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RÚSSIA - O presidente russo, Vladimir Putin, disse na terça-feira (12/04) que o que está acontecendo na Ucrânia "é uma tragédia", mas que a Rússia "não teve escolha" a não ser lançar o que ele chamou de "uma operação militar especial" - o eufemismo usado pelo Kremlin para a guerra de agressão no país vizinho.

Falando em público sobre a guerra pela primeira vez desde que as forças russas se retiraram do norte da Ucrânia, Putin afirmou que a Rússia triunfará em todos os seus "nobres" e "claros" objetivos na ex-república soviética. O presidente não mencionou as denúncias de atrocidades cometidas por tropas russas e o bombardeio indiscrimado de áreas civis.

O chefe do Kremlin também destacou que o confronto "com as forças antirussas" que surgiram na Ucrânia era inevitável e que era apenas uma questão de tempo para que ocorresse.

"Eles começaram a transformar a Ucrânia em um campo de desfile antirusso, começaram a cultivar os brotos do nacionalismo e do neonazismo que estavam lá há muito tempo", disse, repetindo a narrativa do Kremlin para justificar a guerra, que pinta o governo ucraniano, liderado pelo judeu Volodimir Zelenski, como uma organização "dominada por nazistas".

Segundo Putin, não havia outra alternativa, pois era preciso defender os falantes de russo do leste da Ucrânia e impedir que a ex-república soviética se tornasse um trampolim anti-russo para os inimigos de Moscou.

 

Discurso ao lado de Lukashenko

O discurso foi feito em um evento para celebrar o 61º aniversário da viagem do primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin. Putin esteve acompanhado do presidente belarusso, Alexander Lukashenko, um de seus poucos aliados políticos, em visita ao Cosmódromo de Vostochny, no extremo leste da Rússia.

Questionado por funcionários da agência espacial russa se a operação na Ucrânia atingiria seus objetivos, Putin afirmou que "não tem nenhuma dúvida". "Seus objetivos são absolutamente claros e nobres", disse Putin. "Não há dúvida de que serão alcançados", acrescentou.

"O principal objetivo é ajudar o povo de Donbass, o povo de Donbass, que reconhecemos e que fomos forçados a defender, porque as autoridades de Kiev, pressionadas pelo Ocidente, se recusaram a cumprir os Acordos de Minsk visando uma solução pacífica dos problemas", afirmou.

Putin alegou que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, declarou publicamente que Kiev "não gosta" de nenhuma cláusula dos Acordos de Minsk, enquanto "outros funcionários declararam que sua implementação é impossível".

"Eles o rejeitaram publicamente. Bem, era simplesmente impossível continuar tolerando esse genocídio que durou oito anos", afirmou Putin, referindo-se ao conflito armado entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-Rússia em Donetsk e Lugansk.

 

Erva daninha do neonazismo

Putin afirmou que na Ucrânia "a erva daninha do neonazismo foi especialmente cultivada" e que o confronto da Rússia contra essas forças "era inevitável".

"Infelizmente, o neonazismo se tornou um fato da vida em um país relativamente grande perto de nós. Isso é uma coisa óbvia: era inevitável, era apenas uma questão de tempo", disse.

Kiev e o Ocidente consideram a narrativa do Kremlin como um falso pretexto para invadir a Ucrânia. O governo ucraniano afirma que está lutando por sua sobrevivência, depois que Putin anexou a Crimeia em 2014 e que reconheceu como soberanas, em 21 de fevereiro, duas regiões ucranianas onde lutam rebeldes pró-Moscou.

Putin acrescentou que a "operação militar" prosseguirá conforme o planejado, enquanto o país pró-ocidental se prepara para uma grande ofensiva russa no leste.

"Nossa tarefa é cumprir e alcançar todas as metas estabelecidas, minimizando as perdas. E vamos agir ritmicamente, com calma, de acordo com o plano originalmente proposto pelo Estado-Maior", disse.

Putin, que era onipresente na televisão russa nos primeiros dias da guerra, havia se afastado em grande parte dos olhos do público desde a retirada da Rússia do norte da Ucrânia e sinais que a invasão não correu como planejado por Moscou, com perdas significativas de material bélico e tropas.

Sua única aparição pública na semana passada havia sido no funeral de um deputado ultranacionalista aliado, ocasião na qual ele não abordou diretamente a guerra.

Na segunda-feira, ele se encontrou com o chanceler federal da Áustria em uma residência rural nos arredores de Moscou, mas nenhuma imagem da reunião foi divulgada.

 

Putin diz que sanções falharam

Putin também afirmou que as sanções do Ocidente impostas a Moscou devido a invasão na Ucrânia não funcionaram, com a economia russa resistindo e o rublo (a moeda russa) se recuperando. Para ele, a inflação e o aumento dos preços dos alimentos e do petróleo em países ocidentais começarão a pressionar os políticos.

Para o presidente russo, as sanções vão sair pela culatra. Como exemplo, ele citou as restrições a fertilizantes da Rússia e de Belarus, que irão aumentar os preços globais do produto, levando à escassez de alimentos e ao aumento dos fluxos migratórios.

Putin disse que "o bom senso deve prevalecer" e acrescentou que o Ocidente deve "voltar à razão e tomar decisões equilibradas". "Eles não serão capazes de fechar todas as portas e janelas", afirmou.

Ele argumentou que as novas restrições ocidentais às exportações de alta tecnologia vão encorajar a Rússia a se mover mais rápido para desenvolver novas tecnologias, abrindo uma "nova janela de oportunidades".

Como parte disso, durante o evento, Putin anunciou que reiniciará o programa lunar. "Estamos falando do lançamento desde o cosmódromo Vostochny do aparato robótico espacial Luna-25", disse o chefe de Estado.

"Precisamos enfrentar com êxito os desafios na exploração espacial, para resolver de maneira mais efetiva as tarefas de desenvolvimento nacional aqui na Terra", completou.

Putin garantiu que a Rússia seguirá trabalhando no desenvolvimento de uma nave cargueira de nova geração, com fontes de energia nuclear.

O Kremlin anunciou no ano passado que adiaria até julho de 2022 o lançamento da nave espacial Luna-25, projeto que estava programado inicialmente para outubro de 2021. A ideia era ter mais tempo para testes adicionais.

A Luna-25 será a primeira nave do novo programa russo e terá como fim investigar a região do polo sul da Lua. Em agosto de 1976, a antecessora do equipamento, a Luna-24, foi a terceira a recuperar amostras da superfície lunar.

 

Conquista da União Soviética como exemplo

Na visita ao leste da Rússia, Putin fez uma analogia entre o primeiro voo espacial de Gagarin, há 61 anos, e o desafio da Rússia hoje em dia.

"As sanções foram totais, o isolamento foi completo, mas a União Soviética ainda foi a primeira no espaço", disse Putin, que tem 69 anos, lembrando sua própria admiração como um estudante aprendendo sobre a conquista.

"Não pretendemos ficar isolados", afirmou o presidente russo. "É impossível isolar severamente qualquer pessoa no mundo moderno, especialmente um país tão vasto como a Rússia", afirmou.

O governo russo há muito cita o sucesso da União Soviética no espaço - pouco mais de uma década após a Segunda Guerra Mundial - como um alerta sobre a capacidade da Rússia de alcançar resultados espetaculares contra todas as probabilidades.

Os primeiros sucessos espaciais russos da Guerra Fria, como o voo de Gagarin e o lançamento em 1957 do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da Terra, têm uma pertinência especial para a Rússia: ambos os eventos surpreenderam os Estados Unidos e foram consideradas vitórias de propaganda da União Soviética.

No entanto, hoje em dia, a economia da Rússia é pequena em comparação com a da superpotência União Soviética - e está bem atrás dos Estados Unidos e da China na maioria das frentes tecnológicas.

No ano passado, a produção econômica nominal da Rússia foi de 1,6 trilhão de dólares - menor que a da Itália e apenas cerca de 7% da economia de 22,9 trilhões de dólares dos EUA.

Além disso, a economia da Rússia está a caminho de uma contração de mais de 10% em 2022, a pior desde os anos que se seguiram à queda da União Soviética em 1991, disse o ex-ministro das Finanças Alexei Kudrin nesta terça-feira.

 

le (EFE, Reuters, AP, AFP, dpa)

dw.com

RÚSSIA - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é constantemente acompanhado por um médico especialista em câncer de tiroide. Esse seria um dos indicativos de que ele estaria fazendo um tratamento oncológico há anos. As informações foram publicadas pelo portal Proekt Media, que atualmente está bloqueado em território russo

A matéria revela que o cirurgião Yevgeny Selivanov, do Hospital Clínico Central de Moscou, visitou Putin 35 vezes em um resort em Sochi, onde fica uma de suas residências.

Segundo o portal, o presidente começou a invasão da Ucrânia enquanto escondia problemas de saúde da população do país. O tratamento de um possível tumor incluiria o uso de esteróides. As revelações ocorrem em meio às especulações sobre a saúde do líder russo.

Putin, que fará 70 anos em outubro, já demonstrou publicamente seu interesse relacionado ao câncer de tiroide. Segundo a reportagem do portal Proekt, em julho de 2020, ele se reuniu com Ivan Dedov, chefe do Centro Nacional de Investigação Médica.

EUA - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou no sábado (26/03) que seu homólogo russo, Vladimir Putin, "não pode permanecer no poder". Foi a primeira vez que Washington pediu uma mudança de governo na Rússia devido à guerra na Ucrânia.

"Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder", disse Biden ao terminar um discurso em Varsóvia, na Polônia, após conversar com refugiados ucranianos.

Ele também disse que a guerra na Ucrânia já se tornou um "fracasso estratégico para a Rússia" e que "o rublo foi reduzido a escombros".

Mais uma vez, o democrata advertiu Putin de que haverá consequências se as tropas russas entrarem dentro do território da Otan. "Nem pense em mover-se um centímetro dentro do território da Otan", alertou.

O governante dos EUA também aproveitou a ocasião para enviar uma mensagem de solidariedade à Ucrânia e disse ao povo russo que "eles não são inimigos" dos EUA e que Putin devolveu seu país "ao século 19".

O presidente dos EUA também disse que não tem certeza se a Rússia mudou sua estratégia na guerra na Ucrânia, depois que o Kremlin anunciou que sua prioridade agora é "libertar" totalmente a região separatista do Donbas, no leste da Ucrânia.

Visita a centro de refugiados

Antes do discurso, ao conversar com repórteres, Biden chamou Putin de "carniceiro", ao ser questionado pela imprensa sobre sua reação ao ver o sofrimento dos refugiados.

Biden visitou o Estádio Nacional de Varsóvia, convertido em um centro de refugiados para acolher algumas das mais de 2,17 milhões de pessoas que fugiram da Ucrânia para a Polônia desde o início da guerra.

Durante a visita, Biden conversou com vários refugiados ucranianos, abraçou uma mulher e pegou uma menina no colo.

Mais tarde, afirmou à imprensa que algumas crianças lhe pediram para orar por seus pais, avós ou irmãos que estão na Ucrânia lutando contra as forças russas.

"Lembro como é ter alguém em uma zona de guerra", disse o presidente americano, referindo-se a seu filho Beau, que morreu em 2015 de câncer no cérebro e que combateu no Iraque.

"Toda manhã você acorda e se pergunta. Você só quer rezar para não receber essa ligação. Este é um grupo maravilhoso de pessoas", acrescentou.

Encontro com o presidente polonês

Também neste sábado, Biden se reuniu com o presidente polonês, Andrzej Duda, e procurou tranquilizar o governo da Polônia sobre o compromisso de Washington com a defesa da Europa Oriental. Ele reiterou que o pacto de defesa mútua da Otan é um "compromisso sagrado" para os Estados Unidos.

"Sua liberdade é nossa", disse Biden. "Estou confiante de que Vladimir Putin estava contando com uma divisão da Otan", acrescentou Biden sobre o presidente russo. "Mas ele não foi capaz de fazer isso. Nós todos ficamos juntos."

EUA - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou na terça-feira (1º) o mandatário russo, Vladimir Putin, de querer "abalar as fundações do mundo livre" com a invasão da Ucrânia, mas ressaltou que "a liberdade sempre vencerá a tirania". "Nós estamos prontos para enfrentar Putin. Nós pegamos os russos com as mentiras."

"Putin achou que iria abalar as próprias fundações do mundo livre, pensando que poderia fazê-lo se curvar aos seus caminhos ameaçadores, mas ele teve um erro de cálculo, ele deparou com o povo ucraniano", disse Biden.

A declaração abriu o primeiro discurso de Biden sobre o Estado da União, perante as duas câmaras do Congresso dos EUA. Nesse discurso o presidente deve relatar as condições nas quais os Estados Unidos se encontram em todos os sentidos: economia, saúde, educação, militarismo, impostos e segurança.

Biden disse que Putin "não tem ideia do que está vindo". "O mercado da Rússia já caiu 40%, a economia da Rússia está caindo", declarou. "Juntos com as nossas alianças estamos prestando suporte à Ucrânia. Já gastamos mais de US$ 1 bilhão para ajudar a Ucrânia."

No discurso, Biden anunciou novas sanções contra a Rússia, como o fechamento do espaço aéreo norte-americano às companhias aéreas russas, e disse que os Estados Unidos vão proteger todos os países-membros da  Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que ficam próximos à Rússia. No entanto, o Exército dos Estados Unidos não vão lutar na Ucrânia contra o Exército da Rússia.

"Nossas forças não vão à Europa para lutar na Ucrânia, mas para defender nossos aliados da Otan caso (Vladimir) Putin decida seguir para o oeste", disse Biden. "Estamos dispostos a proteger todo o resto da Europa, vamos defender todo o território da Otan com toda a nossa força."

Biden anunciou a decisão de fechar o espaço aéreo do país às companhias aéreas da Rússia, o que também foi feito pela União Europeia (UE) e pelo Canadá. "Nesta noite, anuncio que nos uniremos aos nossos aliados e fecharemos o espaço aéreo americano a todos os voos russos, para isolar ainda mais a Rússia".

"Continuamos prontos para fazer o que for necessário. Putin só se deixou mais fraco e o resto do mundo mais forte. O mundo escolheu a paz e a segurança. Vai levar tempo."

O presidente dos Estados Unidos disse que o país perseguirá os crimes de oligarcas russos, e que o Departamento de Justiça americano está formando um grupo de trabalho para essa finalidade. "Estamos nos unindo aos nossos aliados europeus para encontrar e apreender iates, apartamentos de luxo e aviões particulares deles", anunciou Biden.

 

 

R7

RÚSSIA - O Parlamento russo concedeu na terça-feira (22/02) ao presidente Vladimir Putin a permissão para enviar forças militares para cumprir "missões de paz” em Donetsk e Lugansk, as duas "repúblicas” separatistas no leste da Ucrânia, formalmente reconhecidas pelo líder russo no dia anterior.

A votação dá luz verde à mobilização das Forças Armadas para as duas regiões. Ao todo, Moscou já enviou mais de 150 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia. Iniciado há oito anos, o conflito entre separatistas e forças de defesa ucranianas já fez mais de 14 mil vítimas.

A decisão do Conselho da Federação, a câmara alta do Parlamento russo, deve acirrar ainda mais as tensões entre Moscou e o Ocidente. As ações de Putin em relação à Ucrânia geraram uma enxurrada de críticas internacionais e destravaram novas sanções contra a Rússia.

Segundo parlamentares, a permissão para o envio de tropas ao exterior passa a valer imediatamente: "Ao aprovarmos o emprego das Forças Armadas no exterior, presumimos que elas serão forças de paz, voltadas para a manutenção da paz e estabilidade nas [autoproclamadas] repúblicas”, afirmou a líder do Conselho da Federação, Valentina Matvienko.

 

Acordos de amizade

Enquanto os parlamentares discutiam a medida, o Kremlin anunciava que Putin ratificou acordos de amizade entre Moscou e as regiões separatistas, que permitirão a construção de bases militares e o estabelecimento de uma postura comum de defesa, além de reforçar a integração econômica.

Vários líderes europeus já denunciaram a mobilização de soldados russos para as regiões separatistas, logo após Putin reconhecer a independência das duas "repúblicas”. Entretanto, não está clara ainda a dimensão desses contingentes.

Há muito a Ucrânia e o Ocidente vêm denunciando a participação de soldados russos no conflito no leste do país, o que Moscou ainda nega. Apesar de os temores terem sido exacerbados com as medidas tomadas pelo governo russo nas últimas horas, o Kremlin ainda desmente que tenha intenção de invadir a Ucrânia.

 

 

rc/av (AP, Reuters)

DW.COM

MOSCOU - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na sexta-feira que o país precisa trabalhar para aumentar sua soberania econômica e que o Ocidente sempre encontrará um pretexto para impor sanções a Moscou.

O Ocidente ameaçou a Rússia com grandes sanções caso invada a Ucrânia, depois que o Kremlin reuniu forças perto de sua vizinha, uma ex-república soviética. Moscou nega planejar uma invasão.

MOSCOU - O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu as conversas desta segunda-feira no Kremlin com o presidente francês, Emmanuel Macron, como úteis, substanciais e comerciais, e disse que algumas das ideias de Macron podem servir de base para outros passos conjuntos.

O líder francês viajou a Moscou para conversas em meio a um impasse sobre uma escalada militar russa perto da Ucrânia e uma campanha do Kremlin por "garantias" de segurança de Washington que inclui a interrupção da expansão da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Em uma entrevista coletiva conjunta após as negociações, Putin disse que várias ideias de Macron sobre segurança são realistas e que os dois conversariam novamente assim que Macron viajasse para Kiev para se encontrar com a liderança da Ucrânia.

"Várias de suas ideias, propostas, que provavelmente ainda são muito cedo para falar, acho que é bem possível formar a base de nossos próximos passos conjuntos", disse ele.

"Acordamos que, após sua viagem à capital ucraniana, voltaremos a nos ligar e trocar opiniões sobre este assunto", declarou ele.

A Rússia reuniu mais de 100.000 soldados perto da Ucrânia, provocando temores de que Moscou possa estar planejando invadir. A Rússia tem descartado esses temores.

 

 

 

Reportagem de Vladimir Soldatkin, Andrew Osborn, Darya Korsunskaya / REUTERS

SÃO PAULO/SP - Os líderes da China e da Rússia formalizaram na sexta (4) uma aliança que vinha ganhando corpo nos últimos anos contra as políticas ocidentais personificadas na agenda dos Estados Unidos, apontada como "abordagem ideologizada da Guerra Fria".

Assim, Xi Jinping e Vladimir Putin concordaram em um comunicado em denunciar a expansão da Otan (aliança militar ocidental) que está no cerne da grave crise em curso na Ucrânia e também os pactos militares americanos na região do Indo-Pacífico.

Esses são os exemplos mais vistosos, mas não únicos, do texto de 5.300 palavras em russo divulgado pelo Kremlin, do que ambos os líderes chamaram de "amizade sem limites" entre Pequim e Moscou. Algo "sem precedentes", na voz de Putin.

Vistosos por exemplificar os principais problemas estratégicos afetando, respectivamente, o maior país do mundo que formava o centro da União Soviética e a segunda maior economia do mundo, uma ditadura comunista adepta da economia de mercado.

"As partes se opõem a expansão adicional da Otan e pede para que a aliança abandone a abordagem ideologizada da Guerra Fria", diz o texto. Putin tem cerca de 130 mil homens mobilizados em torno das fronteiras ucranianas, um movimento que inicialmente parecia visar resolver o status do conflito no leste do país entre rebeldes pró-Rússia e Kiev.

A questão virou algo maior: a definição de uma paz europeia em termos aceitáveis para o Kremlin, o que não inclui a Ucrânia como parte da Otan e mesmo a presença de armas ofensivas em membros do Leste Europeu do clube. EUA e aliança rejeitaram o ultimato, e o impasse prossegue.

No entorno chinês, a Guerra Fria 2.0 movida em reação à maior assertividade de Xi já causou conflitos diversos com os EUA: guerra comercial e tarifária, disputa sobre a autonomia de Hong Kong, provocações nas rotas marinhas que Pequim considera suas e a ameaça da China de tomar Taiwan.

"As partes se opõem à formação de estruturas de blocos fechados e campos opostos na região da Ásia-Pacífico, e permanecem altamente vigilantes sobre o impacto negativo da estratégia americana no Indo-Pacífico para a estabilidade e paz na região", diz o texto.

No ano passado, o governo de Joe Biden formalizou um pacto militar com Austrália e Reino Unido e reavivou a aliança Quad (com australianos, japoneses e indianos) contra a China.

Se alguém tinha dúvida acerca do afinamento entre Xi e Putin, os líderes resolveram desenhar suas intenções. Elas incluem esforços conjuntos contra "revoluções coloridas", o nome genérico e de assimilação midiática fácil àquilo que Moscou chama de golpes para derrubar governos pró-Kremlin na antiga periferia soviética.

Elas ocorreram em locais como Ucrânia e Geórgia, e não acabaram bem de todo modo. A China acusa os EUA exatamente da mesma coisa ao patrocinar os movimentos pró-democracia de Hong Kong, que foram esmagados com mão de ferro após a revolta de 2019, e o governo taiwanês --na ilha que Xi chama de sua, incursões aéreas com aviões militares chineses são eventos semanais.

O encontro de Xi e Putin ocorreu antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, evento que foi boicotado diplomaticamente pelo Ocidente. Pouco mais de 20 líderes participarão da abertura, mas o russo é a estrela.

Com isso, o governo fortemente autocrático russo e a ditadura chinesa dão as mãos oficialmente. Não há menção no documento a aspectos práticos já em curso, como a crescente cooperação militar entre as potências e os grandes projetos de energia.

Eles são a chave e também o limite da associação. Do ponto de vista militar, Rússia e China são rivais históricos, e seria surpreendente se chegassem a uma aliança formal, integral, como por exemplo a que existe entre Moscou e a ditadura de Belarus.

Economicamente, a deferência política de Xi a Putin embute o risco percebido em Moscou de que a Rússia pode se tornar uma província energética da China, ofertando gás natural barato por meio de um projeto de US$ 400 bilhões chamado Força da Sibéria --o segundo gasoduto da rede deve ser anunciado logo.

Para o russo, contudo, é uma saída única. Se a pressão americana sobre países como a Alemanha, que está adiando a abertura de um novo gasoduto a ligando diretamente à Rússia, ou uma ruptura devido a uma guerra na Ucrânia ocorrerem, o mercado europeu pode se fechar ao gás de Putin.

A China, cujo consumo anual do produto deve ultrapassar o de toda a Europa até o fim da década, pode oferecer uma linha vital para a sobrevivência desse pedaço central da economia russa, que de resto tem enfrentado bem as sanções ocidentais que se abatem sobre ela desde que Putin anexou a Crimeia, em 2014.

Naquele ano, um arremedo de "revolução colorida", mais violento e menos romântico que as versões dos anos 2000, derrubou o governo pró-Kremlin de Kiev. A anexação e o fomento à guerra civil no leste ucraniano foram as respostas imediatas de Moscou, que depois participou de um cessar-fogo frágil que agora Putin quer ver implementado como plano de paz.

O encontro de ambos foi altamente coreografado e, apesar de ambos os líderes serem conhecidos pelos cuidados extremos para não contrair Covid-19, não houve máscaras ou distanciamento. É a primeira reunião deles desde a pandemia, e a 38ª desde que Xi assumiu, em 2012 --Putin está no poder desde 9 de agosto de 1999, quando virou premiê pela primeira vez.

No texto divulgado, um trecho atribuído a Xi resume diversos discursos feitos pelo chinês nos últimos anos, no qual ele discorre sobre sua visão particular de democracia. "Estamos trabalhando juntos para trazer à vida o verdadeiro multilateralismo. Defendendo o real espírito da democracia serve como uma fundação confiável para unir o mundo nas próximas crises, e defendendo a igualdade".

A visão, contraditória a olhos ocidentais por ser feita pelo líder de uma ditadura, é compartilhada por Putin. Ambos denunciam a defesa de valores democráticos feita pelos EUA como hipócrita, já que há exemplos de sobra (Iraque, Afeganistão etc.) de que ela pode ser forçada por meios militares, gerando desastres.

A principal diferença entre ambos até aqui é a abordagem externa. Xi se vale de instrumentos econômicos, enquanto Putin não hesita em flexionar musculatura militar: nos últimos anos, suas tropas estiveram em guerras ou intervenções em locais como Geórgia, Ucrânia, Síria, Líbia, Azerbaijão e Cazaquistão. Moscou ainda tem um arsenal nuclear rival ao americano, enquanto a China prepara uma expansão no campo.

Do lado ocidental, o exemplo cotidiano da repressão nos dois rivais é suficiente para fazer a acusação de hipocrisia no sentido contrário. A Guerra Fria 2.0, o embate China-EUA que define geopoliticamente o século 21, parece ter acabado de ganhar um terceiro participante oficialmente, vindo da primeira encarnação do conflito.

 

 

 IGOR GIELOW / FOLHA

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, previu nesta quarta-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, fará um movimento militar na Ucrânia, mas disse que uma invasão em grande escala desencadearia uma resposta massiva que custaria caro para a Rússia e sua economia.

"Meu palpite é que ele vai avançar", disse Biden em entrevista coletiva. "Ele tem que fazer alguma coisa."

Biden indicou que a resposta dos EUA e do Ocidente poderia ser calibrada dependendo do que a Rússia fizer em meio às preocupações norte-americanas de que um ataque à Ucrânia possa ser lançado em dias ou semanas.

"A Rússia será responsabilizada se invadir --e depende do que fizer. Uma coisa é se for uma pequena incursão e acabarmos tendo que brigar sobre o que fazer e o que não fazer, etc", disse Biden.

"Mas se eles realmente fizerem o que são capazes de fazer... será um desastre para a Rússia se eles invadirem ainda mais a Ucrânia", acrescentou Biden.

Biden e sua equipe prepararam um amplo conjunto de sanções e outras penalidades econômicas a serem impostas à Rússia no caso de uma invasão.

SÃO PAULO/SP - O país mais conhecido no Ocidente como sendo a terra de Borat, o repórter ficcional criado pelo humorista britânico Sacha Baron Cohen, vive uma convulsão violenta e inédita que ameaça a estabilidade da Ásia Central e abre uma nova frente de crise para o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Na quarta (5), manifestantes atacaram prédios públicos e protestaram nas principais cidades do Cazaquistão, incluindo a maior delas, Almati, e a capital, Nursultan (antiga Astana). A residência oficial do presidente do país, Kassim-Jomar Tokaiev, foi invadida e, depois, desocupada. Relatos falam em ao menos oito mortos e centenas de feridos no país.

O país está em estado de emergência, e Tokaiev foi à TV anunciar que pediu assistência militar à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderada pela Rússia. O movimento abre uma segunda frente de problema para Putin, às vésperas da negociação acerca da crise na Ucrânia, mas também a oportunidade de ampliar seu poder nas antigas periferias soviéticas se solucionar a questão rapidamente.

O governo cazaque caiu, e o premiê renunciou com seu gabinete. Tokaiev anunciou em um pronunciamento anterior que pretende "agir da forma mais dura possível" e mandou cortar a internet e a telefonia celular no país, jogando a nação num limbo virtual.

A queixa nas ruas é contra o preço dos combustíveis, mas a onda de protestos saiu de controle o famoso "não são só R$ 0,20" dos atos de julho de 2013 no Brasil. Não há notícia ainda sobre quem são suas lideranças, o que aumenta especulações conspiratórias ao gosto do cliente: seria uma ação estrangeira contra Putin ou russa para fortalecê-lo?

O governo confirmou que manifestantes, a quem obviamente já chama de terroristas, tomaram o aeroporto de Almati e cinco aviões que lá estavam estacionados, inclusive de companhias estrangeiras não identificadas. A cidade reportou ao menos 200 presos e 190 feridos.

Os atos começaram no domingo (2), na região de Mangistau, onde o GLP (gás liquefeito de petróleo) é o principal combustível de veículos. Na terça (4), eles se alastraram para a maior cidade, Almati, e por todas as áreas do país batendo em Nursultan.

O estopim foi a decisão do governo de liberar os preços do GLP no começo do ano, pegando no contrapé os motoristas que haviam convertido seus carros para rodar com o combustível devido a seu baixo custo em relação à gasolina e ao diesel.

Agora, Tokaiev disse que reverterá a medida, embora pareça tarde. Aí que o problema transborda as fronteiras do país, que com um território equivalente a um terço do brasileiro domina a Ásia Central.

A primeira mesa em que o abacaxi é depositado é a de Putin. O presidente russo, às voltas com a grave crise na qual posicionou tropas para pressionar a Otan a aceitar um acordo que impeça a adesão da Ucrânia ao clube militar ocidental, vê o aliado em apuros.

Não faltam aliados do russo a apontar uma trama do Ocidente para abrir um diversionismo no momento em que está em posição de força na Europa. Paranoia à parte, na prática é isso que Putin enfrentará, mas, se repetir o que fez recentemente, pode até auferir ganhos.

Em 2020, ele foi ao socorro do governo aliado de outra nação ex-soviética da região, o remoto Quirguistão, que enfrentou protestos. Fez o mesmo em relação à mais importante Belarus, na prática subordinando a ditadura de Aleksandr Lukachenko a seu comando político, e mediou um frágil acordo de paz que encerrou a guerra entre Armênia e Azerbaijão.

Por fim, enfrentou um governo pró-Ocidente na Moldova, onde tem interesses e tropas em um território autônomo vizinho, a Transnístria.

Olhando no mapa, todos esses são pontos de transição entre fronteiras russas e os adversários, que antes eram parte do controle de Moscou, seja sob os czares, seja sob o Partido Comunista. Isso explica a obsessão de Putin em manter a estabilidade e a influência nesses locais, perdidos com a desintegração soviética de 1991.

O Kremlin se manifestou, dizendo que espera uma resolução rápida da crise por Tokaiev. O autocrata é um aliado recente e visto como marionete do ditador Nursultan Nazarbaiev, que comandou o Cazaquistão por quase 30 anos.

Em 2019, desgastado por protestos de rua, o ditador passou o cargo para o protegido, mas manteve um posto de "pai da nação" e chefe do influente Conselho de Segurança. Com 81 anos, ainda não falou na crise e foi substituído por Tokaiev no conselho nesta quarta, o que sugere perda de poderes.

Sua sucessão foi vista inclusive como um modelo para Putin quando o russo decidiu mudar a Constituição em 2020, mas ele preferiu deixar em aberto a possibilidade de concorrer a mandatos que podem durar até 2036.

A relação de Putin com a nação centro-asiática de 19 milhões de habitantes, contudo, não é de todo rósea. Em 2014, o presidente sugeriu que o país existia por um "presente do povo russo". Moscou tem no país sua principal base de lançamento de foguetes espaciais, em Baikonur.

E há a questão chinesa. O gigante a leste é a maior potência econômica regional, e fez movimentos de expansão rumo ao Cazaquistão que desagradaram ao Kremlin, integrando o país ao seu projeto de integração de infraestrutura Iniciativa Cinturão e Rota.

De seu lado, Nursultan aproveitou essa disputa para tentar manter uma posição de relativa independência, equilibrando-se entre ambas as potências e ainda cortejando os Estados Unidos, rivais de ambas.

Empresas americanas são líderes entre estrangeiros na exploração do subsolo rico em petróleo e gás do país, responsáveis por 30% da extração em 2019 —ante 17% de firmas chinesas e só 3%, de russas. Desde 2003, para desgosto do Kremlin, o país faz exercícios militares anuais não só com Moscou, mas com a Otan.

Apesar disso, o fluxo de comércio com os americanos ainda é incomparável, dez vezes menor do que os cerca de US$ 19 bilhões registrados entre os cazaques e a Rússia e os US$ 21 bilhões com a China.

Sob a ótica chinesa, a instabilidade é indesejada por outro motivo. O Cazaquistão faz fronteira a leste com a região de maioria muçulmana de Xinjiang, onde os chineses são acusados de genocídio pelos EUA.

Aqui, o jogo diplomático fica evidente. O governo cazaque não aceita as acusações ocidentais, mas também não assina cartas de apoio à China como faz a Rússia. Com efeito, Nursultan é crítica das sanções americanas e europeias contra Putin pela anexação da Crimeia em 2014, mas não reconhece o território como russo.

"Tokaiev é a encarnação desse curso de ação: ele é um sinólogo que estudou no prestigioso MGIMO [o Instituto Rio Branco da Rússia] e forjou sua carreira diplomática na ONU", escreveu o analista uzbeque Temur Umarov, analista do Centro Carnegie de Moscou.

Como em todas as crises no antigo espaço soviético, haverá fatores de influência externa sendo ponderados por Moscou. Mas também a realidade: a inflação está em 9%, a maior em cinco anos, e os juros subiram recentemente a 9,75%. E a internet aumentou o drible à imprensa estatal, elevando a comunicação entre jovens ativistas.

Para o resto do mundo, a instabilidade poderá ter algum efeito na já complexa composição dos preços de petróleo (o país tem a 15ª reserva do planeta) e do gás (12ª reserva), mas a implicação principal agora é geopolítica.

Com a atabalhoada retirada americana do Afeganistão, no ano passado, a Ásia Central vive incerteza com o influxo eventual de radicais islâmicos pela região.

Mesmo antes do pedido de Tokaiev, nem Putin, nem Xi, ora em franca aproximação para enfrentar o Ocidente, deixariam a situação explodir em Nursultan. Em 2021, eles já operaram em torno da crise afegã que viu a volta do Talibã ao poder.

Até por ser um antigo quintal de Moscou, caberá agora ao russo resolver o problema e tentar tirar o máximo de proveito da situação. Dificilmente a neutralidade presumida por Nursultan sobreviverá à crise.

 

 

IGOR GIELOW / FOLHA

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