UCRÂNIA - A Ucrânia anunciou, na segunda-feira (26), que está investigando uma suposta vala comum no nordeste do país, perto da fronteira russa, dez dias depois da descoberta de mais de 440 sepulturas e de uma vala comum na mesma região.
O local onde está localizada a suposta vala comum é uma fazenda industrial, que fica perto da cidade de Kozacha Lopan, a menos de três quilômetros da fronteira com a Rússia.
Durante a ocupação russa da região nos últimos meses, o Exército russo escondeu seus tanques lá.
Autoridades ucranianas disseram nesta segunda-feira que encontraram "até 100 corpos", sem dar mais detalhes.
No domingo (25), o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse ao canal americano CBS News que "mais duas valas comuns, grandes valas comuns, com centenas de pessoas", foram encontradas enterradas, mas não disse onde.
No início de setembro, as tropas ucranianas lançaram uma contraofensiva, com a qual recuperaram grandes extensões de território nesta região.
A suposta vala comum permanece, contudo, ao alcance do fogo da artilharia russa. Além disso, as equipes ucranianas ainda trabalham na desminagem, o que impossibilita que as equipes científicas realizem buscas neste momento.
De acordo com Lyudmila Vakulenko, chefe da administração local de Kozacha Lopan, o Exército ucraniano fez uma primeira tentativa de recuperar a cidade dos russos em abril, mas falhou.
Após a libertação da cidade, "os militares me disseram que tinham visto um local onde os soldados eram enterrados, mas não me disseram quantas" sepulturas havia, disse Vakulenko, nesta segunda-feira.
As autoridades ucranianas suspeitam de que tropas russas tenham enterrado soldados e civis ucranianos e russos lá.
Em meados de setembro, as autoridades ucranianas encontraram mais de 440 sepulturas e uma vala comum perto de Izium, em uma floresta de pinheiros nos arredores desta cidade do nordeste reconquistada por Kiev.
Desde o início de sua intervenção militar na Ucrânia, a Rússia negou repetidamente que suas tropas tivessem cometido quaisquer abusos. O Kremlin chamou a descoberta de centenas de túmulos em Izium de "mentiras".
RÚSSIA - Os referendos de anexação pela Rússia começaram na sexta-feira (23) em regiões da Ucrânia controladas total ou parcialmente por Moscou, num processo denunciado por Kiev e o Ocidente. As votações, consideradas um “simulacro” pelo governo ucraniano, são o prenúncio de uma provável escalada do conflito.
Os referendos começaram às 7h no horário local e poderão ser realizados até 27 de setembro nas regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk (leste), e em áreas sob ocupação russa nas regiões de Kherson e Zaporíjia (sul). As votações são idealizadas há meses por Moscou, mas o calendário parece ter sido acelerado após a contra-ofensiva ucraniana, que obrigou o Exército russo a recuar no nordeste do país.
As consultas populares foram anunciadas pelo presidente Vladimir Putin no início da semana, que chegou a ameaçar com ataques nucleares para defender o que considera ser territórios russos.
De antemão, não há qualquer dúvida sobre o resultado destes referendos, organizados às pressas. O pleito foi criticado com veemência pelo governo ucraniano e seus apoiadores ocidentais, que acusam Moscou de repetir a estratégia utilizada na península da Crimeia em 2014, para assumir o controle de faixas inteiras de território ucraniano.
"Realizar este referendo é um passo histórico. Estamos voltando para casa", celebrou o líder da região separatista pró-Rússia de Donetsk, Denis Pushilin, em um vídeo publicado na manhã de sexta-feira no Telegram.
Os separatistas encarregados dos procedimentos eleitorais em Donetsk indicaram que, "por razões de segurança", já que os combates permanecem, a votação seria organizada principalmente de porta em porta durante quatro dias. As seções de votação abrirão "apenas no último dia", ou seja, em setembro 27.
Serão 450 e 461 seções nas regiões de Donetsk e Lugansk, respectivamente, 394 em Zaporíjia e 198 em Kherson. Vários locais de votação também foram abertos na Rússia para permitir o voto de "refugiados" que fugiram dos combates, segundo agências de notícias russas.
Aceleração dos planos
Os moradores das regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, que já declararam "independência", devem decidir se querem ou não fazer parte da Rússia. Já em Kherson e Zaporíjia, parcialmente ocupadas pelas forças russas, a pergunta feita é: "Você quer se separar da Ucrânia, criar estados independentes e se tornar parte da Rússia?"
O presidente da câmara baixa do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, exortou na sexta-feira seus "compatriotas" – os pró-russos da Ucrânia – a "escolher integrar a Rússia". "Nós vamos apoiá-los", disse.
Mesmo que a anexação dessas quatro áreas não seja reconhecida pela comunidade internacional, ela marcará um ponto de virada na ofensiva que a Rússia lidera na Ucrânia desde 24 de fevereiro. Na quarta-feira, o presidente Vladimir Putin decretou uma mobilização parcial de russos em idade de combate, que envolverá pelo menos 300 mil pessoas.
Acusando os ocidentais de querer "destruir" a Rússia, Putin também ameaçou usar "todos os meios", incluindo os nucleares – declarações que foram fortemente condenadas pelos Estados Unidos e a União Europeia.
"Combustível no fogo"
Até a China, próxima de Moscou, tomou distância da Rússia após o anúncio dos referendos, pedindo “respeito à integridade territorial dos Estados”. A Rússia também se viu isolada no Conselho de Segurança da ONU, onde o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, liderou acusações nesta quinta-feira.
"O fato de o presidente Putin ter escolhido esta semana, quando a maioria dos líderes mundiais se reúne na ONU, para adicionar combustível ao fogo que ele começou demonstra seu total desrespeito à Carta da ONU", disse Blinken, que se recusou a se encontrar com seu colega russo, Sergei Lavrov.
"A ordem internacional que tentamos salvar aqui está sendo destruída diante de nossos olhos. Não podemos deixar o presidente Putin se safar", adicionou ele, na reunião convocada pela presidência francesa.
Lavrov, presente na sala do conselho, onde também discursou, não estava sentado na mesma mesa dos demais ministros, sendo substituído por um deputado.
(Com informações da AFP)
RÚSSIA - Rússia e Ucrânia realizaram uma inesperada troca de prisioneiros nesta quarta-feira, a maior desde o início da guerra, envolvendo quase 300 pessoas, incluindo 10 estrangeiros e os comandantes que lideraram a longa campanha de defesa ucraniana na cidade de Mariupol no início deste ano.
Os estrangeiros libertados incluem dois britânicos e um marroquino que haviam sido condenados à morte em junho depois de serem capturados lutando pela Ucrânia. Também foram libertados outros três britânicos, dois norte-americanos, um croata e um sueco.
O momento e a magnitude da troca foram uma surpresa, já que o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma mobilização parcial de tropas no início do dia, em uma aparente escalada do conflito que começou em fevereiro. Separatistas pró-Rússia também disseram no mês passado que os comandantes de Mariupol iriam a julgamento.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse que a troca --que envolveu a ajuda da Turquia e da Arábia Saudita-- estava em preparação há muito tempo e envolveu intensa negociação. Sob os termos do acordo, 215 ucranianos --a maioria dos quais capturados após a queda de Mariupol-- foram libertados.
Em troca, a Ucrânia enviou de volta 55 russos e ucranianos pró-Moscou, além de Viktor Medvedchuk, líder de um partido pró-Rússia banido que enfrentava acusações de traição.
"Esta é claramente uma vitória para nosso país, para toda a nossa sociedade. E o principal é que 215 famílias podem ver seus entes queridos seguros e em casa", disse Zelenskiy em um discurso em vídeo.
Por Valentyn Ogirenko e Aziz El Yaakoubi / REUTERS
RÚSSIA - O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou, esta quarta-feira, a mobilização parcial de cidadãos russos para reforçar o contigente militar destacado na Ucrânia.
Trata-se da primeira comunicação dirigida ao país desde o início da invasão russa da Ucrânia. Vladimir Putin anunciou a "mobilização parcial" de cidadãos russos na Ucrânia. O chefe de Estado adiantou que, para já, se tratam de reservistas com experiência militar relevante.
De acordo com o ministério de Defesa da Rússia, serão mobilizados, de imediato, 300 mil reservistas, dos cerca de 25 milhões de que o país dispõe.
A três dias de se completarem sete meses de guerra na Ucrânia, Vladimir Putin justificou a decisão com a necessidade de "defender a soberania e a integridade territorial do país".
Esta nova diretriz surge dias após os militares ucranianos terem reconquistado vários territórios no leste da Ucrânia, naquela que é a maior contra-ofensiva dos últimos meses. Em resposta, Putin abre, assim, caminho a uma nova escalada do conflito.
No discurso que foi transmitido na televisão, o líder do Kremlin acusou, uma vez mais, o Ocidente de querer destruir a Rússia e de usar "chantagem nuclear".
"A chantagem nuclear também foi usada. Estamos a falar não só do bombardeamento da central nucelar de Zaporíjia, incentivado pelo Ocidente, que ameaça causar uma catástrofe nuclear, mas também de declarações de altos representantes dos países da NATO sobre a possibilidade e permissibilidade de usar armas de destruição em massa contra a Rússia: armas nucleares", salientou.
Putin garantiu que irá defender a Rússia e recordou que o país possui "várias armas de destruição", algumas mais avançadas do que aquelas que os países da NATO possuem.
Em resposta à ameaça à integridade territorial do nosso país, para proteger a Rússia e o nosso povo, vamos usar, sem dúvida, todos os meios de que dispomos. Não se trata de 'bluff'.
O chefe de Estado disse ainda que vai aumentar o fabrico de armamento e abrir novas fábricas.
Reações Internacionais ao discurso de Putin
O discurso do líder do Kremlin era aguardado desde ontem, mas acabou por ser adiado para a manhã desta quarta-feira.
Vários líderes ocidentais já criticaram este novo passo de Moscovo e consideram que representa um sinal de que a invasão está a falhar.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, já garantiu que o apoio da União Europeia à Ucrânia irá "permanecer firme".
Entretanto, a embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, garantiu que os norte-americanos vão apoiar a Ucrânia "pelo tempo que for necessário".
Já Mark Rutte, chefe do governo dos Países Baixos, disse considerou que a moiblização militar da Rússia é um "sinal de pânico" por parte de Moscovo.
Ben Wallace, ministro da Defesa do Reino Unido, partilha da mesma opinião e referiu que este anúncio é a "admissão de que a invasão está a falhar".
"A quebra do presidente Putin das suas próprias promessas de não mobilizar partes da população e a anexação ilegal de partes da Ucrânia são uma admissão de que a sua invasão está a falhar", salientou, num post feito na mesma rede social.
De salientar que, após o discurso de Putin, a procura de voos para sair da Rússia disparou, de acordo com dados do Google Trends.
Zelensky já reagiu ao discurso de Vladimir Putin
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já reagiu publicamente às declarações, dizendo não acreditar que Putin use as armas nucleares.
"Eu não acredito que ele vá usar essas armas (nucleares). Eu não acho que o mundo vá permitir que ele as use", disse, numa entrevista à estação de televisão alemã Bild TV.
O chefe de Estado ucraniano voltou a salientar que o homólogo russo quer afogar "a Ucrânia em sangue".
RÚSSIA - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, defendeu, esta terça-feira, que para a “paz ser estabelecida na Ucrânia”, a Rússia terá de devolver o território invadido, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.
Em entrevista à estação norte-americana PBS, o líder turco foi questionado sobre se “uma solução” para o conflito passaria por dar à Rússia o território invadido. A resposta foi clara: “Não, sem dúvida que não”.
“Quando falamos de um acordo recíproco, é sobre isto que nos referimos. Se for estabelecida uma paz na Ucrânia, claro, o regresso do território que foi invadido tornar-se-á realmente importante. Isto é o que se espera. Isto é o que se pretende. [O presidente russo] Putin deu alguns passos. Nós demos certos passos”, asseverou.
Já quando pressionado sobre a Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014, Erdogan revelou que já “pediu” a Putin que devolvesse o território “aos seus legítimos proprietários”. “Desde 2014, temos vindo a falar com o meu querido amigo Putin sobre isto, e foi o que lhe pedimos. Pedimos-lhe que devolvesse a Crimeia aos seus legítimos proprietários. Infelizmente não foi dado qualquer passo em frente”, explicou.
Erdogan recusou dizer quem considerava estar “em vantagem” na guerra, afirmando que “pessoas estão a morrer e, no final de contas, ninguém vai ganhar”. “Tudo o que queremos fazer e queremos ver é o fim desta batalha com paz. Seja Putin, seja [Volodymyr Zelensky], sempre o pedi e recomendei”, disse à estação.
"I got together with President Putin and had very extensive discussions with him. And he is actually showing me that he's willing to end this as soon as possible," Erdoğan said. https://t.co/6wzhD6cWBR
— PBS NewsHour (@NewsHour) September 20, 2022
Segundo o presidente turco, a Rússia e a Ucrânia terão concordado em "trocar 200 prisioneiros na sequência de um acordo entre as partes". Erdogan não deu outros pormenores sobre este acordo, nem sobre as pessoas envolvidas - civis ou soldados.
Para o chefe de Estado turco, que se encontrou com Putin na semana passada em Samarcanda, no Uzbequistão, o presidente russo "quer acabar com esta guerra o mais rápido possível".
Sublinhe-se que em agosto, Erdogan encontrou-se primeiro com Putin na cidade russa de Sochi e, duas semanas depois, com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Lviv.
Antes, em julho, a diplomacia turca teve um importante papel no desbloqueio da exportação de cereais ucranianos e de fertilizantes russos, com Istambul a servir de cenário para a assinatura de acordos sobre a exportação de cereais e de produtos agrícolas através do Mar Negro, firmados pela Ucrânia, Rússia, Turquia e as Nações Unidas.
Márcia Guímaro Rodrigues / NOTÍCIAS AO MINUTO
IZIUM - Policiais, militares e desativadores de minas ucranianos estavam ocupados nesta sexta-feira (16) no meio de uma floresta na entrada da cidade de Izium: após a partida dos russos, uma vala comum de soldados ucranianos e centenas de sepulturas foram encontradas.
Na estrada principal de Izium a Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, uma pequena trilha de terra leva a uma floresta de pinheiros com solo arenoso.
À direita da trilha, cem metros dentro da floresta, dois homens de túnica branca cavam delicadamente a areia no fundo de uma sepultura com uma cruz e a inscrição: "exército ucraniano 17 pessoas. Izium, do necrotério ", segundo jornalistas da AFP.
Depois, encontram um primeiro cadáver que exumam e colocam em um saco plástico branco. Outros corpos aparecem depois, espalhando um forte cheiro de putrefação.
Ao redor da sepultura, há centenas de sepulturas com cruzes enumeradas, algumas delas com nomes e datas.
As datas, sem dúvida da morte das pessoas enterradas, vão desde o início de março, quando a cidade ainda estava sob controle ucraniano, até o início de setembro.
A maioria das cruzes sem nome é feita de madeira bruta, e aquelas com nomes são feitas de madeira envernizada ou pintada, às vezes adornada com flores. Numa delas, foi colocado um pequeno copo em homenagem ao falecido, provavelmente identificado pela família.
Segundo Oleg Kotenko, funcionário do governo responsável pela busca de desaparecidos, "há uma família enterrada lá, com uma criança. Eles foram mortos, há testemunhas no mesmo prédio, viram o que aconteceu e enterraram as pessoas aqui".
Pelo menos um corpo com as mãos amarradas com uma corda foi exumado esta sexta-feira, apurou um jornalista da AFP.
No momento não foi possível apurar se é um civil ou um militar, porque o corpo está muito deteriorado, segundo o jornalista.
- Autópsias e testes de DNA -
Segundo Kotenko, "os túmulos sem nome são de pessoas (encontradas) na rua".
No total, segundo ele, a floresta abriga mais de 440 sepulturas, cavadas durante os combates na tomada da cidade pelas forças russas em março e durante a ocupação russa, que terminou na madrugada de sábado para domingo passado.
Ao redor das sepulturas, várias equipes de desminagem buscam, por meio de detectores de metais portáteis, eventuais minas ou artefatos explosivos, não muito longe do cemitério mais antigo.
Também são visíveis trincheiras e posições para os tanques, cavados na areia da floresta, que sem dúvida deve ter sido ocupada por soldados de ambos os lados durante os combates.
É no fundo de uma dessas posições destinadas aos tanques, um buraco de quatro metros por sete, onde estão a vala comum e seus soldados enterrados.
"Achamos que há 16 ou 17 corpos. Vamos exumar agora para uma autópsia em Kharkiv, onde serão feitos testes de DNA", diz Kolenko.
Segundo ele, esta descoberta foi feita graças a um vídeo publicado nas redes sociais e que a AFP teve acesso.
Um homem, carregando uma bandeira russa, diz no vídeo: "Devemos levar os corpos dos soldados ucranianos para o necrotério e enterrá-los, já que a Ucrânia não os quer".
"As negociações com as autoridades ucranianas não funcionaram, elas se recusaram a levar os corpos, por isso os enterramos no cemitério da cidade", acrescenta o homem no vídeo.
Outro vídeo mostra corpos de soldados, embrulhados em sacos de cadáveres e levados do necrotério.
UCRÂNIA - O governo da Ucrânia anunciou nesta sexta-feira que 450 sepulturas foram encontradas perto de Izium, cidade do leste do país reconquistada recentemente das forças russas.
"É apenas um dos locais de enterros em larga escala encontrados perto de Izium", na região de Kharkiv, escreveu no Twitter o conselheiro da presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak.
"Durante meses, o terror, a violência, a tortura e os assassinatos em massa reinaram nos territórios ocupados", acrescentou.
Desde o início do mês, a Ucrânia recuperou o controle de milhares de quilômetros quadrados, graças a uma contraofensiva executada em várias frentes de batalha contra as tropas russas.
Os avanços mais importantes aconteceram na região de Kharkiv, na fronteira com a Rússia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou na quarta-feira a cidade de Izium, que tinha quase 50.000 habitantes antes da guerra e que foi cenário de combates intensos na primavera (outono no Brasil), antes de ser tomada pelos russos.
A cidade, transformada em um ponto crucial para o abastecimento das tropas russas, foi reconquistada pelo exército ucraniano na semana passada.
Zelensky anunciou na quinta-feira à noite a descoberta de uma "vala comum" em Izium, sem detalhar o número de pessoas enterradas ou a causa das mortes.
Um comandante da polícia regional, Serguii Botvinov, afirmou ao canal Sky News que algumas pessoas morreram atingidas por tiros e outras em bombardeios.
As forças russas foram acusadas pela Ucrânia de cometer atrocidades nos territórios ocupados, incluindo Bucha, uma cidade próxima a Kiev de onde as tropas de Moscou se retirou no fim de março e onde foram encontrados dezenas de corpos de civis executados. A Rússia negou ter cometido os crimes.
RÚSSIA - Quando se encontrarem às margens de um fórum de segurança da Ásia bancado pela China no Uzbequistão, Vladimir Putin e Xi Jinping terão muito a falar. Se o farão na mesma língua, metaforicamente claro, é outra história.
O líder chinês faz sua reestreia no cenário internacional após a pandemia com a visita à mítica Samarcanda, não por acaso um centro da Rota da Seda, que Xi buscou reviver no seu governo na forma de um mastodôntico projeto multinacional de infraestrutura que até usa o nome da antiga via comercial entre China, Ásia e Europa.
Mas sua agenda mirando o encontro daqui pouco mais de um mês do Partido Comunista Chinês, que o irá reconduzir a um inédito terceiro mandato e entronizar ainda mais sua visão de mundo na Constituição, será ofuscada pelas sombras em torno do colega russo.
Putin está em seu pior momento político desde o começo da Guerra da Ucrânia, 20 dias após seu último encontro com Xi, em fevereiro, quando ambos selaram a entrada de Moscou na Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington.
Um século se passou desde então. No mundo ideal de Xi, Putin teria matado a fatura na Ucrânia rapidamente e submetido a Otan liderada pelos EUA a um vexame histórico, dando cartas no jogo energético no qual ainda tem vários ases na manga.
Isso cristalizaria a posição chinesa de líder em um mundo polarizado, e ai de Taiwan. A ilha vista como rebelde por Xi está imersa em um contexto histórico diverso do da Ucrânia, mas o temor ocidental de que Pequim se sentiria tentada a forçar a anexação do território com um Putin triunfal não é de todo infundado.
O apoio russo na mais recente crise, com a provocação de Nancy Pelosi ao visitar a ilha, reforçou essa impressão.
Como mundos ideais não resistem ao calor da batalha, seis meses depois Putin se vê lidando com uma crise na região nordeste da Ucrânia. Por óbvio, o noticiário ocidental é "Kiev-dependente" e torcedor, mas parece evidente que os russos estão em apuros ao deixar a província de Kharkiv.
Se isso significa uma virada na maré da guerra, não é possível aferir agora. As posições de Moscou no leste e sul da Ucrânia parecem estáveis, e os relatos de que há uma fuga de autoridades russas da Crimeia anexada soam exagerados.
Isso dito, até pela opacidade do processo decisório russo, a impressão que transparece em conversas com analistas em Moscou é a do proverbial "barata-voa". Quando um aliado do Kremlin como o tchetcheno Ramzan Kadirov critica em termos duros a condução da guerra, algo está fora da ordem usual.
Nada disso significa que Putin esteja a um passo de ser derrubado por um golpe palaciano, como sonham propagandistas do outro lado. Até aqui pelo menos, ele parece ter endurecido ainda mais o controle sobre as estruturas políticas do país, embora qualquer assertiva aqui precise de cautela.
Não é casual, de toda forma, que esse líder enfraquecido esteja enfrentando justo agora uma segunda crise em uma de suas fronteiras estratégicas, no caso o sul do Cáucaso, na forma dos renovados combates entre Armênia e Azerbaijão.
Nesta quarta (14), o Ministério da Defesa em Ierevan alertou para o risco de uma guerra entre os dois países, dado o grau de violação do cessar-fogo entre eles na região armênia de Nagorno-Karabakh, uma herança do colapso soviético no meio do território azeri.
Em 2020, Baku venceu a segunda guerra sobre o lugar, mas não o reconquistou totalmente porque os russos, aliados históricos dos armênios, ainda que atravessados com a liderança política do país, mediaram uma trégua instável e enviaram forças de paz.
Os EUA até sugeriram que a crise foi instigada por Putin, visando um diversionismo para mostrar força, como fez ao mandar soldados para ajudar a autocracia do Cazaquistão em janeiro. Não parece muito factível.
O sujeito nem tão oculto aqui é a Turquia, fiadora do governo azeri, interessada em retomar a influência que já teve como Império Otomano em toda a região -uma rota histórica de invasões contra a Rússia, assim como suas fronteiras ocidentais na Ucrânia e na Belarus, ora um apêndice russo.
O autocrata turco, Recep Tayyip Erdogan, saiu fortalecido em 2020 no Cáucaso e, na Ucrânia, é apoiador do governo de Volodimir Zelenski enquanto mantém laços com Putin. Agora, parece testar sua ambiguidade, ao ver Baku atacar interesses armênios em meio à guerra europeia.
O Azerbaijão também manteve uma boa relação com Moscou, mas é igualmente fato que seu governo rico em gás natural está de olho nos mercados europeus que estão lentamente se fechando ao produto russo. Bom negócio para Baku, aumento de poder regional para Erdogan -que também irá encontrar-se com Putin em Samarcanda, onde também estará outro rei do jogo duplo, o premiê indiano Narendra Modi.
Aí entra Xi. O Kremlin voltou a balançar a aliança com Pequim antes do encontro, como que para lembrar o mundo de que não está sozinho. Fotos serão tiradas, e sinais de apoio serão emitidos pelo chinês. O que sairá em termos de ajuda efetiva é incógnito.
No casamento com a China, o dote de Moscou era seu poderio militar, não só nuclear, mas convencional. Economicamente, a Rússia é dez vezes menor do que o vizinho e parece fadada a ser tratada como uma província energética na relação.
Com a musculatura bélica russa desafiada e exposta como ineficaz, ainda que pontualmente, em tese Xi poderia tomar proveito da situação e firmar-se como macho alfa da relação. Pegaria bem internamente, mas um Putin muito desgastado não lhe serve no jogo que apresenta a Joe Biden e amigos do Ocidente.
Por outro lado, com uma crise econômica grave para resolver, o chinês ainda não pode prescindir da interdependência que mantém com EUA e aliados, o que explica sua posição moderada na crise da Ucrânia. É um xadrez de múltiplas camadas sobrepostas, e elas se encontrarão bem no meio da mítica Rota da Seda.
IGOR GIELOW / FOLHA de S.PAULO
BALAKLIIA - A Ucrânia estabeleceu o objetivo de libertar todo o território ocupado pelas forças invasoras russas depois de expulsá-las em uma rápida contraofensiva no nordeste do país, e há indicações de que mais ajuda militar dos Estados Unidos está a caminho para apoiar a missão.
Em um discurso na noite desta terça-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse que cerca de 8 mil quilômetros quadrados foram liberados até agora, aparentemente todos na região de Kharkiv, no nordeste.
"Medidas de estabilização" foram concluídas em cerca de metade desse território, disse Zelenskiy, "e em uma área liberada que tem aproximadamente o mesmo tamanho, as medidas de estabilização ainda estão em andamento".
A Reuters não conseguiu verificar imediatamente a dimensão do sucesso alegado pela Ucrânia no campo de batalha.
Desde que Moscou abandonou seu principal bastião no nordeste do país, no sábado, marcando sua pior derrota desde os primeiros dias da guerra, as tropas ucranianas recapturaram dezenas de cidades em uma impressionante mudança no ímpeto do campo de batalha.
Em Washington, a Casa Branca afirmou que os Estados Unidos provavelmente anunciarão um novo pacote de ajuda militar para a Ucrânia nos "próximos dias". As forças russas deixaram posições defensivas principalmente em torno de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, disse um porta-voz dos EUA.
As forças russas ainda controlam cerca de um quinto do território da Ucrânia, no sul e no leste, mas Kiev está agora na ofensiva em ambas as áreas.
Falando na praça central de Balakliia, um importante centro de abastecimento militar tomado pelas forças ucranianas no final da semana passada, a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse que 150 mil pessoas foram libertadas do domínio russo na área.
Bandeiras ucranianas foram hasteadas e uma grande multidão se reuniu para receber pacotes de ajuda humanitária. Um shopping center foi destruído, mas muitos prédios permaneceram intactos, com lojas fechadas e lacradas.
"O objetivo é libertar a região de Kharkiv e além - todos os territórios ocupados pela Federação Russa", disse Malyar na estrada para Balakliia, que fica 74 km a sudeste de Kharkiv.
(Reportagem adicional de Pavel Polityuk, Olzhas Auyezov, Aleksandar Vasovic, Miranda Murray e outros repórteres da Reuters)
RÚSSIA - A propaganda russa sobre a guerra na Ucrânia teve de se adaptar rapidamente ao revés militar dos últimos dias imposto por Kiev. A mudança de tom é registrada pela imprensa francesa.
Em sua edição desta terça-feira (13), o jornal Libération relata as críticas de nacionalistas russos contra o presidente Vladimir Putin, após a retomada pelo Exército ucraniano de uma parcela importante de território antes ocupada pelas tropas russas ao redor da cidade de Kharviv (nordeste). O Kremlin precisou de 24 horas para ajustar uma propaganda na qual a Rússia não aparece mais como invencível, com armas mágicas capazes de destruir o oeste. Agora, Moscou vende a ideia de que não luta apenas contra a Ucrânia, mas contra todo o Ocidente. E afirma que os soldados russos foram enviados para o sul da Ucrânia não por terem sido expulsos ou fugido diante do contra-ataque ucraniano, mas para retornarem mais fortes, mais tarde, escreve o jornal.
Moscovitas nacionalistas não se conformam com a mudança de tom da redatora-chefe do canal de TV Russia Today, Margarita Simonyan - veículo financiado pelo Estado - que de repente passou a evocar o "passado comum" entre a Rússia e a Ucrânia, depois de passar meses propagando a violência contra os ucranianos nas redes sociais.
Para justificar a debandada das tropas russas de Kharkiv, os jornais russos agora falam de "operação de reagrupamento de soldados", assinala o Parisien. O diário registra outras críticas ao presidente russo, Vladimir Putin, inclusive de aliados muito próximos, como o presidente checheno, Ramzan Kadyrov. Ele enviou soldados para a linha de frente na Ucrânia e agora diz que a Rússia "errou em sua estratégia militar".
Embaixador francês em Kiev considera vitória ucraniana "possível"
Em entrevista ao site France Info, o embaixador da França na Ucrânia, Étienne de Poncins, disse que a Ucrânia tem chances de vencer a guerra contra a Rússia. "Esta hipótese não pode mais ser excluída", afirmou o diplomata.
Em um vídeo divulgado na noite de segunda-feira (12), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informou que seu Exército liberou da ocupação russa 6.000 quilômetros quadrados, no leste e sul do país, desde o início de setembro. O dobro da área divulgada no domingo.
Os Estados Unidos continuam cautelosos. "É muito cedo para dizer exatamente onde isto vai levar", disse o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, durante uma visita à Cidade do México.
A Rússia bombardeia as áreas recém-liberadas, principalmente nos setores de Kupiansk e Izium. Informação que é confirmada pelas autoridades ucranianas, que evocam 40 explosões em instalações civis e militares na segunda-feira.
Adriana Moysés / RFI
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