UCRÂNIA - No dia em que a Ucrânia celebrou 31 anos de independência do domínio soviético, o presidente Volodimir Zelenski disse que dois ataques na região de Dnipropetrovsk (sudeste do país) deixou pelo menos 22 pessoas mortas e 50 feridas. Kiev vinha alertando sobre a possível intensificação de bombardeios russos na data, que coincidiu com os seis meses do início da guerra.
Em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta quarta (24), Zelenski afirmou que forças russas dispararam mísseis contra a estação de Tchapline, a cerca de 145 quilômetros de Donetsk (cidade controlada por separatistas pró-Moscou). "Quatro vagões de passageiros estão pegando fogo. Os funcionários estão trabalhando, mas, infelizmente, o número de vítimas ainda pode aumentar", disse.
Antes disso, outro ataque russo atingiu uma área próxima e matou uma criança de 11 anos, segundo o governo.
Na terça (22), o presidente havia citado o risco de um "ataque brutal" e outras provocações no Dia da Independência, feriado que ganhou novo significado diante da invasão russa, iniciada em fevereiro.
Temendo que os moradores se expusessem a mísseis disparados pelas forças de Vladimir Putin, o governo ucraniano proibiu eventos públicos, o que deixou as ruas da capital, Kiev, menos movimentadas do que costumam ficar em festividades tradicionalmente marcadas por um desfile militar.
O ataque anunciado por Zelenski mudou o panorama do dia. Até o meio da tarde no horário brasileiro nenhuma ação de porte havia sido registrada, embora sirenes antibombas tenham soado em Kiev e outros locais. Mesmo com os alertas, algumas pessoas se reuniram no centro da capital, onde carcaças de tanques russos capturados em combate estão em exibição. A Khreschatik, uma das principais vias da cidade, transformou-se em museu militar para a celebração de um feriado indissociável da guerra.
"Provavelmente ninguém fez tanto para unir a Ucrânia quanto Putin", disse o ucraniano Ievhen Palamartchuk, 38, à agência Reuters. "Sempre tivemos algumas tensões internas no país, mas desde 2014 [ano da anexação da Crimeia], e especialmente desde fevereiro, estamos mais unidos do que nunca."
O tom da declaração é semelhante ao que Zelenski usou em seu discurso do Dia da Independência. Falando em frente ao monumento central de Kiev, o presidente disse que o país renasceu quando foi invadido pela Rússia, acrescentando que vai resistir à invasão até o fim, sem fazer concessões ou assumir compromissos que possam ir contra os interesses da Ucrânia.
"Uma nova nação surgiu em 24 de fevereiro às 4h da manhã. Não nasceu, mas renasceu. Uma nação que não chorou, não gritou, não se apavorou. Não fugiu. Não desistiu. E não esqueceu", afirmou o presidente, em vídeo, adotando o tom ufanista que marca seus discursos no contexto do conflito com a Rússia.
Zelenski também repetiu a afirmação de que vai recuperar a Crimeia a qualquer custo, assim como as áreas do leste ora ocupadas pelas tropas de Putin. Segundo ele, a Ucrânia não vê mais a guerra terminando quando houver paz, mas quando for, de fato, vitoriosa.
"O ocupante acreditou que em poucos dias estaria desfilando no centro da nossa capital. Hoje, você pode ver esse desfile em Khreschatik. A prova de que o equipamento inimigo pode aparecer no centro de Kiev apenas dessa forma: queimado, em ruínas e destruído." A fala fez referência ao início do conflito, quando Moscou fez uma empreitada ousada, mas que se mostraria falha, para tentar conquistar Kiev no susto.
Em seu discurso, o líder ucraniano citou ainda o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, dizendo que, mesmo falando inglês, ele se faz mais compreensível e próximo de Kiev do que os "assassinos, estupradores e saqueadores que cometem crimes em russo".
Boris, que anunciou sua renúncia no início do mês, fez nesta quarta nova viagem surpresa à Ucrânia, onde se encontrou com Zelenski e anunciou um pacote militar de US$ 63,5 milhões (R$ 324 milhões), incluindo 2.000 drones e munições o dia também reservaria o anúncio de novo auxílio americano.
O premiê britânico, a quem Zelenski descreveu como "querido amigo Boris", disse que é vital que a Europa mantenha seu apoio militar e econômico à Ucrânia, mesmo com o aumento dos preços da energia e dos alimentos impactando os consumidores do continente.
"Para todos os nossos amigos, eu simplesmente digo isso, devemos continuar. Devemos mostrar como amigos da Ucrânia que temos a mesma resistência estratégica que o povo da Ucrânia", disse.
O ataque à estação de trem marcou a celebração da independência e o aniversário da guerra, em certa maneira cumprindo a previsão de Zelenski de que Putin tentaria "algo particularmente feio". Moscou, no entanto, não deu início ao julgamento de soldados ucranianos capturados durante a tomada de Mariupol o que também vinha sendo alardeado como um ato de agravamento das tensões.
UCRÂNIA - A Ucrânia lutará "até o fim" contra a invasão russa, sem fazer nenhuma concessão ou compromisso, afirmou nesta quarta-feira (24) o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em uma mensagem do Dia da Independência do país, que também marca os seis meses de guerra.
"Não nos importamos com o exército que vocês têm, só nos importamos com nossa terra. Lutaremos por ela até o fim", declarou Zelensky em um vídeo.
"Permanecemos firmes há seis meses. É difícil, mas cerramos os punhos e estamos lutando pelo nosso destino", acrescentou.
"Para nós, a Ucrânia é toda a Ucrânia. Todas as 25 regiões, sem qualquer concessão ou compromisso".
"O que é para nós o fim da guerra? Antes respondíamos 'paz'. Agora dizemos 'vitória'. Não vamos tentar nos dar bem com os terroristas russos", disse Zelensky.
Também nesta quarta-feira, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, principal aliado da Rússia, feliciou o povo ucraniano no Dia da Independência.
"Estou convencido de que as atuais divergências não poderão destruir a base multissetorial das relações sinceras de boa vizinhança entre os povos dos dois países", afirmou Lukashenko em uma mensagem.
Belarus continuará defendendo o "reforço dos contatos amistosos baseados no respeito mútuo em todos os níveis com Kiev", acrescentou.
"O presidente bielorrusso desejou aos ucranianos um céu pacífico, tolerância, coragem e força para restabelecer um bom caminho", acrescentou o serviço de imprensa de presidência.
Principal aliado de Moscou, o presidente Lukashenko, que governa Belarus desde 1994, deu ao exército russo acesso a seu território para que pudesse iniciar a ofensiva contra a Ucrânia em 24 de fevereiro.
EUA - A embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia advertiu nesta terça-feira (23) que a Rússia pode atacar "nos próximos dias" infraestruturas civis e edifícios governamentais, e recomendou aos cidadãos do país que "saiam da Ucrânia".
"O Departamento de Estado dispõe de informações segundo as quais a Rússia intensifica seus esforços para executar ataques contra infraestrutura civil e instalações governamentais na Ucrânia nos próximos dias", afirmou a embaixada em uma mensagem publicada em seu site, sem revelar mais detalhes.
A nota pede aos cidadãos americanos que "saiam da Ucrânia no momento e utilizem os meios de transporte terrestre privados disponíveis".
O conflito, iniciado em 24 de fevereiro com a invasão russa, completará seis meses na quarta-feira.
Após o recuo das forças russas dos arredores de Kiev no fim de março, os principais combates se concentram no leste da Ucrânia, onde Moscou avançou de maneira lenta até chegar a uma fase de estagnação, e no sul, onde as tropas ucranianas anunciaram uma lenta contraofensiva.
A Rússia, no entanto, continua atacando de maneira frequente as cidades ucranianas com mísseis de longo alcance, mas raramente apontam contra a capital ou seus arredores.
UCRÂNIA - Alguns moradores de Kiev observavam outros tiravam selfies/fotos com vários tanques russos capturados e/ou destruídos que foram levados para serem exibidos em uma das principais vias da capital ucraniana, o jornalista ucraniano Oleksiy Sorokin, tuitou:
"Os russos finalmente conseguiram seu desfile militar no centro de Kiev. No entanto, há uma pegadinha".
No próximo dia 24 de agosto a Ucrânia comemora o aniversário de independência do país, o que ocorreu pelo parlamento ucraniano, conhecido como Rada, proclamando a independência do país da antiga União Soviética.
"Em fevereiro, os russos estavam planejando um desfile no centro de Kiev. Seis meses após o início da guerra, a vergonhosa exibição de metal russo enferrujado é um lembrete para todos os ditadores de como seus planos podem ser arruinados por uma nação livre e corajosa", disse uma mensagem com imagens dos tanques divulgada no perfil do Twitter do Ministério da Defesa da Ucrânia.
In February, russians were planning a parade in downtown Kyiv.
— Defense of Ukraine (@DefenceU) August 20, 2022
6 months into the large-scale war the shameful display of rusty russian metal is a reminder to all dictators how their plans may be ruined by a free and courageous nation.#FreedomIsOurReligion
? @zaklyashtor pic.twitter.com/H1fbw2UaSS
Um porta-voz das Forças Armadas da Ucrânia disse que os combatentes russos que avançaram até os arredores da capital ucraniana no início do conflito haviam trazido uniformes de desfile, numa demonstração de confiança de que Kiev seria facilmente dominada. Porém, não foi o que aconteceu.
Os tanques russos finalmente entraram em Kiev, mas como troféus de guerra dos ucranianos e não dominando a Ucrânia como os russos imaginavam.
Um site que contabiliza as perdas dos equipamentos militares na guerra da Ucrânia, apontou em agosto, que a Rússia já havia 5.000 veículos militares desde o início da invasão, incluindo mais de 900 tanques de guerra.
Oleksii Reznikov, ministro da defesa ucraniana postou em seu Twitter: "Os agressores sonhavam em capturar Kiev em três dias. Os invasores pretendiam realizar um desfile em nossa capital. Ok. Eles estão agora aqui. Como toneladas de sucata", tuitou.
The delusional ?? arrogantly invaded ??. I saw for myself the ceremonial uniforms in their tanks.
— Oleksii Reznikov (@oleksiireznikov) August 20, 2022
The aggressors dreamt of capturing Kyiv in 3 days.
The occupiers intended to hold a parade in our capital.
Ok, they're here.
Tons of scrap metal.
Buy nicotine patches, occupants! pic.twitter.com/KulMXWwt2t
Na última quinta-feira,18, um relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido relatou "grande desgaste" dos tanques russos na Ucrânia, que atribuiu parcialmente à "falha da Rússia em empregar adequadamente armadura explosiva reativa (ERA) adequada" nos veículos.
"Isso sugere que as forças russas não corrigiram uma cultura de mau uso do ERA, que remonta à Primeira Guerra da Chechênia em 1994", apontou as autoridades de defesa britânicas.
UCRÂNIA - O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou na sexta-feira (19) um novo pacote de ajuda militar para a Ucrânia avaliado em US$ 775 milhões, que inclui vários tipos de mísseis, artilharia e sistemas de limpeza de minas.
O pacote inclui mais mísseis para os sistemas de artilharia de precisão Himars, que permitiram às forças ucranianas atacar os centros de comando russos e os depósitos de munições bem atrás das linhas de frente, e mais armas antiblindagem, incluídos mísseis TOW e sistemas Javelin.
Também proporciona drones de vigilância Scan Eagle, mísseis antirradiação de alta velocidade (HARM, na sigla em inglês) e obuses de 105 mm, assim como 36.000 projéteis de artilharia.
"Queremos ter certeza de que a Ucrânia tenha um fluxo constante de munições para satisfazer suas necessidades, e é isto o que estamos fazendo com este pacote", disse aos jornalistas um funcionário de alto escalão do Pentágono.
O funcionário disse que as forças da Ucrânia fizeram bom uso dos pacotes de armas enviados pelos Estados Unidos desde que Moscou invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro, que os ajudaram a conter o avanço das forças russas.
"Estamos vendo uma completa e total falta de progresso por parte dos russos no campo de batalha", disse o funcionário, que falou na condição de anonimato.
"Os russos continuam pagando um preço alto com os ataques ucranianos, especialmente o sistema Himars", disse o funcionário. "Eles não conseguem avançar", acrescentou.
Por outro lado, a fonte do Pentágono admitiu que os ucranianos não conseguiram recuperar território significativo ao longo das linhas de frente no leste e no sul do país.
Contudo, o novo pacote de armas ajudará a fortalecer a resistência ucraniana, garantiu o funcionário americano, que também assinalou que é muito importante "manter as conquistas que vimos dos ucranianos no campo de batalha".
O funcionário disse que a inclusão do equipamento de limpeza de minas, que conta com 40 veículos resistentes a minas com esteiras que podem detonar esses artefatos de forma segura, é para ajudar os ucranianos com mais ações ofensivas.
"Os ucranianos vão precisar deste tipo de capacidade para poder impulsionar suas forças e retomar o território", assinalou.
TURQUIA - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou na quinta-feira (18) que seu país está do lado da Ucrânia na guerra contra a Rússia.
"Enquanto continuamos nossos esforços para encontrar uma solução, permanecemos ao lado de nossos amigos ucranianos", disse. A declaração, que poderia soar como a repetição de outras manifestações de apoio por parte de aliados de Kiev, chama a atenção por contrastar com os passos recentes de Erdogan nos últimos meses, o turco vinha se aproximando de seu homólogo russo, Vladimir Putin.
Há duas semanas, por exemplo, os dois líderes estiveram juntos em Sochi, no sudoeste da Rússia, e concordaram em fortalecer a cooperação econômica entre os dois países. A aproximação era monitorada e vista com ressalvas pelo Ocidente. Analistas especulavam que Ancara, que integra a Otan (aliança militar ocidental), poderia ajudar Moscou a contornar sanções impostas como retaliação contra a guerra que está prestes a completar seis meses.
O aceno de Erdogan a Kiev se deu durante visita do turco a Lviv, no oeste da Ucrânia, onde se encontrou com o presidente Volodimir Zelenski e com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Reforçando o trânsito que tem com Moscou, o presidente turco disse que um dos temas discutidos na reunião foi a troca de prisioneiros de guerra acrescentando que ele apresentaria uma proposta a respeito a Putin. Parentes de ucranianos que se renderam à Rússia após semanas de embates no polo siderúrgico de Azovstal, em Mariupol, organizaram um protesto nesta quinta pedindo às Nações Unidas mais esforços para protegê-los.
Na reunião, a Turquia também se comprometeu a ajudar a Ucrânia a reconstruir a infraestrutura destruída durante o conflito, e as lideranças discutiram soluções políticas para o fim dos confrontos, a segurança da usina nuclear de Zaporíjia e o recente tratado para o escoamento da produção de cereais.
O acordo de reconstrução foi assinado pelo ministro do Comércio turco, Mehmet Mus, e pelo ministro da Infraestrutura ucraniano, Oleksandr Kubrakov. Os detalhes do tratado ainda não estão claros, mas as autoridades disseram que uma força-tarefa será criada para atrair investimentos, desenvolver projetos de cooperação e facilitar os trabalhos.
"As estruturas empresariais e governamentais turcas poderão desenvolver projetos específicos de reconstrução, bem como prestar consultoria e assistência técnica", disse, em comunicado, a pasta ucraniana.
Erdogan manifestou preocupação com o cenário da usina de Zaporíjia. O maior complexo nuclear da Europa foi tomado pela Rússia em março, mas ganhou centralidade na fase atual da Guerra da Ucrânia. Moscou acusa Kiev de disparar de forma imprudente em ataques contra o local, enquanto os ucranianos afirmam que as tropas invasoras provocam explosões propositais para interromper o fornecimento de energia no país.
"Estamos preocupados, não queremos outra Tchernóbil", disse Erdogan, referindo-se ao pior acidente nuclear da história, ocorrido em 1986, quando a Ucrânia ainda fazia parte da União Soviética.
UCRÂNIA - Quatro pessoas morreram e 20 ficaram feridas em novos bombardeios russos nesta quinta-feira contra Kharkiv e outra cidade próxima na região nordeste da Ucrânia, anunciaram as autoridades regionais.
"Às 4H30 (22H30 de Brasília, quarta-feira), o inimigo lançou oito mísseis a partir da cidade de Belgorod (na Rússia) contra Kharkiv", informou no Telegram o governador da região, Oleg Sinegubov.
"No bairro de Slobidsky, um dos mísseis atingiu um edifício residencial. O imóvel ficou parcialmente destruído. De acordo com as informações preliminares, duas pessoas morreram e 18 ficaram feridas, incluindo duas crianças", disse.
Outro bombardeio com mísseis atingiu a cidade de Krasnograd, 80 quilômetros ao sul de Kharkiv, e provocou duas mortes.
Os bombardeios aconteceram no dia da visita à Ucrânia do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que deve se reunir com os presidentes ucraniano Volodymyr Zelensky e turco Recep Tayyip Erdogan em Lviv, oeste do país.
RÚSSIA - A Otan exigiu, nesta quarta-feira (17), uma "inspeção urgente" da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na usina de Zaporíjia, no sul da Ucrânia, alvo de ataques dos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente, aumentando o temor de um desastre nuclear. Kiev alertou que qualquer cenário é possível, enquanto suas equipes de resgate participam de exercícios simulados de agressões a instalações nucleares e suas tropas reforçam uma contraofensiva na Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
A explosão em um depósito militar russo na Crimeia, na terça-feira (16), é parte de uma tentativa ucraniana de enfraquecer as bases de retaguarda russas, no sul da Ucrânia. O exército russo revelou que um depósito militar perto de Djankoi, no norte da região anexada pela Rússia, tinha "sido danificado em consequência de um ato de sabotagem", sem, no entanto, nomear os responsáveis.
Em um vídeo obtido pela agência de notícias AFP, é possível ver nuvens de fumaça, das quais surgem bolas de fogo. “Várias infraestruturas civis, incluindo uma linha de alta tensão, uma central elétrica, uma linha ferroviária, bem como várias casas foram danificadas”, informou o exército russo.
As explosões ocorrem uma semana depois que outro aeródromo militar russo foi danificado, em Saki, na Crimeia. Moscou mencionou, então, um acidente, enquanto especialistas e imagens de satélite pareciam revelar o resultado de um ataque ucraniano. Pelo menos nove aviões foram destruídos, segundo o analista dinamarquês Oliver Alexander.
Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Crimeia tem servido como base logística para as forças russas. A ofensiva no sul da Ucrânia, que permitiu a Moscou conquistar grandes extensões de território nas primeiras semanas da guerra, começou por esta região.
O Instituto Norte-Americano para o Estudo da Guerra (ISW) analisa que esses ataques a posições russas na Crimeia sejam "parte de uma contraofensiva ucraniana coesa destinada a recuperar o controle da margem ocidental do Dnipro". As forças de Kiev também dispararam contra pontes que atravessam esse rio, com o objetivo de impedir o abastecimento e o reforço das tropas russas presentes na região de Kherson, prossegue o relatório americano.
Nesta quarta-feira, a Ucrânia ameaçou derrubar a ponte Kerch, construída por Moscou para conectar a Rússia à península anexada da Crimeia. "Esta ponte é uma estrutura ilegal e a Ucrânia não deu permissão para a sua construção", escreveu o assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, no Telegram.
Neste 175º dia da guerra, o governador pró-ucraniano da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, relatou vários bombardeios russos que deixaram pelo menos dois mortos e treze feridos nas regiões separatistas do leste da Ucrânia.
Infraestruturas são alvo
Ao mesmo tempo, os russos miram nas infraestruturas ucranianas, como as redes de abastecimento de água. É o que destaca Franck Galland, especialista em questões de segurança relacionadas aos recursos hídricos.
“Antes do conflito, Mariupol havia investido maciçamente em redes para abastecimento de água. Hoje, estes investimentos estão todos parados e a infraestrutura existente foi destruída. Mesmo se houver paz amanhã, a cidade levará cerca de 20 anos para se reconstruir”, explicou em entrevista à RFI o autor de "War and Water” (edições Robert Laffont). “A população não é abastecida e os hospitais, sem água, não podem tratar dos feridos”, acrescenta.
Medo de acidente nuclear
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que é "urgente autorizar uma inspeção pela AIEA" na usina nuclear de Zaporíjia. Ele também pediu a "retirada de todas as forças russas" da maior central elétrica da Europa, controlada por Moscou desde o início de março. A ocupação russa da usina de Zaporíjia "representa uma ameaça séria para as instalações [e] aumenta o risco de um acidente ou um incidente nuclear", alertou.
Ciberataque
Nesta terça-feira (16), o operador público ucraniano de usinas nucleares Energoatom denunciou um ciberataque russo "sem precedentes" contra o seu site, afirmando, no entanto, que a operação na usina não foi interrompida. O grupo de piratas russos "People's Cyber Army" usou 7,25 milhões de robôs de internet que atacaram o site Energoatom por três horas, garantiu a empresa ucraniana, mas sem "impacto considerável".
A Ucrânia deve se preparar para "todos os cenários" na usina nuclear de Zaporíjia, ocupada por tropas russas e alvo de repetidos bombardeios, alertou o ministro do Interior ucraniano, Denys Monastyrsky, nesta quarta-feira.
Moscou e Kiev se acusam mutuamente por esses ataques que visam a usina. "Ninguém poderia imaginar que as tropas russas iriam disparar contra reatores nucleares usando tanques. Era algo impensável", afirmou o ministro durante uma viagem a Zaporíjia, cidade localizada a cerca de cinquenta quilômetros desta instalação nuclear.
Preparação para acidentes nucleares
Dezenas de equipes de resgate ucranianas participaram, nesta quarta-feira, de exercícios de primeiros socorros em caso de acidente nuclear em Zaporíjia. Equipados com máscaras de gás e roupas de proteção, eles treinaram para retirar os feridos e limpar os veículos contaminados.
"Devemos nos preparar para todos os cenários possíveis", disse Monastyrsky, acusando a Rússia de ser um "estado terrorista”. De acordo com a mesma fonte, “enquanto a Rússia controlar a usina nuclear de Zaporíjia, há grandes riscos".
O chefe do operador nuclear ucraniano Energoatom, Petro Kotin, estima que até 500 soldados russos, bem como cerca de cinquenta veículos militares, incluindo blindados e tanques, estejam na usina nuclear de Zaporíjia neste momento. “O pior é que, nas últimas duas ou três semanas, eles colocaram esses veículos na sala de máquinas das unidades 1 e 2", onde a eletricidade é produzida, disse Kotine, ex-diretor da instalação.
RÚSSIA - O exército russo chamou de "ato de sabotagem" a explosão desta terça-feira no depósito de munições de uma base militar na Crimeia, península anexada pela Rússia.
O depósito militar, perto de Dzhankoi, ao norte da Crimeia, "foi danificado na manhã de 16 de agosto por um ato de sabotagem", afirma um comunicado militar, citado por agências de notícias russas, que não aponta os responsáveis pela ação.
"Infraestruturas civis, como uma linha de alta tensão, uma central elétrica, uma ferrovia e várias casas também foram danificadas", explicou o Exército em seu comunicado.
Por volta das 03h15 GMT (00h15 no horário de Brasília), um incêndio ocorreu em um depósito temporário de munição em uma base russa no distrito norte de Dzhankoi.
"Após o incêndio, ocorreu uma detonação de munições", disse o Ministério da Defesa russo.
O governador da Crimeia, Sergei Aksionov, que foi ao local, indicou que dois civis ficaram feridos e que a retirada dos habitantes de um município vizinho estava em andamento.
"A manhã perto de Dzhankoi começou com explosões", disse o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak no Twitter. "A Crimeia, em um país normal, é o Mar Negro, as montanhas, a diversão e o turismo. Mas a Crimeia ocupada pelos russos é de explosões de depósitos de munição e um alto risco de morte para invasores e ladrões", afirmou.
O chefe da administração presidencial ucraniana, Andriy Yermak, comemorou no Telegram "um trabalho de ourives das forças armadas ucranianas em uma operação de 'desmilitarização'" que continuará, segundo ele, "até a completa libertação dos territórios ucranianos".
UCRÂNIA - "Se morrermos, acontecerá em um segundo e não sofreremos", diz Anastasia, moradora de Marganets. Nesta cidade ucraniana, a poucos quilômetros da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelas tropas russas, a população vive com medo constante.
Nos últimos dias, Kiev e Moscou se acusaram mutuamente de realizar bombardeios no complexo da usina nuclear, a maior da Europa.
Na quinta-feira, os ataques danificaram alguns sensores de nível de radioatividade.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertou para a gravidade da situação.
Marganets está a apenas 13 quilômetros de Zaporizhzhia. A cidade, localizada no topo de uma colina, permanece sob controle ucraniano e dela é possível ver, do outro lado do rio Dnieper, a usina nuclear construída nos tempos soviéticos.
"Se morrermos, acontecerá em um segundo e não sofreremos. Me tranquiliza saber que meu filho e minha família não sofrerão", diz Anastasia, 30 anos, fazendo compras.
- "Coisas terríveis" -
A usina nuclear de Zaporizhzhia está na linha de frente desde que foi tomada pelas tropas russas no início de março, dias após o Kremlin ordenar a invasão da Ucrânia.
Em Marganets, os militares ucranianos aconselham a não se aproximar da margem do rio Dnieper, por medo de que o inimigo atire da margem oposta, a cerca de 6 quilômetros de distância.
A cidade, que tinha cerca de 50.000 habitantes antes da guerra, tem um centro animado onde as pessoas vivem suas vidas diárias além dos pensamentos sombrios e rumores persistentes sobre o estado dos seis reatores da usina.
"Estou com medo por meus pais e por mim. Quero viver e aproveitar a vida nesta cidade", diz Ksenia, de 18 anos, que atende clientes em um café na principal rua comercial.
"O medo é constante. E as notícias dizem que a situação na usina é muito tensa, então cada segundo que passa é terrível. Você tem medo de dormir, porque coisas horríveis acontecem à noite", acrescenta.
Em Marganets e Nikopol, outra cidade a uma curta distância rio abaixo, 17 pessoas foram mortas esta semana em ataques noturnos, segundo autoridades locais.
A Ucrânia acusa a Rússia de disparar do outro lado do rio e de dentro do complexo nuclear.
As tropas ucranianas se abstêm de responder por medo de desencadear uma catástrofe.
Na sexta-feira, um alto funcionário ucraniano disse à AFP que as tropas russas estão até "atirando em algumas áreas da usina para dar a impressão de que a Ucrânia está fazendo isso".
Uma situação que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu como "chantagem nuclear".
"Acho que os russos estão usando a usina como um ás, para perseguir seus próprios objetivos", diz Anton, de 37 anos.
A Ucrânia foi em 1986 cenário do desastre nuclear de Chernobyl, 530 quilômetros a noroeste de Marganets.
Naquele ano, um reator nuclear explodiu, liberando radiação na atmosfera. Cerca de 600.000 pessoas foram alistadas como "liquidadores", encarregados de descontaminar a terra ao redor da usina.
O número oficial de mortos é de apenas 31, mas algumas estimativas falam de dezenas de milhares e até centenas de milhares de mortes.
Em Marganets existe um monumento a esses "liquidadores".
Ao lado da cratera aberta por um foguete que caiu em Marganets à noite, Sergei Volokitin, de 54 anos, relembra aqueles tempos.
"Depois que me formei trabalhei na mina, e na minha equipe havia duas pessoas que eram liquidadores", lembra.
"Sabíamos tudo o que acontecia lá. Conhecemos os efeitos da radiação e quais serão as consequências se algo acontecer".
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