SÃO CARLOS/SP - Um grupo de pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em colaboração com o Departamento de Engenharia Biomédica da Texas A&M University (EUA) e do Departamento de Química da Universidade de Coimbra (Portugal), está desenvolvendo um tratamento inovador contra a pneumonia causada por bactérias resistentes a antibióticos – um dos maiores problemas atuais da saúde mundial.
A doença é grave, atendendo a que só em 2021 a pneumonia foi responsável por mais de dois milhões de mortes no mundo. Entre os agentes mais perigosos está a bactéria Klebsiella pneumoniae, comum em hospitais e que pode causar infecções difíceis de tratar, já que muitos antibióticos não fazem mais efeito contra ela.
Como funciona o tratamento
O método estudado é conhecido como terapia fotodinâmica (TFD), que pode ser explicada de forma muito simples. Primeiro, aplica-se um corante especial no organismo, seguindo-se a aplicação de uma luz sobre a região infectada. A combinação faz com que o corante libere partículas capazes de destruir as bactérias sem prejudicar as células humanas.
Nos testes em laboratório, a técnica conseguiu eliminar totalmente a bactéria. Mas havia um problema: dentro dos pulmões existe uma camada natural chamada “surfactante pulmonar”, que protege os alvéolos durante a respiração. Essa camada acabava “aprisionando” o corante e diminuindo a eficácia do tratamento.
Para superar esse desafio, os cientistas combinaram o corante com uma substância chamada Gantrez, um tipo de polímero seguro para uso médico, que funciona como um “carregador”, ajudando o corante a atravessar a barreira natural dos pulmões e a alcançar as bactérias.
Com essa combinação, o número de microrganismos foi reduzido em milhares de vezes, mesmo na presença da barreira pulmonar. Ou seja, a técnica mostrou que pode funcionar também em condições mais próximas da realidade do corpo humano.
A pesquisadora do IFSC/USP, Drª Fernanda Alves, que está desenvolvendo esses estudos no Texas A&M University (EUA), e que é a primeira autora do artigo científico publicado recentemente na revista científica internacional “Pathogens”, salienta que a cada quinze segundos, aproximadamente, uma pessoa morre de pneumonia no mundo. “Isso acontece, principalmente, porque os antibióticos já não são eficazes contra muitas bactérias super-resistentes. Nesse cenário, a terapia fotodinâmica surge como uma alternativa promissora no combate às infecções. Cada passo para torná-la clinicamente aplicável traz novos desafios. O mais recente foi vencer a barreira natural dos pulmões: o surfactante. Com a adição do Gantrez ao tratamento, conseguimos resultados muito animadores, que nos deixam esperançosos para as próximas etapas — primeiro em modelos animais e, depois, em estudos clínicos. Esses avanços mostram que ainda temos motivos para acreditar na vitória contra os microrganismos resistentes”, destaca a cientista.
Impacto para os pacientes
Embora os testes ainda estejam na fase de laboratório, os resultados trazem esperança. Se confirmada em estudos com animais e, depois, com pacientes, a terapia poderá se tornar uma alternativa aos antibióticos em casos de pneumonias graves e resistentes.
Segundo os autores do estudo, esse é um passo importante no combate às chamadas “superbactérias”, que já representam uma das maiores ameaças à saúde pública no século XXI.
Assinam este estudo os pesquisadores: Fernanda Alves - 1ª autora (IFSC/USP - Texas A&M University); Isabelle Almeida de Lima (IFSC/USP - Texas A&M University); Lorraine Gabriele Fiuza (IFSC/USP - Texas A&M University); Zoe Arnaut (Universidade de Coimbra); Natalia Mayumi Inada (IFSC/USP - Texas A&M University) e Prof. Vanderlei Salvador Bagnato (IFSC/USP - Texas A&M University).
Confira o artigo no link - https://www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/wp-content/uploads/2025/08/pathogens-14-00618.pdf