai a 38% entre quem tem ensino fundamental, mas cai para 9% entre jovens de 16 a 24 anos. Já os que rejeitam o nome lulista (42% no geral) são 58% entre evangélicos e 30% entre estudantes.

Bolsonaro, que na média influencia 17% a votarem em seu aliado com certeza, chega a 22% entre aposentados e 14% entre quem tem ensino fundamental. O ex-presidente, que afasta 63%, faz 71% dos pretos e 57% dos espíritas ou kardecistas não votarem em seu candidato.

 

MARTA É A VICE MAIS CONHECIDA, COM 94%; DATENA TEM 89%

Entre os pré-candidatos a vice-prefeito, Marta Suplicy (PT), vice de Boulos, é a mais conhecida, com 94% -58% a conhecem muito bem, 22% um pouco, 13% de ouvir falar e 6% não a conhecem.

Marta foi prefeita de São Paulo (2001 a 2004), além de deputada, senadora e ministra. O levantamento mostrou também que, para 16%, ela foi a melhor prefeita da capital paulista dos últimos 40 anos.

Outro vice popular é o apresentador de TV José Luiz Datena (PSB), que pode vir a ser vice de Tabata. Ele é conhecido por 89% -45% muito, 26% um pouco, 19% de ouvir falar e 11% não o conhecem.

Já os nomes que são cogitados para formar chapa com Nunes, como o coronel da PM Mello Araújo e a delegada Raquel Gallinati, ambos do PL, são amplamente desconhecidos (81% e 89%, respectivamente).

 

 

POR FOLHAPRESS

Estudo está na revista Nature Humanities & Social Science Communications

 

SÃO CARLOS/SP - Foi publicada na Nature Humanities & Social Science Communications o artigo "The mothers: contesting health-illness status and cultural authority in the age of Aids", de autoria de João Paulo Gugliotti, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em coautoria com Richard Miskolci, do PPGS, orientador de Gugliotti no doutorado. 
O autor é formado em Gerontologia, pela UFSCar, e fez mestrado e doutorado na mesma instituição, no âmbito do PPGS. "No doutorado investiguei a produção biogerontológica a partir da homossexualidade. Interessava-me compreender como o envelhecimento e a homossexualidade foram abordados pela especialidade e suas disciplinas correlatas desde os anos 1970, ao longo dos últimos quarenta anos. A Aids apareceu como um evento histórico associado à produção de conhecimento na Biogerontologia, principalmente, nos anos 1980, década em que a homossexualidade não mais era concebida como um distúrbio psiquiátrico pelas ciências psi (Psiquiatria, Psicologia e Psicoterapia), mas passa a ser classificada em termos de risco ao HIV/Aids pela epidemiologia", explica ele.
Desde 2019, o pesquisador investiga o Grupo de Mães de Pacientes com Aids, formado em Nova York, em 1986, por assistentes sociais, profissionais de saúde, gerontológas e ativistas. O artigo publicado na Nature Humanities & Social Science Communications fez parte da pesquisa de doutorado de Gugliotti na Universidade de Harvard, no Departamento de História da Ciência, entre 2019 e 2020. A pesquisa que originou o artigo é resultado do projeto "(Bio)marcadores de envelhecimento na produção em Gerontologia: entre a resposta global à epidemia de HIV/Aids e a (re)patologização da homossexualidade", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob a supervisão de Sarah S. Richardson e Richard Miskolci.
Apesar da prevalência das pesquisas que produziram conhecimento sobre grupos e comunidades estigmatizadas ao longo das décadas de 1980 e 1990, nos Estados Unidos, os estudos que investigaram a relação entre HIV/Aids, estigma interseccional e a situação de saúde-doença entre grupos considerados hegemônicos são incipientes, ou seja, grupos formados por pessoas heterossexuais e brancas, que não sofreram estigma devido à sexualidade e raça/cor, por exemplo. Neste estudo, essa lacuna foi examinada a fim de observar os efeitos do estigma em comunidades não-expostas. 
"Além disso, o artigo explorou a formação de um grupo pioneiro de cuidadores na cidade de Nova York, as Mães de Pacientes com Aids (MPWA) e analisou narrativas sobre saúde-doença a partir de uma agenda de cuidado coletivo estabelecida por mães de meia idade e idosas que lidavam com os desafios e necessidades de filhos adultos e pessoas com graus moderado e alto de dependência", completa o autor, acrescentando que o estudo fez parte de um projeto maior que investigou o surgimento de organizações sem fins lucrativos e grupos de assistência gerontológica no contexto da epidemia de HIV-Aids em Nova York nas décadas de 1980 e 1990.
Quando iniciou a pesquisa nos Estados Unidos, o pesquisador se deparou com alguns arquivos de mães de filhos/pacientes com Aids no contexto das décadas de 1980 e 1990. O arquivo de Florence Rush, em particular, foi relevante para a compreensão de algo fundamental: enquanto a tese (e seus resultados preliminares) mostravam que a epidemia de Aids originou um enquadramento moral nas Ciências Biomédicas via epidemiologia que chegou, inclusive, na Biogerontologia, a sociedade civil e os movimentos sociais organizados em saúde produziam formas de ativismo que deram importância e visibilidade à situação da Aids nos Estados Unidos.
Dessa forma, o artigo amplia a discussão da tese e insere o debate sobre autoridade cultural - conceito sociológico proveniente da subcampo da Sociologia Médica dos anos 1960/70, em que se discute, na pesquisa em tela, a partir da Aids, os embates entre profissionais de saúde e pacientes na produção dos diagnósticos. No artigo, foi explorada a produção de diagnósticos de Aids a partir dos relatos das mães recolhidos por Florence Rush, em que elas, as mães, por exemplo, apresentam os conflitos e disputas com médicos e especialistas em consultas de rotina, a relação vexatória que os diagnósticos de Aids impunham perpetuamente em suas vidas cotidianas e a emergência do termo "câncer" como uma espécie de eufemismo. 
"Muitas mães, e mulheres heterossexuais, naquele contexto, preferiam utilizar a expressão "câncer" para se referir à doença em espaços familiares, nos ambientes de trabalho e até mesmo de lazer. Esse é um dos achados mais importantes e nos mostra, então, como a linguagem patológica e a forma pela qual os eufemismos ganhavam centralidade na vida das pessoas também estavam relacionados ao fato de que as pessoas não temiam a Aids apenas pelo seu aspecto mortal, ela era uma doença mortal; porém, e precisamente, o medo do estigma e do preconceito e a forma como eles tocavam a experiência cotidiana da doença. Assim, concluímos que pessoas heterossexuais experimentavam formas de preconceito porque o estigma é interseccional e não, portanto, estático ou confinado a identidades sexuais específicas", considera o autor.
A pesquisa resultante da tese de Gugliotti será publicada em livro pela Editora da UFSCar (EdUFSCar), ainda no primeiro semestre deste ano. Atualmente, a pesquisa é também desenvolvida no Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP) e no Departamento de Saúde Global e Medicina Social do Kingtons College London, sob supervisão das professoras Lilia Blima Schraiber, Anne Pollock e Laia Becares, com apoio da Fapesp.
O artigo completo pode ser conferido aqui (https://www.nature.com/articles/s41599-024-02795-y). Outros trabalhos produzidos pelo autor e seus colaboradores podem ser também encontrados no site do núcleo de pesquisa que Gugliotti coordena, em www.nupage.org.

BRASÍLIA/DF - Nos últimos 10 anos, houve uma redução na diferença entre salários pagos às mulheres e aos homens. O índice que mede a paridade salarial passou de 72 em 2013 para 78,7, em 2023. A paridade de gênero é medida em uma escala de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior a equidade entre mulheres e homens.

Os dados estão no levantamento Mulheres no Mercado de Trabalho, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações serão apresentadas nesta terça-feira (5), durante a primeira reunião de 2024 do Fórum Nacional da Mulher Empresária da CNI.

O estudo também revelou que a participação feminina em cargos de liderança passou de 35,7% em 2013 para 39,1% em 2023. O índice de empregabilidade das mulheres apresentou evolução entre 2013 e 2023, passando de 62,6 para 66,6, respectivamente, crescimento de 6,4%.

Os resultados do levantamento indicaram que as mulheres têm mais escolaridade que os homens: enquanto elas têm, em média, 12 anos de estudo; os homens têm 10,7 anos.

O tempo dedicado à chamada jornada de trabalho reprodutiva, ou seja, aquela que envolve as atividades domésticas e de cuidados com familiares, também é maior entre as mulheres. No caso das pessoas empregadas, esse tempo foi de 17,8 horas semanais para mulheres e de 11 horas para homens em 2022. Entre os desocupados – desempregados e pessoas em busca de emprego –, a diferença é ainda maior: as mulheres exercem 24,5 horas semanais de trabalho e os homens, 13,4 horas.

Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, apesar da redução das diferenças entre gêneros da última década, é preciso continuar avançando e rápido.

“É urgente ampliar o debate e implementar medidas concretas para chegarmos a um cenário de equidade plena no mercado de trabalho brasileiro”, avalia.

Legislação

Em julho do ano passado, o governo federal sancionou uma lei que garante igualdade salarial entre homens e mulheres e estabelece medidas para tornar os salários mais justos, aumentando a fiscalização contra a discriminação e facilitando os processos legais para garantir igualdade salarial.

Com a nova lei, empresas com 100 ou mais funcionários devem fornecer relatórios semestrais transparentes sobre salários e critérios de remuneração. Esses relatórios devem conter informações que permitam comparar salários e remunerações entre homens e mulheres de forma objetiva.

Caso haja alguma irregularidade, serão aplicadas punições administrativas e os processos legais para corrigir a desigualdade devem ser facilitados.

Também foram instituídos canais para denunciar o descumprimento da igualdade salarial por parte de empresas e entidades em geral. As pessoas podem encaminhar os casos por meio de um portal do Ministério do Trabalho ou pelo telefone: Disque 100, Disque 180 ou Disque 158.

 

 

Por Sabrina Craide – Repórter da Agência Brasil

Projeto convida voluntários para responderem questionários online

 

SÃO CARLOS/SP - A pesquisa de iniciação científica "Inteligência emocional e processos de resiliência em adultos", conduzida pelo estudante de Psicologia Fernando José Porto de Almeida, sob orientação de Monalisa Muniz Nascimento, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pretende avaliar a relação entre os níveis de resiliência e de inteligência emocional em uma amostra de adultos.
A inteligência emocional (IE) pode ser definida como a capacidade mental de processamento cognitivo para avaliar, compreender e expressar emoções bem como perceber e/ou gerar sentimentos e controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. Enquanto isso, a resiliência pode ser entendida como a capacidade de um sistema dinâmico em adaptar-se de forma bem sucedida a uma situação perturbadora que ameaça seu desenvolvimento e o desempenho de seu funcionamento global, tendo entre seus fatores protetivos características disposicionais do indivíduo, como bem estar subjetivo, competência emocional e inteligência, além da elaboração de vínculos que forneçam suporte emocional em momentos de dificuldade. 
Dessa forma, entende-se que a IE possa contribuir significativamente para a constituição de atributos individuais de resiliência mais efetivos, que auxiliem na adaptação a eventos estressores, visto que é um construto importante para o fortalecimento do poder protetivo das características disposicionais do indivíduo, bem como fundamental para a construção de laços afetivos profundos e saudáveis. 
A pesquisa parte da hipótese de que quanto maior a IE, maiores os níveis de resiliência em adultos. Para testar essa hipótese, adultos entre 18 e 60 anos são convidados a responder quatro questionários online, sendo eles um para caracterização da amostra; o Critério de Classificação Econômica do Brasil, para avaliação socioeconômica; o Inventário de Competências Emocionais (ICE-R), para avaliação da IE; e a Escala de Resiliência do Adulto (RSA), para avaliação da resiliência. Os dados serão correlacionados e analisados estatisticamente.
Os interessados devem preencher este formulário (https://forms.gle/Cxp36dcafNo7xvDn7) até o dia 30 de maio. O preenchimento leva em torno de 15 minutos. Mais informações no formulário de inscrição. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 75357023.4.0000.5504).

RIO NEGRO/AM - Um grupo de pesquisadores inicia nesta terça-feira (20) expedição para buscar no fundo do Rio Negro, no Amazonas, em igarapés e outros ambientes na região, espécies pertencentes à ordem dos Gymnotiformes, conhecidos como peixes-elétricos. Além de identificar novas espécies, os pesquisadores pretendem contribuir para a conscientização e preservação da biodiversidade local.

A expedição é parte do projeto Diversidade e Evolução de Gymnotiformes, que existe desde 2017 e é coordenado por Naercio Menezes, professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP). Ao longo desses anos, um dos resultados foi a descoberta e descrição de duas espécies de poraquê, em 2019.

“Em uma das coletas efetuadas, um dos nossos pesquisadores descobriu duas espécies novas, uma das quais produz através do órgão elétrico 650 volts, o suficiente para derrubar uma pessoa, vamos dizer assim. Essa descoberta provocou uma repercussão muito grande”, contou Menezes, ao relatar que o feito foi publicado pelo jornal New York Times.

Ele ressalta que o Museu de Zoologia tem uma representatividade muito grande dos peixes de água doce de todo o Brasil e de parte da América do Sul e que o trabalho tem um cunho voltado também para preservação. “A nossa intenção é mostrar a diversidade que existe e a ameaça que paira sobre o desaparecimento de espécies devido à construção de usinas hidrelétricas, queimadas, mineração, destruição da floresta”, disse.

Um dos exemplos que os pesquisadores vão procurar é a espécie Iracema caiana, coletada apenas uma vez em 1968 na região da expedição, além de outros que possam contribuir com estudos em andamento ou até a originar a descrição de novas espécies. Na embarcação, estarão cerca de 20 pessoas, incluindo tripulação e pesquisadores, que vão subir o rio partindo de Manaus até Santa Isabel do Rio Negro, durante a expedição, que deve durar até 2 de março.

Segundo Menezes, a possibilidade de coletar exemplares é muito grande porque a expedição reúne condições propícias como o uso de uma rede que vai arrastando no fundo do rio, uma equipe grande de pesquisadores, além do período específico em que vai acontecer.

“A expectativa é muito grande. Nós vamos tentar coletar numa época propícia porque houve uma seca muito grande na bacia amazônica no ano passado e isso fez com que as águas do Rio Negro e do Rio Branco, onde nós vamos coletar, ficassem empoçadas de tal forma que os peixes – a gente espera – ficaram concentrados em [algumas] áreas”, disse.

Os pesquisadores usarão também estudos moleculares, em que uma amostra de tecido passa por análise de DNA. Isso permite distinguir as espécies de forma mais precisa e auxilia no trabalho morfológico e anatômico.

Expedição para pesquisa busca espécies de peixes-elétricos na Amazônia. Foto: Acervo dos Pesquisadores

Peixes-elétricos usam eletricidade produzida para alimentação e para comunicação entre eles - Acervo dos Pesquisadores

 

Menezes explica que os peixes-elétricos usam a eletricidade que produzem para alimentação e para comunicação entre eles. O projeto Diversidade e Evolução de Gymnotiformes descobriu  também que uma das espécies, os poraquês, fazem predação social, que é a captura de presas em grupo.

“No passado, pensava-se que ele se alimentava isoladamente, [mas] eles têm a capacidade de cercar as piabinhas, os peixes pequenos, e vão emitindo choques contínuos. As espécies pulam fora da água e eles abocanham. Este é um comportamento que era desconhecido nos peixes”, destacou.

 

 

Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil

Proposta busca promover construção participativa em extensão rural e desenvolvimento sustentável

 

SÃO CARLOS/SP - Uma proposta, que será desenvolvida a partir de 2024 e que busca promover a construção participativa de ações e diretrizes inovadoras de políticas públicas de extensão rural e desenvolvimento sustentável, com foco na articulação de experiências e saberes agroecológicos, bem como na formação técnica de agricultores familiares assentados e comunidades quilombolas do estado de São Paulo. Esse é o projeto "Construção participativa de ações e diretrizes de políticas públicas de extensão rural em agroecologia e desenvolvimento sustentável", uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), articulada através da cooperação entre o Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural (NuPER) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
No dia 29 de janeiro, a UFSCar foi sede da primeira reunião geral de desenvolvimento do projeto. O encontro contou com a participação de toda a equipe, composta por docentes, pesquisadores, técnicos e articuladores locais. Também participou do encontro a Superintendente do Incra no estado de São Paulo, Sabrina Diniz. O indicativo é de que nas próximas semanas a Universidade formalize o Termo de Cooperação com o órgão, consolidando a parceria.
Durante a atividade, Diniz destacou que a iniciativa está inserida em um contexto de reconstrução da agenda de implementação e acompanhamento de políticas públicas para a reforma agrária no Brasil, desarticulada desde o fim do governo de Dilma Rousseff.
"A gente passou por um período de seis anos de retrocesso da reforma agrária, seja pela não criação de novos assentamentos, seja pela ausência do Incra dentro de áreas de assentamentos, trabalhando para o desenvolvimento desses territórios. Então, a gente constrói esse projeto agora para poder atuar numa reconstrução do desenvolvimento dos assentamentos, fundada basicamente em bases agroecológicas", afirma a Superintendente.
Joelson Gonçalves de Carvalho, docente do Departamento de Ciências Sociais (DCSo) e Coordenador do NuPER, destaca a importância deste tipo de articulação para "atuar, através da universidade pública, para transformar o horizonte da extensão rural, inserindo quilombos, comunidades tradicionais, acampamentos e assentamentos de reforma agrária no orçamento federal".

Comunidades quilombolas no Programa Nacional de Reforma Agrária
O projeto dialoga com uma das atuais demandas do Incra, que é a retomada da inserção de famílias quilombolas no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra). Esse cadastramento é fundamental para realizar o processo de titulação e regularização fundiária, conferindo segurança jurídica ao direito dessas comunidades sobre seu território. Além disso, estar cadastrado nesse sistema é um dos requisitos para inscrição no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), um instrumento que serve para identificar quem é beneficiário do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA).
É através desse cadastro que agricultores e agricultoras quilombolas poderão acessar os programas de crédito e fomento oferecidos pelo Incra, além de serem habilitados a comercializar sua produção em programas de compras públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Rodrigo Marinho Rodrigues da Silva, liderança do quilombo Ivaporunduva, localizado na região do Vale do Ribeira, é um dos 22 técnicos e articuladores que compõem a equipe do projeto. Para ele, "essa nova iniciativa, de podermos aproximar essas políticas públicas que estão ligadas ao contexto da reforma agrária das comunidades quilombolas, é um passo que estamos dando rumo ao acesso aos direitos dessas comunidades".

Agroecologia e desenvolvimento sustentável
A questão ambiental está entre os princípios estruturantes do projeto, desenvolvido em cooperação com a UFSCar. A meta principal da proposta é articular regionalmente instituições e movimentos sociais de forma permanente, estimulando e fortalecendo práticas agroecológicas como política de Estado.
"Não há mais como discutir reforma agrária e desenvolvimento rural sem abordar a questão ambiental. O país inteiro, seja urbano, seja rural, tem sofrido com as mudanças climáticas, e a produção agropecuária desse país tem contribuído significativamente para essas mudanças climáticas", destaca a superintendente do Incra, Sabrina Diniz.
Nesse cenário, a agricultura familiar, além de ser a principal fonte de produção de alimentos do país, pode contrapor-se ao modelo de produção do agronegócio, promovendo o desenvolvimento de práticas ecologicamente sustentáveis e socialmente justas.
Para a equipe do projeto, quilombos e assentamentos de reforma agrária têm protagonizado experiências bem-sucedidas, orientadas ao desenvolvimento de uma agricultura ecologicamente sustentável, que busca promover o exercício soberano das políticas nacionais de abastecimento e, simultaneamente, combater a pobreza e a insegurança alimentar no meio rural brasileiro. Espera-se que a parceria com a Universidade permita levantar e sistematizar essas práticas, subsidiando o apoio técnico para a transição agroecológica dos territórios atendidos pelo projeto, que ainda não se enquadram nesse modelo produtivo.
Na prática, essas ações irão auxiliar, por exemplo, na estruturação e consolidação de associações e cooperativas que produzem alimentos em bases agroecológicas, bem como na sua inserção em programas de compras públicas, como o PAA e o PNAE.
Mais informações estão disponíveis na página do projeto [https://nuperufscar.com.br/projetos/18], no site do Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural da UFSCar.

SÃO CARLOS/SP - A presença de bactérias na água usada para consumo humano em geral não é um problema, já que é mais comum que elas não causem malefícios à saúde humana. No entanto, essa situação pode se inverter dependendo do tipo e da quantidade dessas bactérias, que não são detectadas pelos métodos comumente usados no Brasil para monitoramento de qualidade da água no processo de tratamento, distribuição e armazenamento. Estudo realizado em município no interior do estado de São Paulo, usando a técnica de citometria de fluxo, mais sensível que aquelas usadas tradicionalmente para essa função, identificou a presença de bactérias em caixas d?água residenciais, em um conjunto de 36 amostras coletadas em pontos distintos da cidade. O resultado, publicado recentemente, aponta que a aplicação da técnica pode ser ferramenta muito útil no monitoramento do crescimento bacteriano após as estações de tratamento, permitindo averiguar possíveis contaminações.

A pesquisa foi desenvolvida por Leandro Manoel Afonso Mendes, estudante de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com orientação de Hugo Sarmento, docente no Departamento de Hidrobiologia. "A qualidade da água é o fator individual mais importante para garantir a saúde pública, e as estações de tratamento têm o compromisso de fornecer um suprimento seguro de água potável para a população, garantindo a ausência e limitando o crescimento de qualquer microrganismo que possa causar alguma doença", situa Sarmento. No entanto, o docente explica que é comum as bactérias aparecerem durante os processos de tratamento e distribuição da água. "A presença dessas bactérias, na maioria das vezes, não causa malefícios à saúde humana, mas é preciso um controle rigoroso para garantir a qualidade da água fornecida", avalia Sarmento, que coordena o Laboratório de Biodiversidade e Processos Microbianos (LMPB), onde as amostras foram analisadas.

Normalmente, a contagem dos microrganismos é feita por técnica que utiliza placas de cultivo como um parâmetro geral de qualidade microbiana da água potável. Sarmento indica que diversos estudos demonstraram a presença de microrganismos na água potável ou em biofilmes utilizando técnicas mais sensíveis como a citometria de fluxo, que ainda não é utilizada no Brasil com esta função. "Este método é utilizado para enumeração direta das concentrações totais de células na água, utilizando marcadores de ácidos nucléicos fluorescentes e detecção de características específicas de cada célula. Existem na literatura relatos de detecção de microrganismos, alguns patógenos, em água de distribuição, reforçando a importância de tais achados para a saúde coletiva", destaca o docente da UFSCar. Ele reforça, também, que esses estudos estão concentrados em países onde não existem caixas d?água residenciais no circuito de distribuição, um elemento que pode deteriorar a qualidade da água armazenada. "No hemisfério Norte, as pessoas não têm caixas d?água individuais. São grandes reservatórios por bairro, controlados por empresas", relata.

Resultados
Os pesquisadores apontam que foi constatada a presença de bactérias no interior dos reservatórios analisados e nas entradas das caixas d?água, em concentrações condizentes com os resultados de estudos realizados em outros países. "Observamos uma forte correlação entre as concentrações de bactérias na água entregue pela empresa pública de saneamento e na água das caixas d?água, com maiores concentrações de bactérias nestas últimas, em geral", registram. Outra análise buscou relacionar a presença das bactérias à higienização dos reservatórios, cujo intervalo variou entre períodos de três meses a 20 anos. Os resultados indicam que se a água já chegar aos reservatórios com as bactérias, a limpeza das caixas d?água não fará diferença. "No entanto, é primordial que seja feita a limpeza periódica dos reservatórios", ressalvam.

"Nossos resultados mostram que empresas de saneamento deveriam buscar meios de implementação da citometria de fluxo como ferramenta conjunta de monitoramento do processo de tratamento, distribuição e armazenamento de água potável, principalmente para detecção e quantificação esporádica de bactérias, tal como já se faz atualmente em outros países", conclui Hugo Sarmento.

O professor conta que a citometria de fluxo já é usada em países como a Suíça, por exemplo, de forma ágil, permitindo detecção precoce de bactérias e tomada de providências em caso de necessidade. A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O artigo sobre o estudo foi publicado recentemente e pode ser acessado neste link.

Um fato que não pode ser contestado: microrganismos resistentes mataram cerca de 33 mil pessoas no ano de 2019, segundo uma notícia publicada na edição 335, de 04 de janeiro do corrente ano, pela FAPESP.

 

SÃO CARLOS/SP - O crescimento e proliferação de bactérias resistentes a quase todos os tipos de antibióticos fez, finalmente, acender a luz vermelha nos principais orgãos mundiais de saúde, por apresentar uma séria ameaça à capacidade de debelar infecções. Segundo a citada notícia da FAPESP, da autoria de Ricardo Zorzetto, sem antibióticos eficientes fica quase impossível realizar cirurgias, transplantes e tratamentos quimioterápicos contra o câncer, em segurança. Problemas comuns, como um corte mais profundo ou uma infecção respiratória, podem, atualmente, se tornar uma ameaça à vida, retirando os avanços verificados nas últimas décadas, onde o uso de antibióticos para tratar infecções aumentou a longevidade humana em cerca de vinte anos.

Até há algum tempo atrás, expostas à concentração adequada de antibióticos e por tempo suficiente, as bactérias facilmente morriam, segundo a FAPESP. “Se a dosagem e duração do tratamento forem inferiores ao necessário para aniquilá-las, uma parte pode sobreviver e se multiplicar, acumulando alterações no material genético que permitem escapar à ação dos fármacos”. A mesma notícia enfatiza o fato de as bactérias estarem em todos os lugares - na água, no solo, no ar e nas superfícies, inclusive no corpo humano. Com o uso intensivo de antibióticos na saúde humana e na produção de alimentos, para proteger ou tratar os animais de criação de doenças e induzir ganho de peso, as bactérias são continuamente expostas a esses fármacos e esse contato favorece a seleção das variedades resistentes.

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) já informou que estão surgindo bactérias contra as quais não há mais medicamentos eficazes. Igualmente, segundo a FAPESP, um levantamento coordenado pelo epidemiologista Ramanan Laxminarayan, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, estimou que, a cada ano, no mundo, ocorram 136 milhões de casos de infecção hospitalar causados por esses microrganismos. Segundo os dados publicados em junho de 2023 na revista “PLOS Medicine”, a China é, de longe, a nação mais afetada, com 52 milhões de registros, sendo que o Brasil aparece em quinto lugar, com 4 milhões de casos. No mundo todo, esses microrganismos foram os responsáveis diretos por 1,27 milhão de mortes em 2019. Quando se incluem os casos em que o indivíduo tinha outra doença além da infecção, esse número sobe para 4,95 milhões, próximo ao total de óbitos registrados em três anos de pandemia de Covid-19 e bem superior à soma das mortes anuais por malária, Aids e tuberculose.

 

Próxima década será dramática

As bactérias têm um grande poder de modificar algumas das suas estruturas, o que permite que elas desenvolvam mecanismos que resistem à ação dos agentes externos (antibióticos), sendo que desde que eles foram descobertos também se descobriu a resistência a esses agentes, algo que já perdura há muito tempo. Contudo, esse problema de resistência atingiu atualmente um nível bastante grave, já que, se até há pouco tempo era possível modificar as famílias dos antibióticos introduzindo novas estruturas que agiam nas bactérias, neste momento essas estratégias se esgotaram. O fato é que a indústria farmacêutica e o desenvolvimento técnico-científico não estão sendo capazes de apresentar novas alternativas no sentido de modificar ou mesmo introduzir elementos novos nas bactérias, já que elas se tornaram resistentes às diversas famílias de antibióticos.

Como as empresas de antibióticos já declararam que não irão conseguir resolver este problema na próxima década, significa dizer que a humanidade está “sentada” em cima de uma verdadeira bomba-relógio. Com as bactérias aumentando a sua resistência ao longo do tempo, já é comum a utilização de mais do que um antibiótico para combater determinadas infecções, na tentativa de compensar a perda da eficácia. Hoje, existem bactérias que, em comparação com o passado, precisam milhares de vezes mais drogas para serem eliminadas.

 

Para entender o problema

Segundo o docente e pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Prof. Vanderlei Salvador Bagnato, que é simultaneamente o Coordenador do Grupo de Óptica do Instituto, e Coordenador do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF), alocado nessa mesma Instituição, as bactérias têm diversos mecanismos que ajudam à sua resistência perante os antibióticos e um dos mais importantes é a sua membrana, que se altera, impedindo a penetração das moléculas do antibiótico que deveriam, de alguma maneira, modificar, inibir, ou destruir mecanismos internos de multiplicação bacteriana. “O que o antibiótico faz é inibir, atenuando a multiplicação das bactérias. Se a bactéria não pode multiplicar, ela morre. O perigo de uma infecção está na multiplicação dos microrganismos, sendo que a missão dos antibióticos é inibir a ação multiplicadora das bactérias”, pontua o pesquisador.

Embora a modificação das bactérias faça parte de um dos seus principais mecanismos, existem outros que merecem igualmente uma particular atenção, como, por exemplo, as pequenas estruturas moleculares, que são chamadas bombas de efluxo, localizadas nas suas membranas. “Essas bombas de efluxo servem para as bactérias ejetarem substâncias que são prejudiciais ao seu próprio desenvolvimento e proliferação. As bactérias  aumentam suas bombas de efluxo, ou seja, aumentam a ação de jogar fora substâncias que não interessam e uma dessas substâncias é a molécula do antibiótico. Então, as bactérias ‘aprenderam’ essa forma de defesa”, pontua o docente. Por outro lado, as bactérias apresentam um outro mecanismo que auxilia em sua sobrevivência: as enzimas que elas têm a capacidade de produzir e que destroem especificamente as moléculas dos antibióticos. E foi desta forma que as bactérias se foram adaptando.

 

Foto-oxidação - IFSC/USP na liderança para tentar resolver o problema

Ao utilizar mecanismos de foto-oxidação na tentativa de destruir os mecanismos básicos que as bactérias têm para sua própria defesa, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) assumiu, dessa forma, a liderança nessas pesquisas e estudos baseados no fato de que perante uma oxidação nenhum ser vivo consegue desenvolver resistência. A técnica desenvolvida pelo Instituto foi recentemente divulgada em uma sequência de artigos científicos publicados em diversas revistas científicas de grande notoriedade, entre as quais se destacam a “PNAS”, a “Proceedings” - National Academy of Science - e a “Antibiotics”, dos Estados Unidos. “Foram pesquisas cujos resultados foram extraordinários, utilizando pequenos choques de foto-oxidação - os quais chamamos de Ação Fotodinâmica. Nesse processo, colocamos uma molécula que é absorvida pela bactéria, ativamos com luz e, graças à produção de radicais livres dentro da bactéria, o processo vai destruindo a resistência da membrana, ao mesmo tempo que destrói a bomba de efluxo e a capacidade de produção enzimática. Esta ação foto-oxidativa, bastante intensa, acaba por matar a bactéria, o que significa dizer que conseguimos ter um programa para controle de infecção só usando a foto-oxidação - a Ação Fotodinâmica -, abrindo caminho para que os antibióticos tradicionais voltem a ter efeito”, comemora o Prof. Bagnato.

 

Tratamento de infecções - Pneumonia é destaque

A sequência de todo o trabalho pioneiro acima mencionado desagua igualmente nas pesquisas que estão sendo desenvolvidas no IFSC/USP para o tratamento de infecções, principalmente de faringotoncilites (infecções causadas por agentes bacterianos que acometem as regiões da faringe, laringe e amígdalas) e da pneumonia. “O que estamos propondo é, primeiramente, dar um choque fotodinâmico, principalmente nas infecções comuns, como as faringgotoncilites, através de  iluminação extracorpórea, ou então aquelas que atingem as vias respiratórias ou o trato intestinal, por exemplo, ou seja, em locais onde conseguimos ir com fibra óptica para fazer esse choque fotodinâmico. E estamos já bastante evoluídos no tratamento da pneumonia resistente aos antibióticos, que é uma das principais causas de morte em pacientes intubados nas unidades de cuidado intensivo. Então, estamos conseguindo vencer todas as barreiras, inclusive com a ajuda da própria Santa Casa da Misericórdia de São Carlos, com o intuito de entender  qual é o problema principal dos componentes que estão aí nas vias respiratórias, e estamos levando esses estudos para uma colaboração internacional com os Estados Unidos - Universidade do Texas”, conclui o pesquisador.

Embora o número de óbitos causados por pneumonia seja elevado, o certo é que a atenção dos pesquisadores do IFSC/USP também está voltada para um outro fator que gera preocupação: os fungos, que não são combatidos com antibióticos, começaram a entrar na via respiratória (infecção fúngica dos pulmões), tendo em consideração que eles também estão resistindo aos fungicidas. E, por incrível que possa parecer, as pesquisas realizadas no IFSC/USP, utilizando a ação fotodinâmica, já provaram que  ela também consegue quebrar a resistência fúngica aos fungicidas ou mesmo matar, igualmente através de iluminação extracorpórea.

Os Professores Vanderlei Salvador Bagnato e Kate Blanco, junto com as alunas de pós-doutorado Dras. Jennifer Machado, Claudia Patino e outros oito alunos de pós-graduação compõe a equipe que atua no Laboratório do IFSC/USP dedicado unicamente a desenvolver as pesquisas e desenvolver métodos com a finalidade de quebrar as bactérias resistentes.

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