UCRÂNIA - A Ucrânia está a construir fortificações na fronteira com a Bielorrússia para reforçar a sua defesa, após o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo bielorrusso, Aleksandr Lukashenko, terem anunciado o envio conjunto de militares para a região.
"Continuamos a aumentar as nossas capacidades para afastar um possível ataque do inimigo do lado bielorrusso. Juntamente com as Forças Armadas, a Polícia Nacional e a Guarda Nacional, estamos a realizar ações para melhorar a eficácia perante uma possível ameaça", disse o vice-chefe do Serviço de Fronteiras do Estado da Ucrânia, major-general Sergii Serdiuk.
O vice-ministro do Interior da Ucrânia, Ihor Bondarenko, inspecionou a zona de fronteira com a Bielorrússia onde as fortificações estão a ser construídas com o objetivo de "fortalecer os locais de implantação" das tropas ucranianas.
"O Ministério do Interior determina e realiza constantemente a tarefa de esclarecer rapidamente as necessidades das divisões relevantes do Ministério do Interior para resolvê-las imediatamente", disse Bondarenko, citado em comunicado.
Aleksandr Lukashenko indicou hoje que o envio de tropas conjuntas com a Rússia foi uma medida tomada "devido ao agravamento da situação na fronteira ocidental entre ambos os países".
Lusa
KIEV - Várias cidades da Ucrânia, incluindo a capital, Kiev, foram alvos de ataques com mísseis na manhã (horário local) desta segunda-feira (10/10), afirmaram autoridades ucranianas. A informação foi confirmada por jornalistas que estão no país.
Em Kiev, ao menos oito pessoas foram mortas e 24 ficaram feridas nos ataques, segundo um primeiro balanço. Um míssil atingiu um parquinho infantil, relatou um repórter.
Os ataques estão sendo vistos como uma reação da Rússia à explosão que, no sábado, destruiu a única ponte entre a Rússia e a Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014. O presidente russo, Vladimir Putin, havia culpado os serviços secretos ucranianos, e o vice-chefe do Conselho de Segurança do país, Dimitri Medvedev, ameaçou com retaliação.
O comandante em chefe das Forças Armadas ucranianas, Valery Zaluzhny, afirmou que a Rússia disparou 75 mísseis contra a Ucrânia na manhã desta segunda-feira.
"Querem nos varrer da face da Terra"
"A Ucrânia está sendo atacada com mísseis", afirmou o vice-chefe do gabinete presidencial, Kyrylo Tymoshenko.
O presidente Volodimir Zelenski também falou em ataques com mísseis e disse que as explosões deixaram vários mortos e feridos. "Eles estão tentando nos destruir e nos varrer da face da Terra", declarou.
O prefeito de Kiev, Vital Klitchko, afirmou que várias explosões atingiram o centro da capital ucraniana e que "infraestrutura crítica" foi danificada. O jornal diário Kyiy Independent noticiou que ao menos quatro explosões foram ouvidas no centro da capital no início da manhã desta segunda-feira.
Explosões em outras cidades
Há relatos de explosões também nas cidades de Lviv, Dnipro, Kharkiv e Zaporijia. Nesta cidade ao menos uma pessoa teria morrido, segundo autoridades de saúde. O governo da Ucrânia afirmou que houve explosões em muitas outras cidades além de Kiev.
As explosões em Kiev ocorreram por volta das 8h (horário local) e foram antecedidas pelo toques de alarmes antiaéreos.
Várias colunas de fumaça escura eram visíveis em diferentes pontos da cidade, de acordo com vídeos divulgados nas redes sociais.
O último bombardeio em Kiev havia ocorrido em 26 de junho.
as (Lusa, AFP, AP, Reuters)
RÚSSIA - O presidente russo, Vladimir Putin, culpou neste domingo (09/10) os serviços secretos ucranianos pelas explosões que destruíram parte da ponte de Kerch no sábado, única ligação entre a Rússia e a península ucraniana da Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014.
"Os autores, executantes e patrocinadores são os serviços secretos ucranianos", disse Putin, em uma reunião com o presidente do Comitê de Investigação da Rússia, Alexandr Bastrikin, segundo um vídeo distribuído pelo Kremlin.
"Não há dúvida de que isto é um atentado terrorista com o objetivo de destruir uma infraestrutura civil criticamente importante da Federação Rússia", completou o presidente russo.
Segundo Bastrikin, cidadãos russos e países estrangeiros teriam ajudado a preparar o ataque, que matou três pessoas.
O Kremlin anunciou que Putin se reunirá com o Conselho de Segurança Nacional da Rússia nesta segunda-feira para discutir a reação ao ataque. Neste domingo, mergulhadores russos foram destacados para examinar os danos causados pelas explosões.
No sábado, segundo autoridades russas, um caminhão explodiu e incendiou sete tanques de um trem de carga que transportava combustível. Até agora, a Rússia tinha evitado acusar a Ucrânia. O tráfego de veículos e o ferroviário foram restabelecidos na ponte horas depois das explosões, que derrubaram no mar, em dois locais, parte da pista para automóveis.
Kiev não reivindicou a autoria, mas fez repetidas alusões ao desejo de destruir a ponte. Além disso, postagens de autoridades ucranianas nas redes sociais comemoraram a explosão e até ironizaram Moscou.
A Rússia construiu a ponte de Kerch para ligar a então recém-anexada Península da Crimeia à região russa de Krasnodar Krai, no norte do Cáucaso. A ponte foi inaugurada em 2018 e, na época, custou 3,6 bilhões de dólares. Com uma extensão de 19 quilômetros, o ambicioso projeto, feito para ajudar a reforçar a infraestrutura da Crimeia e fortalecer sua conexão com a Rússia, é a ponte mais longa da Europa.
De importância estratégica vital para a invasão de Moscou na Ucrânia, a estrutura é a única ligação terrestre com a península anexada ilegalmente pelos russos em 2014 e vem sendo usada principalmente como rota de abastecimento para as tropas russas em solo ucraniano.
As explosões levaram Putin a assinar um decreto autorizando o reforço das medidas de segurança para a ponte, dando poderes ao serviço secreto russo (FSB) para coordenar a proteção.
O decreto também reforçou a segurança em torno de outras infraestruturas críticas, como as linhas de fornecimento de eletricidade e gás natural para a Crimeia.
Ataques de mísseis em Zaporíjia
Também neste domingo, ao menos 12 pessoas morreram após um bombardeio na cidade ucraniana de Zaporíjia, e 49 pessoas foram hospitalizados, incluindo seis crianças, disseram autoridades ucranianas.
Um prédio de nove andares foi parcialmente destruído pelo ataque, cinco outros edifícios residenciais foram totalmente destruídos e muitos outros foram danificados por 12 ataques com mísseis russos, segundo Oleksandr Starukh, governador da região de Zaporíjia.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, confirmou o número das baixas e prometeu que aqueles que ordenaram e emitiram os ataques "impiedosos" serão responsabilizados.
le (Lusa, EFE, DPA, Reuters, AFP)
RÚSSIA - As forças russas reivindicaram na sexta-feira (7) suas primeiras conquistas no leste da Ucrânia após uma série de derrotas em várias frentes, mas Kiev parecia manter suas posições e pediu aos soldados russos que se rendam.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, em uma demonstração de confiança após uma série de sucessos alcançados durante sua contraofensiva, prometeu garantir "a vida, a segurança e a justiça" dos militares russos que optarem por se render.
"Eles ainda podem salvar a Rússia da tragédia e o exército russo da humilhação", ou então "permanecerem na memória como ladrões, estupradores e assassinos", lançou, depois que várias derrotas no front pressionaram o presidente russo, Vladimir Putin, a mobilizar centenas de milhares de reservistas.
Por sua vez, Moscou anunciou que conquistou três cidades no leste da Ucrânia depois de ter perdido milhares de quilômetros quadrados em várias frentes nas últimas semanas.
Separatistas pró-russos que lutam ao lado das forças de Moscou na Ucrânia disseram ter tomado as cidades de Otradivka, Vesela Dolina e Zaitseve.
O Ministério da Defesa russo já havia anunciado a captura de Zaitseve no dia anterior, em seu relatório diário.
Os três municípios estão localizados ao sul da cidade de Bakhmut, controlada pelas forças ucranianas e que o exército russo tenta conquistar há meses, sem sucesso.
- "Combates nas ruas" -
Nesta sexta-feira, em Bakhmut, jornalistas da AFP ouviram disparos de artilharia pesada e múltiplos lançadores de foguetes no centro da cidade, que tinha cerca de 70 mil habitantes antes da guerra.
Rajadas de metralhadoras também eram ouvidas de tempos em tempos. Um voluntário civil do grupo humanitário Vostok SOS, Eduard Skorik, 29 anos, disse à AFP que "combates de rua" ocorreram perto de sua casa.
Ao sul da cidade, indo em direção às cidades capturadas pelos russos, podia-se ver uma fumaça preta causada por projéteis.
As forças ucranianas também relataram vitórias territoriais nesta sexta-feira, como a cidade de Grekivka, na região de Luhansk (leste), segundo o governador Sergei Gaidai.
Na região ocupada de Kherson, no sul, pelo menos cinco civis morreram e outros cinco ficaram feridos em um bombardeio ucraniano que atingiu um ônibus que atravessava uma ponte com civis a caminho do trabalho, disse o oficial pró-russo Kirill Stremousov.
As forças ucranianas atacaram as pontes naquela região várias vezes para impedir o abastecimento logístico das forças russas.
A Presidência ucraniana também relatou um novo bombardeio russo na região de Zaporizhzhia (sul), pelo segundo dia consecutivo, que causou um ferido.
"Infraestruturas foram destruídas em dois distritos. O ocupante usou drones pela primeira vez", disse a fonte.
No dia anterior, 11 pessoas morreram em bombardeios russos em Zaporizhzhia, de acordo com os serviços de resgate ucranianos.
- Risco de "Armagedom" nuclear -
O chefe dos separatistas pró-russos na região de Donetsk (leste), Denis Pushilin, disse que a situação "mais difícil" acontecia perto de Lyman, um importante centro ferroviário, onde as tropas russas escaparam por pouco de serem cercadas por forças ucranianas.
Segundo ele, o exército russo está consolidando uma nova linha de defesa perto de Kreminna, mais ao leste, que as forças ucranianas "testam dia e noite".
"Acho que temos a chance de reunir forças e começar a libertar territórios com novas reservas", acrescentou, anunciando o envio de reforços.
A Rússia reivindicou na semana passada a anexação de quatro regiões que controla pelo menos parcialmente na Ucrânia, após "referendos" denunciados pela ONU, o governo ucraniano e seus aliados ocidentais.
Quanto à ameaça nuclear, não para de crescer.
Após as ameaças de Vladimir Putin de recorrer a armas nucleares para defender territórios que o Kremlin considera russos, seu homólogo ucraniano Volodimir Zelensky mencionou na quinta-feira ataques "preventivos" contra a Rússia.
A Presidência ucraniana rapidamente recuou e afirmou que Zelensky estava se referindo a "sanções" preventivas e não a bombardeios, mas autoridades russas expressaram sua indignação.
O Kremlin denunciou um "chamado para iniciar uma nova guerra mundial" e o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, considerou que essas declarações justificavam a invasão russa.
O presidente dos EUA, Joe Biden, alertou para o risco de um "Armagedom" nuclear pela primeira vez desde a Guerra Fria.
RÚSSIA - O presidente russo, Vladimir Putin, completou 70 anos nesta sexta-feira em meio a cumprimentos bajuladores de subordinados e um apelo do patriarca ortodoxo Kirill para que todos rezem pela saúde do líder da Rússia mais longevo desde Josef Stalin.
Putin está enfrentando o maior desafio de seu governo depois que a invasão da Ucrânia desencadeou o mais grave confronto com o Ocidente desde a crise dos mísseis cubanos de 1962. Seu Exército segue se recuperando de uma série de derrotas no mês passado.
As autoridades saudaram Putin como o salvador da Rússia moderna, enquanto o patriarca de Moscou e de todo o país implorou por dois dias de orações especiais para que Deus conceda a Putin "saúde e longevidade".
"Nós oramos a você, nosso Senhor Deus, pelo chefe do Estado russo, Vladimir Vladimirovich, e pedimos que você dê a ele sua rica misericórdia e generosidade, conceda-lhe saúde e longevidade, e liberte-o de todas as resistências dos inimigos visíveis e invisíveis, confirme-o em sabedoria e força espiritual, para todos, Senhor, ouça e tenha misericórdia", disse Kirill.
Putin, que prometeu acabar com o caos que tomou conta da Rússia após a queda da União Soviética em 1991, está enfrentando a mais séria crise militar que qualquer chefe do Kremlin enfrentou por pelo menos uma geração desde a guerra soviético-afegã de entre 1979 e 1989.
Opositores como o líder da oposição preso Alexei Navalny dizem que Putin levou a Rússia a um beco sem saída em direção à ruína, construindo um sistema frágil de bajuladores incompetentes que acabará por entrar em colapso e legar o caos.
Apoiadores dizem que Putin salvou a Rússia da destruição por um Ocidente arrogante e agressivo.
Mas a guerra na Ucrânia forçou Putin a queimar grandes quantidades de capital político, diplomático e militar.
Mais de sete meses após a invasão, a Rússia sofreu enormes perdas em tropas e equipamentos e foi derrotada em várias frentes no mês passado, enquanto o Exército de Putin pulava de uma humilhação para outra.
Putin recorreu a proclamar a anexação de territórios apenas parcialmente sob controle russo, e cujas fronteiras o Kremlin disse que ainda não foram definidas, e ameaçou defendê-los com armas nucleares.
Uma mobilização parcial declarada pelo presidente em 21 de setembro se desenrolou de forma tão caótica que até Putin foi forçado a admitir erros e ordenar mudanças. Centenas de milhares de homens fugiram para o exterior para evitar serem convocados.
Refletindo sobre o aniversário de Putin, o ex-redator de discursos do Kremlin, Abbas Gallyamov, disse: "Em um aniversário, é costume resumir os resultados, mas os resultados são tão deploráveis que seria melhor não chamar muita atenção para o aniversário".
Por Guy Faulconbridge e Mark Trevelyan / REUTERS
EUA - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que a ameaça russa de utilizar armas atômicas no conflito da Ucrânia coloca o mundo no maior risco de "Armagedom" nuclear desde a crise dos mísseis cubanos no auge da Guerra Fria.
"Não enfrentamos a perspectiva do Armagedom desde Kennedy e a crise dos mísseis cubanos", disse ele na quinta-feira (06/10), durante um evento de arrecadação de fundos do Partido Democrata.
O presidente americano alertou que Putin "não está brincando quando fala sobre o uso potencial de armas nucleares táticas ou armas biológicas ou químicas, porque suas forças armadas têm um desempenho significativamente abaixo do esperado".
Biden disse acreditar que o uso de uma arma tática de baixo rendimento pode sair do controle e levar à destruição global. "Não existe a capacidade de usar facilmente uma arma tática e não acabar em um Armagedom", alertou.
Há meses que autoridades americanas alertam para a possibilidade de a Rússia utilizar armas de destruição maciça na Ucrânia, após uma série de reveses estratégicos no campo de batalha. No entanto, ainda esta semana disseram não ter visto qualquer mudança nas forças nucleares russas que exigisse uma mudança na postura de alerta das forças nucleares dos EUA.
"Não vimos qualquer razão para ajustar a nossa própria postura nuclear estratégica, nem temos indicação de que a Rússia se está se preparando para utilizar iminentemente armas nucleares", disse na terça-feira a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Saída diplomática
O presidente americano também disse que Washington ainda busca uma saída diplomática. "Estamos tentando descobrir qual é a saída de Putin. Onde ele encontra uma saída? Onde ele se encontra em uma posição que não, não apenas perde prestígio, mas perde poder significativo na Rússia", acrescentou.
Putin aludiu repetidamente à utilização do vasto arsenal nuclear, incluindo no mês passado, quando anunciou os planos de mobilização parcial. "Quero lembrar que o nosso país também tem vários meios de destruição", ameaçou. "E quando a integridade territorial do nosso país for ameaçada, para proteger a Rússia e o nosso povo, usaremos certamente todos os meios à nossa disposição", disse Putin em 21 de setembro, acrescentando, com um olhar fixo na câmera: "Isto não é um blefe".
O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse na semana passada que os EUA têm sido "claros" para a Rússia sobre quais seriam as "consequências" da utilização de uma arma nuclear na Ucrânia.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que Putin compreendeu que o "mundo nunca perdoará" um ataque nuclear russo. "Ele compreende que após o uso de armas nucleares não seria mais capaz de preservar, por assim dizer, a sua vida, e estou confiante nisso", afirmou.
Ucrânia segue recuperando terreno
Apesar das ameaças de Moscou, as tropas ucranianas mantêm sua contraofensiva, recuperando quase toda a região de Kharkiv e importantes centros logísticos como Izium, Kupiansk e Lyman no leste.
"Somente desde 1º de outubro e na região de Kherson, mais de 500 quilômetros quadrados de território e dezenas de cidades foram liberados", declarou na noite de quinta-feira o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Horas antes, Zelenski havia pedido aos líderes europeus reunidos em uma cúpula em Praga que continuem com a ajuda militar a Kiev para que "tanques russos não avancem sobre Varsóvia ou Praga".
Os fornecimentos de armas dos EUA e da Europa indignaram as autoridades russas, que convocaram o embaixador francês em Moscou na quinta-feira precisamente por causa da ajuda militar oferecida por Paris a Kiev.
Putin, por sua vez, assegurou que a situação militar iria se "estabilizar", apesar das derrotas e fracassos na mobilização de centenas de milhares de reservistas, o que fez com que muitos homens em idade de lutar fugissem. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, assegurou que os territórios perdidos serão "recuperados".
Dias antes, Putin assinou a anexação de quatro regiões da Ucrânia sob controle parcial de suas tropas, o que abriria caminho para o uso de armas nucleares pois a doutrina de Moscou permitiria a utilização desse arsenal para proteger território russo. A anexação viola o direito internacional e foi duramente criticada por vários países.
UCRÂNIA - As autoridades ucranianas exumaram mais de 530 corpos de civis em territórios reconquistados às forças russas no nordeste do país desde o início da contraofensiva das suas forças armadas, anunciou esta quinta-feira a polícia de Kharkiv.
"Contámos e removemos nos territórios libertados os corpos de 534 civis, incluindo 226 mulheres, 260 homens, 19 crianças e 29 outras pessoas cujo sexo ainda não foi determinado", disse o chefe do departamento de investigação da polícia de Kharkiv, Serhiy Bolvinov, numa conferência de imprensa.
Bolvinov disse que estes números incluem os corpos exumados de uma floresta perto de Izium, onde foram encontradas cerca de 440 sepulturas não assinaladas após a partida dos russos em 16 de setembro.
As autoridades ucranianas dizem também ter encontrado dezenas de alegadas câmaras de tortura e centros de detenção onde os prisioneiros foram mantidos em condições desumanas.
A Polícia Nacional da Ucrânia disse, na quarta-feira, que está a investigar 928 alegados crimes de guerra cometidos por forças russas durante a sua ocupação da região de Kharkiv.
As forças russas foram acusadas de numerosos abusos nos territórios sob o seu controlo na Ucrânia, em particular em Bucha, arredores de Kiev, onde foram descobertos cadáveres de civis após a sua retirada da zona no final de março.
Moscovo negou ter cometido estes crimes e considerou uma mentira a descoberta de corpos em Izium.
Depois de ter recebido armamento ocidental, as tropas ucranianas iniciaram uma contraofensiva no final de agosto, que lhes permitiu recuperar algumas das zonas sob controlo de Moscovo.
Maior parte da região de Kharkiv sob controlo ucraniano
O exército ucraniano já recuperou a maior parte da região de Kharkiv, no nordeste, e está agora na ofensiva no leste do país, onde recentemente recapturou o nó ferroviário de Lyman, e no sul, onde tem como objetivo capturar a cidade de Kherson.
"As forças armadas ucranianas libertaram mais de 400 quilómetros quadrados da região de Kherson desde o início de outubro", disse esta quinta-feira a porta-voz do comando militar no sul, Natalia Gumeniuk, citada pela agência francesa AFP.
Kherson é uma das quatro regiões ucranianas que a Rússia anexou no final de setembro, no âmbito da sua invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro deste ano.
Além de Kherson, foram anexadas pela Rússia as regiões de Donetsk, Lugansk e Zaporijia, onde se situa a maior central nuclear da Europa.
O exército de Moscovo disse esta quinta-feira, no seu relatório diário, que "o inimigo foi afastado da linha de defesa das tropas russas" na região de Kherson.
Segundo Moscovo, as forças ucranianas destacaram quatro batalhões táticos para esta frente e "fizeram várias tentativas para romper as defesas russas" perto de Dudchany, Sukhanove, Sadok e Bruskinskoye.
As informações sobre o curso da guerra divulgadas pelas duas partes não podem ser verificadas de imediato de forma independente. A invasão russa da Ucrânia foi condenada pela generalidade da comunidade ocidental e os aliados ocidentais têm fornecido armamento às forças armadas ucranianas.
Lusa
RÚSSIA - O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu na quarta-feira (5) que a situação militar nos territórios ucranianos que Moscou anexou se "estabilizará", depois de sofrer uma série de derrotas no campo de batalha e ver várias cidades serem retomadas pelas forças de Kiev.
"Partimos do princípio de que a situação nos novos territórios se estabilizará", disse o mandatário russo a um grupo de professores durante uma chamada de vídeo transmitida pela televisão.
Putin também assinou um decreto pelo qual a Rússia se apropria formalmente da central nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelas tropas russas, mas gerida até então por funcionários ucranianos.
Após o anúncio, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, informou que viajava para a capital ucraniana para discutir a implementação de uma zona de proteção ao redor da usina nuclear.
A usina, a maior da Europa, encontra-se em Zaporizhzhia, uma das quatro regiões oficialmente anexadas por lei pela Rússia nesta quarta-feira. As outras três são Lugansk e Donetsk, no leste, e Kherson, no sul.
Apesar da anexação destes territórios, Moscou vem sofrendo várias derrotas militares no último mês. Um alto funcionário do Parlamento russo pediu aos militares que parassem de "mentir" e dissessem a verdade sobre a evolução da situação na Ucrânia.
"Os relatórios do Ministério da Defesa não mudam. O povo sabe disso. Nosso povo não é burro. Isso pode levar à perda de credibilidade", criticou o presidente da Comissão de Defesa da Câmara Baixa, Andrei Kartapolov.
- "Desocupação de Lugansk" -
Enquanto isso, Kiev reivindica novas vitórias, tanto no sul quanto no leste do país. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, informou que três novas aldeias foram retomadas na região de Kherson (sul) e que a contra-ofensiva "continua".
Horas antes, o governador ucraniano da região, Serguei Gaidai, indicou no Telegram que as tropas de Kiev iniciaram a retomada de cidades em Lugansk, até então controlada quase integralmente pela Rússia e bastião dos separatistas pró-Moscou desde 2014.
Agora é oficial. A desocupação da região de Lugansk começou", declarou.
A Ucrânia já havia reivindicado na terça-feira avanços no norte da região de Kherson (sul). Além disso, quase toda a região de Kharkiv (nordeste) está novamente sob controle ucraniano.
O exército russo, por sua vez, afirmou nesta quarta-feira ter bombardeado nas últimas 24 horas territórios perto de Lyman, um centro ferroviário estratégico na região de Donetsk retomado por Kiev no fim de semana passado. A cidade, localizada na região de Donetsk, foi recapturada no fim de semana por tropas ucranianas.
Na região de Kherson, as forças de Moscou "mantêm suas posições e repelem ataques de forças inimigas superiores em número", acrescentou.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que os territórios serão russos "para sempre" e prometeu que Moscou vai recuperar as áreas perdidas.
Há alguns dias, Putin prometeu que usaria todos os meios disponíveis para defender as zonas anexadas, inclusive armas nucleares, mas isto não impediu o avanço da contraofensiva ucraniana nem as entregas de armas pelos países ocidentais.
Na terça-feira, o exército russo reconheceu parcialmente suas derrotas ao publicar mapas que ilustram os êxitos mais recentes da contraofensiva ucraniana.
- "Pelo menos há silêncio" -
Autoridades da ocupação russa afirmaram, no entanto, que a retirada russa no sul era tática e temporária.
"O reagrupamento no fronte nas condições atuais permite reunir forças e dar um golpe nas tropas ucranianas", disse Kirill Stremooussov, designado comandante em Kherson, à agência russa Ria Novosti.
Embora as autoridades russas tentem minimizar os reveses, os correspondentes de guerra da imprensa russa enfatizam sua magnitude e muitos analistas pró-Kremlin criticam o exército russo.
"Não haverá boas notícias no futuro próximo. Nem da frente de Kherson, nem da frente de Lugansk", comentou Alexander Kots, do jornal Komsomolskaïa Prava.
Em Lyman, para onde os jornalistas da AFP viajaram nesta quarta-feira, Tatiana Slavuta, 62, não sabe se a "situação é melhor ou pior" desde que Kiev recuperou a cidade. "Pelo menos agora há silêncio e nenhum bombardeio", disse.
Na frente diplomática, a União Europeia (UE) chegou a um acordo nesta quarta-feira para uma nova série de sanções contra instituições e personalidades russas.
E Moscou exigiu participar na investigação sobre os vazamentos no gasoduto Nord Stream, depois que a Suécia, responsável pela investigação, bloqueou o acesso à área da suposta sabotagem no Mar Báltico.
A Rússia insinua que o governo dos Estados Unidos estaria por trás da sabotagem dos gasodutos que são cruciais para o fornecimento de energia da Europa, enquanto o Ocidente suspeita de Moscou.
UCRÂNIA - Autoridades russas de ocupação no sul da Ucrânia pediram na terça-feira (4) que não cedam ao "pânico", embora as forças de Moscou tenham recuado diante de uma contraofensiva das tropas ucranianas na região de Kherson.
Desde o início de setembro, as forças ucranianas já infligiram uma série de reveses aos russos no nordeste e leste.
O governador da ocupação imposto pelas Rússia em Kherson, Vladimir Saldo, admitiu um "avanço" dos ucranianos, especificamente mencionando a perda do controle da cidade de Dudchany, embora tenha afirmado que a aviação russa freou as tropas de Kiev, segundo uma entrevista publicada na segunda-feira em seu canal do Telegram.
Seu adjunto Kirill Stremousov disse nas redes sociais nesta terça-feira que o avanço ucraniano foi contido e que não há que entrar em "pânico".
O canal russo Rybar, que acompanha os movimentos das tropas de Moscou, revelou que os ucranianos estão avançando em Arkhanguelske e Dudchany com o objetivo de "cortar o abastecimento dos grupos russos que estão na margem direita do rio Dnieper".
Segundo estimativas ocidentais e ucranianas, cerca de 20.000 soldados russos teriam sido mobilizados nesta área.
Nas últimas semanas, as forças ucranianas concentraram suas forças contra as posições e depósitos russos na margem direita do Dnieper e nas pontes deste rio para cortar as linhas de abastecimento.
- Novas cidades libertadas -
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou em seu discurso de segunda-feira à noite que "novas cidades foram libertadas em várias regiões".
"Cada vez mais os ocupantes procuram fugir, mais e mais perdas são infligidas ao inimigo", acrescentou.
Há dias, vídeos de soldados ucranianos levantando sua bandeira em cidades do norte da região de Kherson são publicados na Internet.
No início da invasão contra a Ucrânia, as tropas russas controlavam a cidade de Kherson, que é a única capital regional que conseguiram capturar. Estima-se que 80% da região esteja sob o controle dos russos.
Após uma série de contratempos no norte e no leste, o presidente russo Vladimir Putin decidiu anunciar a anexação de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, quatro regiões ucranianas que estão sob controle parcial da Rússia, e decretou a mobilização de centenas de milhares de reservistas.
No dia seguinte à cerimônia de oficialização da anexação, Zelensky anunciou que suas forças haviam retomado o controle de Lyman, um local estratégico por ser um importante nó ferroviário no leste da Ucrânia.
A mobilização de reservistas na Rússia desenvolveu-se de forma caótica, gerando críticas à convocação de pessoas que deveriam ter sido dispensadas por motivos de saúde ou familiares.
Além disso, essa convocação gerou protestos na Rússia e um êxodo de homens em idade de servir, o que levou dezenas de milhares de pessoas a fugir para países como Cazaquistão, Mongólia ou Finlândia.
- Mais de 200 mil soldados recrutados -
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, elogiou o processo, afirmando que desde que a ordem de alistamento foi emitida no dia 21, mais de 200.000 soldados se juntaram ao exército.
"Até hoje, mais de 200.000 pessoas se alistaram no exército", disse Shoigu em uma reunião, citado por agências de notícias russas.
De acordo com Shoigu, as tropas mobilizadas estão sendo treinadas em cerca de 80 campos militares e seis centros de treinamento.
Putin, por sua vez, prometeu defender os territórios anexados, com a ameaça de até mesmo recorrer ao uso de armas nucleares e instando a Ucrânia a cessar os combates.
De sua parte, Zelensky respondeu na sexta-feira afirmando que não negociará com a Rússia enquanto Putin for presidente.
Enquanto isso, os ocidentais reiteraram seu compromisso de apoiar a Ucrânia, enviando armas e munições modernas que infligiram grandes perdas às forças russas.
UCRÂNIA - A Ucrânia parece estar a caminho de alcançar vários de seus principais objetivos no campo de batalha, à medida em que Kiev avança para fortalecer sua posição militar contra a Rússia antes da chegada do inverno, disse uma alta funcionária do Pentágono nesta segunda-feira.
A avaliação otimista de Celeste Wallander, secretária assistente de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional, veio no mesmo dia em que as forças ucranianas alcançaram seu maior avanço no sul do país desde o início da guerra.
As tropas ucranianas atravessaram as linhas russas e avançaram rapidamente ao longo do rio Dnipro, ameaçando as linhas de abastecimento de milhares de tropas russas.
Wallander destacou os últimos esforços em andamento na região sul de Kherson, como os sucessos recentes em Kharkiv e Donetsk.
"A Ucrânia parece estar no caminho certo para alcançar esses três objetivos agora", disse Wallander ao Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington.
Um oficial militar dos EUA, informando repórteres do Pentágono sob condição de anonimato, disse, no entanto, que Washington - que está armando e aconselhando os militares da Ucrânia - ainda não viu um reforço russo em grande escala de suas tropas na Ucrânia.
"Em termos gerais, vimos números relativamente pequenos (de reforços russos)... mas nada de grande escala nesta fase do jogo", disse o funcionário.
Kiev deu poucas informações sobre seus últimos ganhos no sul, mas fontes russas reconheceram que uma ofensiva de tanques ucranianos avançou dezenas de quilômetros ao longo da margem oeste do rio, recapturando várias aldeias ao longo do caminho.
"O objetivo da Ucrânia é empurrar para trás a cabeça de ponte russa na margem ocidental do Dnipro em Kherson", explicou Wallander.
Isso, segundo ela, representaria "uma grande derrota para a Rússia".
"Porque isso afasta ainda mais a ambição da Rússia de tomar Odessa, que era um dos objetivos declarados no início deste ano", disse Wallander.
"Fica muito mais difícil e dá à Ucrânia uma posição defensiva muito melhor para enfrentar o que provavelmente será uma contenção dos combates quentes durante o inverno".
Phil Stewart; reportagem adicional de Tom Balmforth / REUTERS
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