Idosa de 99 anos voltou para casa sem nenhuma sequela devido ao rápido atendimento oferecido no hospital.
SÃO CARLOS/SP - A pouco menos de seis meses de completar 100 anos, a são-carlense Rosa Trufino levou um grande susto no último dia 26 de março, quando teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico. Ela fará cem anos no dia 20 de novembro.
Enquanto tomava café com leite na clínica onde mora, no Jardim Paraíso, começou a apresentar os sintomas. O técnico em enfermagem Samuel Ferreira da Silva percebeu e rapidamente acionou o socorro.
Rosa foi levada para a Santa Casa, onde foi atendida pela equipe de Neurologia. “Como ela chegou bastante rápido ao hospital, nós conseguimos oferecer a medicação, o trombolítico, que recanalizou o vaso sanguíneo e fez o fluxo sanguíneo voltar”, afirmou o neurologista e Coordenador do Serviço de Neurologia da Santa Casa, Dr. Vitor Pugliesi.
Ainda segundo o especialista, o medicamento trombolítico só pode ser usado em casos de AVC isquêmico, quando ocorre o entupimento de uma artéria cerebral, e deve ser administrado no período de até quatro horas e meia desde o diagnóstico do AVC.
Por conta disso, o atendimento rápido recebido por Rosa foi fundamental para o sucesso do tratamento. “É bem provável que ela teria voltado para as atividades dela com bastante sequelas. Poderia ter ficado acamada e dependente de outras pessoas para os cuidados básicos no dia a dia”, explicou o Dr. Vitor Pugliesi.
Por conviver com outros idosos que tiveram sequelas em virtude do AVC, Rosa conta ter sentido medo de não retomar as atividades: “Eu fiquei com medo, quem não fica? Está tudo normal, graças a Deus, a cabeça, tudo, nada mudou”.
ATENDIMENTO DE EXCELÊNCIA
De acordo com o Coordenador do Serviço de Neurologia, o hospital recebeu, em fevereiro, uma placa do Projeto Angels em reconhecimento ao trabalho realizado para a diminuição do tempo de atendimento de pacientes.
Atualmente, a Santa Casa conta com parâmetros melhores que os internacionais. “Se preconiza que, da chegada ao hospital até receber a medicação, o chamado tempo ‘porta-agulha’, teria que levar até 60 minutos, ou seja, uma hora. Na Santa Casa, o paciente recebe a medicação em 20 minutos, em média. E isso é muito bom, porque quanto mais tempo sem a medicação, mais tecido neurológico é afetado”, afirmou o Dr. Vitor Pugliesi.
O Projeto Angels está presente em mais de 150 hospitais no Brasil e mais de 2.800 hospitais no mundo, tendo como objetivo aumentar o número de centros capacitados para o atendimento do AVC.
UNIDADE DE AVC
Dr. Vitor Pugliesi explica que o objetivo é criar um espaço especializado dentro da Santa Casa, denominado de Unidade de AVC, para tratar apenas pacientes neurológicos. Hoje os casos mais graves ficam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e depois recebem alta para a enfermaria, onde iniciam a reabilitação.
Uma unidade especializada pode melhorar e muito o desfecho desses pacientes, que receberão atenção especial. “A ideia é que a gente tenha pelo menos seis leitos monitorizados e especializados no cuidado ao AVC. Isso vai fazer com que a gente consiga ofertar um conjunto de insumos em saúde: fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem especializada. Tudo isso vai melhorar ainda mais a qualidade do atendimento para esses pacientes”, concluiu.
Neurocientista e neuropsicólogo Fabiano de Abreu detalha como funciona o organismo do jornalista, profissão entre as mais perigosas para a saúde
SÃO PAULO/SP - Cada vez mais os jornalistas estão sofrendo os efeitos de uma vida de estresse, esta que está entre as profissões com maior número de casos de excesso de ansiedade e estresse. Um dos graves riscos de profissionais como os jornalistas é o AVC, acidente vascular cerebral. A última vítima foi o apresentador do “Fala Rondônia” da Rede TV!, Marcelo Bennesby de 53 anos que passou por cirurgia e encontra-se em coma induzido. Ano passado o comunicador da Rede Pampa Marne Barcelos de 55 anos, Laerte Fernandes fundador do Jornal A Tarde com 83 anos e Newton Zarani do Jornal dos Sports com 93 anos, esses três faleceram. Em Portugal ano passado Jorge Vilas do Jornal de Notícias com 77 anos também morreu.
Todos esses nomes, são alguns dos jornalistas que sofreram AVC, mas há outros nomes para uma lista mais extensa. Doutor em Ciências da Saúde com ênfase em neurociência e psicologia e também Jornalista Fabiano de Abreu mostra como esta situação está se tornando cada vez mais comum para os profissionais da comunicação.
O neurocientista sempre é convidado por Bennesby para ser entrevistado em seu programa dando dicas de saúde criando assim um vínculo de amizade. Recentemente ele já havia avisado o apresentador sobre os riscos para sua saúde, já que ele estava com a ansiedade em um nível muito alto.
Buscando ajudar e precaver jornalistas aos riscos da saúde, já que é uma das profissões com maior nível de ansiedade e estresse, Abreu lembra que “há uma sobrecarga muito grande para atender a alta demanda, estar a par dos acontecimentos, conseguir o furo de notícia, entregar resultados em que a cobrança está não só na audiência, mas também nas conclusões. Eu digo que no jornalismo é bem parecido com bolsa de valores na dinâmica, a diferença é que não há tantos gritos”.
Porém, atualmente, existem dois fatores cruciais para serem observados, reforça o neurocientista: “Um deles é a ansiedade muito alta de um jornalista, todos, e quanto maior for o jornal, maior a demanda e a ansiedade. O jornalista usa a ansiedade para um melhor desempenho, até porque no jornalismo tem que ter criatividade e a ansiedade ajuda no processo criativo. Mas o problema é que, com a pandemia, não só a demanda aumentou, como também a atmosfera não é favorável”.
Já o segundo está relacionado à pandemia: “Não podemos ser negacionistas a uma realidade nesta pandemia, independente do que acredita ou não, qualquer doença mortal, qualquer alteração de rotina em nossas vidas, temos alterações em nossos mensageiros químicos no cérebro que controlam nossa vida”, detalha Fabiano de Abreu.
Do ponto de vista científico, Abreu explica como cada meta conquistada, seja um like no Instagram, uma notícia com audiência, um furo de reportagem, uma promoção, qualquer conquista, afeta o cérebro do profissional da comunicação. “Nessas situações é liberada a dopamina, conhecida como o hormônio da recompensa. Ela é viciante e queremos sempre liberar mais. Isso faz parte do nosso instinto, se não existisse, não teríamos vontade de conquistar. O problema é que a usamos de maneira diferente do processo evolutivo. É aí que entra a ansiedade, sem ela, não teríamos a pulsão para buscar a conquista”, destaca.
De que maneira a ansiedade pode levar ao AVC
Diante de tanta ansiedade, a situação se torna preocupante, reforça Fabiano: “Doenças, o risco de vida, o receio econômico, por exemplo. Tudo isso faz ativar outro instinto de sobrevivência, aquele no sistema límbico das emoções, a amígdala cerebral onde estão armazenadas memórias negativas como traumas, medos, etc. Isso é necessário ou não teríamos a imagem para saber se aquilo é perigoso ou não. O problema é que nosso cérebro não distingue o ataque do leão com o medo de perder o emprego, na verdade apenas varia a potência do problema de acordo com a personalidade e são fatores que aumentam o nível de ansiedade”, explica.
Para piorar, em um período tão atípico como este da pandemia, pode trazer mais problemas para a saúde: “Esta fase que estamos vivendo está elevando a ansiedade, o que ativa nosso 'modo de sobrevivência' buscando memórias da amígdala levando-as ao lobo pré-frontal da consciência. Quando não resolvemos, até porque não podemos matar o vírus e nem resolver a economia ou nos tranquilizar no emprego, esta ansiedade não vai cessar, já que a pendência ainda existe trazendo mais ansiedade, elevando a sua potência e levando ao estresse”, salienta.
Logo, Abreu ressalta: “Com a ansiedade elevada assim como o estresse, alteram-se níveis de cortisol, hormônio que controla a nossa imunidade e que é ativado pelo estresse e/ou ansiedade com a função de eliminá-los. Sua função é ajudar a reduzir a inflamação do corpo, mas quando constante, tornam-se resistentes ao próprio cortisol comprometendo o sistema imunitário tornando-o menos eficaz contra agentes externos, podendo causar fadiga e doenças devido a baixa imunidade. Ele age no controle dos leucócitos (glóbulos brancos), células do sistema imunológico e com a ansiedade constante e o estresse há um aumento na sua produção. Os glóbulos brancos quando produzidos em excesso podem se acumular nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e favorecendo a formação de coágulos, elevando o risco de doenças cardiovasculares, entre eles o AVC”, define o neurocientista.
Além de tudo isso, ele deixa um alerta: “O jornalismo é uma das profissões com maiores chances de desenvolver a Síndrome de Burnout, uma condição de estafa mental ligada ao estresse que pode colocar em risco a vida do profissional”.
Números altos são preocupantes
Razões para tamanha preocupação não faltam. Dados do Ministério da Saúde mostram que o AVC é a segunda principal causa de morte no Brasil. No Brasil morrem anualmente 100 mil pessoas devido a esta doença. Outro motivo de alerta é que este mal é a principal causa de incapacidade no país.
E se não for tratado a tempo, a pessoa pode ter surpresas desagradáveis: “Uma em cada quatro pessoas que sofreu um AVC terá outro, por isso é importante investigar as causas do primeiro e prevenir o segundo que, em geral, traz consequências mais graves”.
Vale lembrar a importância de estar atento aos sinais de ocorrência de um AVC. Caso sinta algum deles, busque atendimento médico o mais rápido possível:
– Formigamento, diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo;
– Perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos;
– Alteração aguda da fala, apresentando dificuldade para articular as palavras;
– Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente; e
– Alteração do equilíbrio, vertigem súbita e intensa, tontura que leva a náuseas ou vômitos e alteração no andar.
Como tratar
Vale lembrar que a principal causa evitável do AVC é a hipertensão, “pois o aumento da pressão dificulta a passagem de sangue pelas artérias”, lembra Fabiano de Abreu. Já o tratamento do AVC, ele ressalta, “baseia-se na desobstrução do vaso cerebral ocluído, normalizando a circulação cerebral, com o uso de medicamento trombolítico. Geralmente, os cuidados pós AVC envolvem uma equipe multidisciplinar com médico, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, entre outros”.
Por isso, o conselho de Fabiano de Abreu é bem claro: “Cuide da sua qualidade de vida, não deixe que a ansiedade te traga prejuízos como esse. Saiba se organizar diante dos desafios que aparecerem e mantenha a saúde em dia. Cada vez mais as pessoas estão sendo vítimas do estresse, e por isso toda forma de se prevenir é bem vinda para que você não seja mais uma vítima de um AVC”, completa.
Segue um passo a passo descrito por Fabiano de Abreu para os jornalistas
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